sábado, 20 de março de 2021

Elane Rangel / RJ (O Pinheiro e a Gralha Azul)


O que mais me contagia
nos meus passeios no sul,
é ver  a  graça  e a magia
do  voo  da  gralha-azul.

Para perpetuar a vida
da araucária na região,
voa a gralha, destemida,
carregando o seu pinhão.

O  pinheiro  simboliza
o   Estado do  Paraná;
a gralha-azul,eterniza
sua  permanência  lá.

Os pinheiros – que beleza !
quanta graça neles há ...
dão mais vida à natureza,
enriquecem  o  Paraná !

Pra conservar o pinheiro
como  um símbolo do sul,
temos que zelar, primeiro,
pela  nossa  gralha-azul.

Diz a gralha: homem, reparte
com a  terra  o  teu  pinhão !
eu  já  fiz  a  minha  parte,
eu  já  dei  o  meu  quinhão !

Com  as  reservas, precárias,
de  terras  livres  no  sul,
pra plantar, hoje, araucárias,
só  se  for  a  gralha azul !

A gralha-azul  perpetua
a vida das araucárias;
com habilidade, atua,
cultivando aquelas áreas.

Semeia a gralha, sensata,
a floresta de pinheiro,
e o homem vem e a desmata
por ambição do dinheiro!

Vem a gralha-azul e enterra
o  pinhão  no  seu  celeiro,
o  que  faz brotar  da  terra
as  florestas  de  pinheiro.

Fonte:
Trovas enviadas pela autora

sábado, 13 de março de 2021

Alvitres do Professor Renato Alves - 6 -


25.

Na mesma linha camoniana do “fogo que arde e não se vê  /  ferida que dói e não se sente”, eis,  na trova ao lado,  uma bela aplicação da  “antítese”,  figura de linguagem tão adequada para definir a natureza contraditória do amor.
 
O amor é sorriso... ou pranto.
O amor é nuvem... ou sol.
O amor é lágrima... ou canto.
O amor é treva... ou farol.
Maria Thereza Cavalheiro

 
26.

Além do escorreito português dos verbos em 2ª pessoa do plural (rireis, saberdes, pousais), esta trova apresenta um interessante emprego da palavra “verde” com carga semântica dupla: verde = cor e verde = jovem, em oposição aos maduros olhos do poeta.
    
Rireis talvez ao saberdes
como eu me sinto em apuros
se pousais os olhos verdes
nos meus olhos já maduros!
José Fabiano

 
27.
Na literatura, o efêmero, o passageiro, o transitório sempre esteve representado pela metáfora do “nome escrito na areia” que o mar vem e logo apaga. Veja que belo aproveitamento desta imagem na trova ao lado.
    
Malgrado a graça suprema
que o nosso olhar incendeia,
a juventude é poema
que a vida escreve na areia.
Élen de Novaes Félix
 
28.

Está no jogo de palavras, na inteligente manipulação das variantes semânticas do vocábulo “pena”, a beleza do achado desta primorosa trova do mestre  Izo Goldman.
 
Que pena que as minhas penas
não te causem pena alguma,
e, sem pena, eu seja apenas,
entre as penas... só mais uma!
Izo Goldman

29.

A maioria dos concursos exige a menção da palavra-tema na trova. Muito já se discutiu sobre tal obrigatoriedade e as opiniões são bem divergentes. Mas veja  aqui uma bela trova, premiada em Nova Friburgo em que  a ausência da palavra não prejudicou em nada a ideia de “Presença”, o tema proposto
    
O livro, o cigarro ao lado,
o rádio, o abajur antigo...
Eu deixo tudo arrumado
fingindo que estás comigo...
Maria Tereza Noronha

quinta-feira, 11 de março de 2021

Izo Goldman (O Uso do Computador)


Creio que, talvez por uma secreta aversão, o uso do computador está criando problemas. Não se “escreve” mais o que se deseja publicar, basta sentar, digitar e mandar; talvez esteja faltando um pouco de tempo para “pensar” ou para “conferir”; talvez ninguém mais “escreva”, “ponha na gaveta”, “leia”, “confira”, “reescreva” e, só então, divulgue. Alguns fatos, lamentavelmente, confirmam meu ponto de vista, vejamos:

- Quando o Informativo da Seção São Paulo publicou a notícia sobre a Comissão de Fiscalização, rapidamente, um Trovador, saiu dando uma “aula” sobre Macartismo e falando em “caça às bruxas”.     
Seu autor esqueceu que, em todas as entidades, literárias, políticas, esportivas, etc., existem órgãos de controle e fiscalização. Seu autor esqueceu que, quando um fato irregular ocorre, deve ser corrigido, até por que , no mínimo, prejudicou alguém. Seu autor não sabe que tivemos, em pouco tempo, três casos que foram devida e sigilosamente, resolvidos, preservando Trovadores (as), Seções e Concursos. Sem nenhuma “caça às bruxas”!

- Depois um outro email, reproduzido em um jornal da Trova, fala na “mesmice” dos Concursos e diz que: - “Os Trovadores fogem das Trovas Líricas e Humorísticas”, e que preferem “fazer Trovas Filosóficas com ideias comuns”.

