sábado, 29 de abril de 2017

José Gilberto Gaspar


1
A fraqueza dele é tanta,
tão aguda e tão profunda,
que começa na garganta
e responde na “cacunda”.
2
Ah! Meu pai! Sua lembrança
me traz-e não sei por que-
da existência, uma esperança
de um dia eu ser mais você.
3
A paciência que não tive
de aguardar o teu regresso
é o grande amor que hoje vive
no perdão que agora eu peço.
4
Às vezes tem influência ..
A terra agradece e sente
o jeito, a mão e a sequência
de quem atira a semente.
5
A tristeza mais sentida
que se pode imaginar,
é saber tanto da vida
e não ter com quem falar.
6
Como aprendiz de poeta
demorei, mas descobri
que a alegria é mais completa
quando a alma é que sorri!
7
Com sorriso se conquista,
um sorriso compra tudo;
Até mesmo a balconista
vende algodão por veludo!
8
É negócio tão sem graça,
que é melhor mudar de assunto,
pois velório sem cachaça
é velório sem defunto!
9
Esta saudade, que é minha
misteriosa serpente,
morde e assopra quietinha,
que a gente sofre e não sente.
10
Eu vi queimar os encantos
dos sonhos deste menino
e transformá-los em prantos
na fornalha do destino.
11
Foi grande a nossa tristeza...
saber teu solo alagado...
Quando a própria natureza
não soube dar o recado.
12
Minha Mãe. Minha Alegria.
Meu Amor. Minha Santinha.
Deu-me tudo o que eu queria,
mas levou tudo o que eu tinha...
13
Navegando nas Poesias
minha vida se renova.
Entre tantas alegrias,
na profundeza da trova.
14
O amor chega de mansinho
no coração de quem ama.
Ajeita-se, faz seu ninho
e o destino acende a chama.
15
Ó meu livro de poesia,
eu não sei qual é teu fim,
mas te entrego, a cada dia,
um pedacinho de mim.
16
O murmúrio de palavras,
ditas bem ao pé do ouvido,
tira trancas, tira travas,
muda as coisas de sentido!
17
Para a grande professora
toda a nossa gratidão,
por ser ela a defensora
de uma luz na escuridão
18
Quando a saudade começa
cutucar meu coração
o danado perde a pressa
bate forte feito um cão.
19
Quando um amigo nos pede
que façamos um favor,
o verdadeiro não mede
o sacrifício que for.
20
Quem doa os olhos percebe
a paz maior prometida,
por toda luz que recebe
do outro lado da vida...
21
"Quem espera sempre alcança"
é ditado popular,
mas não deve haver tardança
pra quem quer recomeçar.
22
Quem tem fé acende a vela
e oferece à padroeira.
Quem não tem, não se revela:
sofre e chora a vida inteira.
23
Ser feliz é isto gente:
– é poder ver na alvorada
o beijo do sol nascente
no rosto da madrugada.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Elbea Priscila de Souza e Silva


1
A banda toca um dobrado
e a multidão se eletriza,
mas mantém o olhar colado
no “shortinho” da baliza !
2
Adeus! A sentença triste
minha vida desalinha,
e a saudade, dedo em riste,
vem dizer que a culpa é minha!
3
A distância bem que tenta
retardar minha chegada,
e parece que acrescenta
mais quilômetros na estrada...
4
A escolha do par perfeito,
farei nesta... em qualquer vida,
ao resgatar de outro peito,
minha metade perdida!
5
Agitado ou não, valente,
radiante, às vezes sombrio,
tens por meta o sonho à frente:
- Coração... teu nome é rio!
6
A Humanidade atracada
ao seu orgulho e avareza
agride o meio e degrada
sua própria natureza...
7
Alegre, meiga, estouvada,
em constante movimento,
tão inconseqüente e amada,
a brisa é a infância do vento...
8
Ao redor deles se agrupam
o mundo, risos e achaques,
porém... relógios se ocupam
apenas de tique-taques...
9
Aquela amiga, a saudade,
ah, quantas vezes descarto,
pois, cheia de intimidade,
só quer dormir no meu quarto...
10
Aquele tomate ousado
diz à alface bem amada:
- Nosso encontro está marcado
às seis... na mesma salada!
11
Às suas falas dispense
o respeito mais profundo,
que o silêncio nos pertence
mas a palavra é do mundo.
12
A tristeza, sim, me arrasa...
expulsá-la de que jeito,
se é marca de ferro em brasa,
indelével no meu peito!?
13
Bem aqui na banda esquerda
do meu peito há uma inscrição:
"Cansado de tanta perda
foi-se embora um coração".
14
Com as palavras esgrima,
me estoca e brada: Touché!...
Astúcia é a matéria-prima
da qual emergiu você!
15
Com extrema sutileza,
vertendo mel nas amarras,
a sedução faz a presa
se aprazer em suas garras.
16
De assombração tenho medo,
da morte, então, quem não tem?
Vou te contar um segredo:
quando era vivo... eu, também!
17
Dispenso festas, mantenho
com elas pouca amizade,
pois quem tem o amor que eu tenho
só pensa em privacidade...
18
Do peito tranco o portão
por sofrer e em desagravo
penduro nele a inscrição:
- Cuidado! Coração bravo!!!
19
Ela passa se sorrio,
se choro vai, nem me vê:
desconfio que este rio
tem muito a ver com você!
20
Embora dela me esquive,
a saudade, tão ladina,
tem manhas de detetive
e me espreita em cada esquina...
21
Em meu peito, sorrateira,
a saudade se detém,
fincando a sua bandeira,
já que a terra é de ninguém !
22
É o trabalho um aliado
no caminho para a luz:
encare-o como um cajado,
jamais o transforme em cruz!
23
- Esta pimenta é de cheiro?
Pergunta com azedume,
e o garçom fala ligeiro:
- Se não é... boto perfume!!!
24
– Eu era um burro, doutor,
que pesadelo medonho!
E o médico, gozador:
- Tens certeza que era um sonho?...
25
Frio, cruel e arrogante,
O mal na discórdia aposta
e o mundo beligerante
Está "como o diabo gosta".
26
Gostosa! – diz, leviano.
- Ela é minha filha Ester…
- Perdão, é a outra, que engano!
- A outra é minha mulher.
27
- Homem que é homem dá duro,
procure um trabalho, diacho!
- Procurar até procuro,
mas, graças a Deus… não acho!
28
Já tive família e nome,
posição...luxo também,
mas, de mim fiz um pronome
indefinido: ninguém!
29
– Meu genro prêmios conquista
em nossa Feira Anual.
- Ele é grande pecuarista?
Não... um perfeito animal!
30
Minha angústia, aprisionada,
num grito agudo se solta
e um eco, só por caçoada,
traz-me esse grito de volta!
31
Minhas mágoas disciplino
com a força da oração:
tenho um médico divino
que jamais deixa o plantão!
32
Moleque feliz, sadio,
nadando em tua água fria,
acreditei, velho rio,
que eu nunca envelheceria...
33
Morre a sogra do Herculano,
e o mesmo, por prevenção,
para que não haja engano,
põe cadeado no caixão!
34
Na mais franca intimidade,
desta volúpia à mercê,
perdemos a identidade:
quem sou eu, quem é você?
35
Não me bastasse a poeirenta
e dura trilha que faço,
vem a saudade e acrescenta
mais um fardo em meu cansaço...
36
No meu Natal é rotina
deixar tudo no "capricho":
no peito faço faxina
e jogo as mágoas no lixo!
37
Nossa antiga foto presa
na moldura sem verniz
hoje é a única certeza
de que um dia eu fui feliz!
38
Numa visita diária
a um coração em carência,
a saudade solidária
tenta suprir tua ausência...
39
Num desabafo insincero,
chorando em teu ombro amigo,
digo coisas que não quero,
quero coisas que não digo…
40
Num minúsculo vestido,
samba e a galera faz festa
e Cornélio, seu marido
“dança” enquanto coça a testa!
41
O beijo da chuva fria
no chão, ressequido e ardente,
num milagre, propicia
o germinar da semente.
42
Pertenço a um tempo em que flores,       
donas de próprias linguagens,
apadrinhavam amores
com perfumadas mensagens...
43
Prantos, lamentos, gemidos...
ecos que vêm até nós...
são gritos dos excluídos
de que a dor é porta-voz!