O autor não deve estar acompanhando o que ocorre nos Concursos e/ou Jogos Florais! Entre 2007 e 2008 tivemos 13 ou 14 Concursos Humorísticos ou seja, entre 150 e 250 Trovas Humorísticas premiadas e publicadas. Ainda neste período, quase 70% das Trovas classificadas em Concursos e Jogos Florais, eram Líricas! Tudo isto considerando que há Concursos com Temas que, praticamente, não aceitam o Lirismo: Tradição, Academia, Samaritano, Brasil, Ecologia, Agricultura, Tribunal, Fraternidade, Reis Magos, Natal e outros. Depois se estende em falar sobre a “falta de renovação”, mas, fala, fala e não apresenta uma solução.

É como se eu falasse sobre o trânsito caótico e congestionado de São Paulo, e poderia fazê-lo por horas a fio, mas não desse nenhuma sugestão para resolver o problema.

– Agora, um trabalho de três páginas, sobre uma Trova premiada em Campos, rimando: moral com pau. O autor argumenta sobre a pronúncia, dando como exemplo a pronúncia de ambos como aw, isto é usando o W como base.   

Com certeza não conhece o Rio Grande do Sul, onde o L é L mesmo e onde Walter tem som de V. Diz que “hoje somos o único grupo literário coeso que usa de uma forma fixa”, e, eu pergunto: Não será por isso que, há mais de 60 anos, o Concurso de Quadras de São João, do Jornal de Notícias, no Porto, Portugal, recebe, anualmente, mais de 5.000 Quadras?

Afinal, os poetas continuam a fazer seus sonetos decassílabos ou alexandrinos e estes seguem sendo expoentes da poesia clássica. Esperando que as “atualizações” ou “modernizações”, seja lá como queiram chamar, não obriguem as Comissões Julgadoras a abrir os envelopes das Trovas premiadas, antes de defini-las...

–“Ah! Este é, gaúcho, rima tal com mal. Está certo!”
- “Ah! Este é, carioca, rima tal com pau. Está certo!”
- “Ah! Este é mineiro, conta rio como dissílabo. Correto!”
-“Ah! Este é gaucho, conta tio como monossílabo. Certo!”      


Com certeza seria bom que alguns Trovadores lessem o artigo “Recados da China”, de Ivan Angelo, publicado na “Veja São Paulo, de 15/04/2009.     

Para finalizar, pode ser que eu esteja enganado mas, a Trova do Nélio Bessant, não seria premiada, em Porto Alegre, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Niterói, em Belo Horizonte ou em Nova Friburgo, só para citar alguns dos Concursos e Jogos Florais realizados no Brasil.      
Cremos que é preciso “pensar” mais no que se vai “digitar”; cremos que é hora de “pensar” mais na Trova; cremos que é tempo de buscar toda e qualquer atividade que divulgue a Trova e possa colaborar com a “renovação” dos nossos quadros.
 
Fonte:
Texto integrante da apostila Oficina de Trovas, de Izo Goldman.

segunda-feira, 8 de março de 2021

Alvitres do Professor Renato Alves - 5 -


20.

O rio vem correndo tranquilamente... De repente, acelera, agita-se, e nos oferece o imponente espetáculo visual da queda d’água. Logo adiante, retoma a calma e continua seu curso...            

Vejam como a sensibilidade do poeta nos conta  isso através de uma linda trova!
    
Vestem-se as águas de prata,
saltam no espaço vazio.
Findo o show da catarata,
sereno refaz-se o rio...
( A. A. de Assis)

 
21.
No poema “A  um  poeta”,  Olavo Bilac  retrata o trabalho exaustivo que é escrever. Ressalta, porém, que, pronta a obra, este trabalho não deve ser percebido pelo leitor (“...que na forma se disfarce o emprego do esforço...”).  A mesma ideia parece estar presente na trova de Adelmar: “tão fácil, depois de feita, / tão difícil de fazer...”.

Certamente é também a este esforço que se refere a expressão “dura prova” na trova de Jotagê.
 
Ao ler uma bela trova
depois que pronta ficou,
quem calcula a dura prova
por que o poeta passou?
(J. G. de Araújo Jorge)
 
22.
Diz-se que “o Perdão traz mais bem-estar espiritual a quem perdoa do que a quem é perdoado”...

O perdão  ilumina e fortalece o coração do perdoador, capacitando-o a continuar perdoando e, portanto, aprimorando-se espiritualmente, numa espécie de círculo virtuoso.  Veja como o trovador conseguiu traduzir com simplicidade esta ideia, com base nos pares: perdão/luz,  ilumina/eleva,  eleva/perdoa.
 
O perdão é luz na treva
do coração da pessoa.
Quem se ilumina se eleva
e quem se eleva, perdoa!
(Alfredo de Castro)

 
23.
Na trova humorística é mais que conhecida a preferência pela temática da “sogra”, que sofre avassaladora e sistemática gozação.  No entanto, nesta primorosa trova de Sérgio Ferreira da Silva,  a sogra levou a melhor...
 