44
Quando a natureza, insano,
degrada a seu bel-prazer,
o chamado ser humano
humano deixa de ser!
45
Quando a saudade aguilhoa
meu peito, a voz da razão
diz, baixinho: - Vai... perdoa...
Mas a altivez grita: -Não!
46
Quem criou a Natureza,
obra-prima de arte pura,
deixou que a mão da beleza
lhe forjasse a assinatura...
47
Quem da criança o labor
explora pela ganância
mistura amargo sabor
ao doce sabor da infância…
48
- Quem de astúcia é mais capaz?
Num concurso singular,
vence a mulher, Satanás
fica em segundo lugar!
49
Quem tem o regaço terno
de uma amizade sincera,
consegue sentir no inverno
ternuras de primavera…
50
Quero agarrar o presente,
mantê-lo à força, ao meu lado...
E ele se esvai... De repente,
presente já é passado!
51
Se a guerra foi declarada
e é poderoso o oponente,
faze da astúcia aliada,
que astúcia é força da mente!
52
Só tu, penumbra que invades
meu quarto, sem cerimônia,
sabes de quantas saudades
se compõe a minha insônia!
53
Tão comuns em nossa esfera
que aos tropeços se conduz,
trevas são salas de espera
onde aguardamos a luz!
54
Teu prato esfria na mesa,
olho o relógio, me apresso;
na varanda a luz acesa
espera, em vão, teu regresso...
55
Uma caixa de surpresas,
baú de contradições,
meu coração tem certezas
cercadas de indecisões
56
Vencido... todo humilhado,
meu coração se destranca
e entregando-se à saudade,
desfralda a bandeira branca!
57
Xeque-mate, sem saída,
me entrego, todo humildade,
se o tabuleiro é o da vida,
se o contendor é a saudade...

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Colbert Rangel Coelho (1925 - 1975)


1
Aquela criatura louca,
que é razão do meu desejo,
vive tanto em minha boca,
mas nunca me deu um beijo.
2
A todo mundo insinuas
que não mando no que é teu,
mas tenho saudades tuas
e o dono delas sou eu!
3
A vida, às vezes, resume
contrastes deste teor:
só se morre de ciúme
quando se vive de amor.
4
Bebe-se tanto, meu chapa,
aguardente no Brasil,
que até mesmo o nosso mapa
tem a forma de um funil.
5
Beijei-te e, ardendo em desejos,
disseste (que hipocrisia!)
que era o teu primeiro beijo.
Só se foi naquele dia...
6
Bendigo minhas conquistas,
quando percebo depois
a inveja dos moralistas,
que falam mal de nós dois.
7
Berra a esposa, o filho berra!
E, apesar desse berreiro,
não troco meu lar em guerra
pela paz do mundo inteiro!
8
Chegaste toda elegante,
quando eu pensava ir-me embora.
“Vou ficar mais um instante.”
... E fiquei até agora.
9
Com tanto gringo passeias
e, de fato, nem supões
que a liga das tuas meias
virou Liga das Nações!
10
Corrigindo um velho erro,
aos brotos tecendo loas,
nem mesmo no meu enterro
quero saber de “coroas”.
11
Dando-me tanto trabalho,
sem me poupar um segundo,
o meu filho, esse pirralho,
é o melhor patrão do mundo.
12
Desce o viúvo ao jazigo
e uma voz familiar
repete o sermão antigo:
- Isto é hora de chegar?
13
D. Juan que, volta e meia,
mulher casada procura,
tem um pé na casa alheia
e outro pé na sepultura.
14
Doutor - peço que me ajude
nesta dúvida inclemente:
Se isto é Casa de Saúde,
como pode ter doente?!...
15
Em meio a tanta desdita,
tanta gente estende as mãos,
que a gente nem acredita
que somos todos irmãos.
16
Enquanto o sino da igreja
dobra, tristonho, a finados,
a liberdade rasteja
por entre arames farpados.
17
Entre o homem e a natureza,
há contrastes sem medida:
o pôr-do-sol – que beleza!
Que tristeza o pôr-da-vida...
18
Éramos dois indecisos
que vagávamos sem pressa...
Um sorriso... dois sorrisos...
E uma história que começa!…
19
Eu bendigo a luz da lua
e os passarinhos nos ramos:
brilha mais em nossa rua...
cantam mais quando passamos…
20
Eu não sei se o sol desponta
ou se ainda é madrugada...
Quando estou por tua conta
não dou conta de mais nada.
21
Eu quis, na cara ou coroa,
saber se és minha ou do Zé.
Fiquei na mesma. Esta é boa!
- O níquel caiu em pé!
22
Eu, sentado na beirada,
ela, junto da janela.
- Graças às curvas da estrada,
vou sentindo as curvas dela!
23
Eu sigo na minha rota
vencido, cheio de dor.
Causaram minha derrota
minhas vitórias de amor.
24
Eu sinto, vagando à toa
nos derradeiros degraus,
que a vida seria boa,
se os homens não fossem maus!
25
Meu coração, por despeito,
depois que te conheci,
vai batendo no meu peito,
enquanto apanha de ti.
26
Nas vitrinas de brinquedos,
o meu pranto tem lavado
as marcas de cinco dedos
de um menino abandonado.
27
Neste Salão elegante,
para ficar diferente,
mesmo a mulher inconstante
manda fazer... permanente...
28
Noivado, no mundo inteiro,
foi sempre assim entre os dois:
o noivo espera primeiro;
a noiva espera depois...
29
O amor seria mais brando
e o mundo seria lindo,
se Deus me visse chorando,
se Deus te visse sorrindo.
30
O cego sente desgosto
de não ver o que Deus pinta,
porque nunca viu o rosto
de uma criança faminta.
31
O confessor da capela
foi confessar-se depois...
Os pecados que ouviu dela
eram todos deles dois.
32
O mais doce dos abrigos,
minha casa é uma beleza:
aberta para os amigos,
fechada para a tristeza!
33
Passei a crer nos amigos
e em bondade ainda creio,
depois que vi dois mendigos
repartindo um pão ao meio.
34
"Perca a esperança", - disseste.
Cegamente, obedeci.
E tu mesma me trouxeste
a esperança que perdi.
35
Percebo, na trajetória
de um romance inconsequente,
que, às vezes, a mesma história
tem o enredo diferente.
36
Põe nos olhos uma venda,
se algo queres me ocultar,
porque embora não te entenda,
sempre entendo o teu olhar.
37
Por diabruras e um rebento,
naquele eterno noivado,
a festa do casamento
foi depois do batizado.
38
Por mais longe que passares,
há de ver o mundo inteiro,
que o mais falso dos olhares
é o teu olhar verdadeiro.
39
Por minha vida sem graça
passaste tão de repente...
Muitas vezes a que passa
é que fica eternamente!
40
Quando a gente perde o tino,
como perdi de repente,
uma mulher sem destino
faz o destino da gente.
41
Senta-te aqui ao meu lado,
ó anjo do meu desejo!
Santifica o meu pecado
com a pureza do teu beijo.
42
Se, ao confessar-se, a Teresa
disse tintim por tintim,
o vigário, com certeza,
sentiu inveja de mim.
43
Se de fato não me amaste,
de tudo o que me fizeste,
o beijo que me negaste
foi o melhor que me deste.
44
Se esta existência me cansa
é porque, na minha dor,
não me sobra em esperança
o que te falta em amor.
45
Se pudesse calcular
o transtorno que me deu,
Deus que fez o teu olhar
não teria feito o meu.
46
Sinto a maior das revoltas,
talvez você não presuma,
ao ver o mundo dar voltas
e nós não darmos nenhuma.
47
Sonho – punhado de areia
que a gente aperta na mão,
sem perceber a mão cheia
vazando de grão em grão.
48
Surpreendido de mansinho,
sem a fibra dos heróis,
naqueles lençóis de linho
eu me vi em maus lençóis.
49
Tão grande é minha saudade,
que voltarias, não minto,
se sentisses a metade
desta saudade que sinto.
50
Tenho dó do linguarudo
que, por gosto ou por maldade,
de nós dois já disse tudo
- e não sabe da metade.
51
Tenho tudo aqui na terra,
e tenho, apenas, o que?
- uma casinha na serra,
minha viola e você!
52
Vejo, após anos passados
de uma história que morreu,
que, entre sorrisos trocados,
acabei perdendo o meu.