A minha sogra me deu
um troféu e uma medalha...
e, no diploma, escreveu:
“VENCEDOR – TEMA: CANALHA”
(Sérgio Ferreira da Silva)

 
24.
Às vezes, a repetição (reiteração) pode valorizar muito uma trova. Veja como o uso deste recurso foi fundamental para a ideia central e o efeito humorístico  das trovas abaixo:
 
Ao por-lhe a esmola no prato
pergunta ao surdo, baixinho:
– És mesmo surdo de fato?
E ele: – ”Surdinho, surdinho!”
(Vasques Filho)

Nunca vi almas! – diz rindo.
E o cara na sua frente,
foi sumindo, foi sumindo,
transparente, transparente...
(José Maria M. de Araújo)

domingo, 7 de março de 2021

Cantinho do Assis (Pausa para Reflexão)


Os concursos têm sido muito úteis ao trovismo. Há mais de quarenta anos eles vêm prestando bons serviços: estimulam a intensa produção de trovas; contribuem para o fortalecimento da amizade entre trovadores de todo o Brasil e de Portugal; possibilitam a revelação de novos valores. No entanto, é preciso ter cuidado a fim de que os efeitos não se invertam.

Não se pode permitir de forma alguma o estabelecimento de um divisor de águas – de um lado os ganhadores habituais de concursos e de outro os que jamais (ou raramente) são premiados. Mesmo porque concurso não é a única maneira (e talvez nem seja a mais eficiente) de avaliar poesia ou lá o que seja. Há muitos trovadores que dificilmente aparecem no pódio dos premiados, mas que têm rico acervo de boas trovas. Além disso, a principal característica do trovismo foi sempre a fraternidade, razão pela qual não tem sentido colocar em primeiro plano a disputa de prêmios.

Agrada saber que fulano ou sicrana já receberam dezenas ou centenas de troféus, porém muito mais agrada saber que fulano e sicrana amam a trova tanto quanto nós amamos, e que tal afinidade nos faz irmãos. Se, portanto, algum dia notarmos que os concursos começam a prejudicar a fraternidade, talvez seja melhor acabar com eles, criando novas formas de motivação.

Recordemos as sábias palavras do mestre Reinaldo Moreira de Aguiar: "A trova é um modo franciscano de ser poeta.” Parece que isso resume tudo.

Fonte:
Editorial do Trovia de fevereiro / 2002

sexta-feira, 5 de março de 2021

Alvitres do Professor Renato Alves - 4 -


15.
“Tu és pó e ao pó retornarás”:   Nesta belíssima trova de Alonso Rocha, uma reflexão filosófica sobre o Homem, sua importância e seu destino. Um exercício de humildade para ser sempre lembrado!
 
Quem se julga eterno herdeiro
de um mundo farto e bizarro,
esquece que Deus – o Oleiro –
cobra o retorno do barro.
(Alonso Rocha)

 
16.
Às vezes, a beleza da trova está baseada  num achado que nos leva a reflexões filosóficas, às vezes,  a um sentimento lírico etc  etc. Esta trova, porém, nos remete, primeiro,  a uma imagem física de grande beleza plástica, para depois nos fazer sentir  a profundidade afetiva que encerra este gostoso abraço.   
    
Meus netos têm me passado
com seu abraço a ilusão
que sou um coqueiro enfeitado
de orquídeas em floração.
(Wandira Fagundes Queiroz)

 
17.        
Na pequenina trova, às vezes basta um também pequenino detalhe para valorizar o estilo e a linguagem. Vejam como o “foi não...”, construção típica do linguajar regional, no final do 2º verso, serviu para conferir autenticidade nordestina ao que é dito, embora o autor seja mineiro de Pouso Alegre.
    
Não desprezei meu Nordeste,
desprezo, eu juro, foi não...
Foi a dureza do agreste
Que me afastou do sertão!
(Alfredo de Castro)

 
18.
Às vezes fico pensando se o rigor formal exigido nos concursos e jogos florais não pode nos privar de certas joias da criatividade poética na composição da trova. Reparem na beleza desta trova de rima simples que, no entanto, jamais seria premiada em concursos nos dias atuais.
 
Desconfio que a saudade
não gosta de ti, meu bem.
– Quando tu vens, ela vai...
Quando tu vais, ela vem...
(Luiz Otávio)

 
19.        
Esta trova apresenta três aspectos que merecem comentário:
1. É de rima simples;
2. Apresenta um “enjambement” entre os 1º e 2º versos, recurso condenado por muitos;
3. Tem uma linda metáfora para “esquecimento”! 
(As ondas vão apagar o nome, assim como o trovador foi “apagado”...)
    
Gravei teu nome na areia
da praia, como castigo:
– Façam-lhe as ondas o mesmo
que tu fizeste comigo!
(Corrêa Júnior)

José Valdez de Castro Moura (Trovas em Preto & Branco)

  por José Feldman Análise das trovas e relação de suas temáticas com literatos brasileiros e estrangeiros de diversas épocas e suas caracte...