53
Velho, nas minhas andanças,
já calejado de insultos,
tenho pena das crianças
num mundo cheio de adultos.
54
Vingativo, por maldade,
rogo-te pragas, meu bem:
que sintas esta saudade
multiplicada por cem.
55
Vivendo nos estribilhos
das colunas sociais,
muitos pais dão a seus filhos
noção de filhos sem pais.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Aloísio Alves da Costa (Umari/CE, 1935 - 2010, Fortaleza/CE)

1
Agora que tu partiste
e a saudade está chegando,
desculpe o meu verso triste,
minha musa está chorando!...
2
Amarela é a cor mais bela
e é fácil de soletrar:
- é bastante unir com "Ela",
as letras do verbo "Amar"!...
3
Ante o medo que angustia,
talvez a grande mensagem,
fosse a que Deus nos diria ...
- Coragem, filho, coragem ...
4
Ao se pesar, a Constança,
que é gorda e não pesa pouco,
comenta, sobre a balança:
- Esse ponteiro está louco!...
5
Aos sonhos nunca se apegue,
que eles se vão de repente...
e sonho que se persegue
é o que mais foge da gente!...
6
As musas, não posso vê-las...
vivem num mundo distante...
mas posso além das estrelas
ouvi-las a todo instante
7
Bonança e paz sobre a terra
é tudo que peço a Deus,
para que as armas de guerra
virem peças de museus.
8
Buscando instantes felizes
pelos caminhos tristonhos,
foram tantos meus deslizes
que tropecei nos meus sonhos!...
9
Castigado desde cedo,
tanto apanhei do destino,
que nunca tendo um brinquedo,
nem lembro que fui menino.
10
Chegada bem mais feliz,
bem mais alegre, suponho,
é a de quem faz o que eu fiz:
- cheguei trazendo o meu sonho!...
11
Creio em Deus, unicamente
não ando rezando à-toa...
- tenho uma alma que sente
e um coração que perdoa!
12
Dando na alma embevecida,
laços de amor e amizade,
fui, na jangada da vida
um pescador de saudade!...
13
Dentro da noite inclemente
De frio intenso e garoa,
o agrado de um beijo quente
garante que a noite é boa!...
14
Dói a saudade em meu peito
e eu canto, não silencio...
Quanto mais pedras no leito
mais alto o canto do rio!
15
Dos ideais o maior
é viver, lutar, e, após,
deixar um mundo melhor
aos que vêm depois de nós.
16
Dos jogos o mais nocivo,
até hoje, em meu caminho,
tem sido o rebolativo
da mulher do meu vizinho!
17
Enquanto o Zé Liberato
sai em busca da gatinha,
pela janela entra um gato
que janta a sua sardinha!
18
Era uma vez uma dona
que andava a pé, sem ninguém;
e tanto pediu carona,
que ganhou carro também! ...
19
Esta saudade infinita
do amor que a gente viveu,
é a mensagem mais bonita
que o meu passado viveu!...
20
Feito de essência divina
e fluidos de eternidade,
um grande amor não termina,
mas se transforma em saudade!
21
Feliz é quem, pela vida,
envelhecendo sem fugas,
alegre e de fronte erguida,
zomba do espelho e das rugas.
22
Já diz o velho ditado,
que lenha verde e viúva,
com paciência e cuidado
pegam fogo até na chuva!...
23
Mensagem que se recebe
e nos enche de quimeras,
é aquela em que se percebe
que as palavras são sinceras
24
Meu sonho em mágoa desfeito,
tão grande fez meu desgosto,
que não cabendo em meu peito
se fez pranto no meu rosto!...
25
Minha irmã conta as topadas,
que já deu pelos caminhos,
pelas pedras arrancadas...
- E eu conto, pelos sobrinhos!...
26
- Na carta que ela me fez,
nas reticências sem fim,
a incerteza de um "talvez"
dá-me esperanças de um "sim"...
27
Na farmácia, ao ver o busto
da balconista, hesitante,
em vez de xarope, o Augusto
pediu mesmo foi calmante!...
28
Na linha desta saudade,
que é tua e também é minha,
nós somos nós de verdade
nas duas pontas da linha!
29
Na luta contra a cobiça,
mantendo na alma a esperança,
meu desejo de justiça
é maior que o de vingança!
30
Não busques falso tesouro
se bens duráveis garimpas...
Nem sempre as mãos que têm ouro
e pedras raras, são limpas...
31
Não condeno o revoltado
que defende seu direito...
– revolta de injustiçado,
merece todo respeito!
32
Não preciso, mãe, no templo,
rezar tanto de joelhos...
- Minha luz é o teu exemplo,
minha prece os teus conselhos!...
33
Na tua ausência, ao meu lado
em cima da nossa mesa,
o candelabro apagado
mantém a saudade acesa.
34
Na tumba da falecida,
o esposo ciumento, à porta,
murmura: - Volta, querida.
E ela responde: - Nem morta!
35
Nem ouro, nem pedra rara,
nada que vem do garimpo,
vale um fio de água clara
no leito de um rio limpo...
36
No momento doce e breve
que a inspiração nos invade,
dos versos que a gente escreve,
a musa escreve metade!...
37
Num armário sem conforto,
do qual não guardo saudade,
guardado, me fiz de morto,
pra não morrer de verdade...
38
O meu cansaço é tamanho,
que, na mesma caminhada,
eu quase não acompanho
minha sombra na calçada!
39
Partiste, chorando tanto,
no teu rumo oposto ao meu,
que, solidário ao teu pranto,
o céu fechou-se... e choveu...
40
Partiste, cigana errante,
e de uma noite em teu leito,
restou-me um sonho distante
e esta saudade em meu peito!...
41
Peço a Deus que o tempo corra,
e corra a nosso favor,
para que este amor não morra
antes que eu morra de amor!…
42
- Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas!
43
Pelos motivo da guerra
e pela falta de pão,
não culpo quem fez a terra,
mas quem fez a divisão.
44
Quando a lei se faz omissa
e a impunidade se solta,
do silêncio da justiça
surgem gritos de revolta...
45
Quando a noiva viu a cama
que a esperava pra dormir,
mandou sustar o proclama
e desistiu do faquir!...
46
Quando a vida se complica
nas horas de solidão,
amigo é aquele que fica
depois que os outros se vão.
47
Quando a voz de um pai ressoa
e a de um filho abaixa o tom,
conselho é semente boa,
plantada em terreno bom!
48
Quando instantes de carinho,
trazem saudades depois,
lembrança é viver sozinho
de um sonho vivido a dois.
49
Quando não vens, na ansiedade
desses momentos perversos,
vem a musa da saudade
pôr mais saudade em meus versos.
50
- Quando o amor se faz lembrança
e a solidão nos invade,
ou se vive de esperança
ou se morre de saudade...
51
Quem não aprende em menino,
tem que aprender na velhice,
que ter pai pobre é destino,
mas sogro pobre é burrice!…
52
Sambando quase pelada,
no 'No bloco do vai sem medo",
Paulete foi mais cantada
que o refrão do samba enredo..
53
Sempre que a vida me nega
segurança nos meus passos,
minha esperança me pega
e me carrega nos braços!
54
Sendo orador de alta escala,
é tão profundo e erudito,
que a gente, quando ele fala,
só entende o... "tenho dito".
55
Se o telefone falasse
o que nele a gente fala,
duvido que alguém deixasse
o telefone na sala!...
56
Somente um bem acontece
quando a gente cai doente:
doente é que se conhece
quem é amigo da gente.
57
Sou de onde o vento trabalha,
lá onde a brisa fagueira
embala de leve a palha,
beijando a carnaubeira! ...
58
Teimei no amor... e errei tanto
na teimosia de amar,
que eu mesmo não sei mais quanto
errei tentando acertar!...
59
Teu olhar... a voz macia...
tuas promessas de amor...
- são notas de fantasia
na pauta da minha dor.
60
Vencendo o tempo e a distância,
mensagens da mocidade,
sempre nos trazem da infância,
saudade ... muita saudade...
61
Volátil, discreta e doce,
no instante certo, presente,
a musa é como se fosse
o anjo-da-guarda da gente…

José Valdez de Castro Moura (Trovas em Preto & Branco)

  por José Feldman Análise das trovas e relação de suas temáticas com literatos brasileiros e estrangeiros de diversas épocas e suas caracte...