sábado, 4 de janeiro de 2020

Araceli Rodrigues Friedrich (1913 - 2016)


Abraça, menino, o estudo;
procura, encontra o saber:
– Que ele te sirva de escudo
na luta do bem viver.

A brisa leve me traz
um laivo de teu perfume;
mas esse fato é capaz
de acirrar o meu ciúme.

A chuva lenta que cai,
da nuvem que se desfaz,
a terra encharcando vai
e a seara se refaz.

A felicidade é um triz
que passa, assim, de repente
mas eu para ser feliz
empreendo uma luta ingente.

A goteira impertinente,
ao cair do meu telhado,
incomoda muita gente,
por deixar tudo molhado.

Amizade não se mede
pela distância, pois não!
Na verdade ela só pede,
morar no meu coração.

Ao compor a minha trova
terno desejo me invade,
querer dar-te minha prova
de uma sincera amizade.

Ao contemplar as estrelas
no firmamento de anil
não as encontro mais belas
que as do céu do meu Brasil.

Ao perceber o desprezo
estampado em teu olhar
meu coração, que está preso,
quero do peito arrancar.

Ao ver como é imponente
aquela árvore esguia
esqueço a humilde semente
que lhe deu a vida um dia.

Aquela grácil menina
que tanta beleza encerra,
possui origem divina:
– Foi Deus quem a pôs na terra.

Aquele que ama, perdoa,
eis uma grande lição,
veja quão doce é que soa;
– Sim, eu te perdoo, irmão!"

A saudade é sentimento,
amargoso como fel;
mas há sempre um bom momento,
em que é doce qual um mel.

Assim como é conhecida:
- Ser da instrução a mais pura,
Curitiba nesta lida,
é a "Capital da Cultura".

Às vezes, pensando eu fico
e este pensar me consome...
Como é que em país tão rico
existe quem passe fome?

Às vezes tenho vontade,
de voar pelo infinito:
- É quando sinto saudade
do teu rostinho bonito.

Atento e não mais duvido,
maior orgulho não há,
que ver meu nome incluído,
na UBT do Paraná!

A vida tenho levado,
em fazer umas poesias
que, mesmo com pé quebrado,
dão-me muitas alegrias.

Cismando eu te vi tão lindo,
rezando junto ao altar,
que tive desejo infindo
de correr pra te abraçar.

Coisas que faço e refaço
e, às vezes, digo, também,
não são causa de embaraço
mas a defesa de alguém.

Com a grande pretensão
de ser poeta algum dia
vivo de lápis na mão
tentando fazer poesia.

Com entonação discreta
e com letrinhas, só três,
assim inventou o poeta,
maior nome em português.

Deputado diz "fazido"?
Não me assusto, não senhor;
ele não deve ter tido
um sábio e bom professor.

É bem feliz quem na terra,
vive nas lides da paz,
esquivando-se da guerra,
é de amor tudo o que faz.

É mais difícil na vida,
você subir que descer,
mas não esqueça, querida,
a glória está no ascender.

Em lindas trovas singelas,
eu procurei me inspirar:
- Lendo-as tão simples e belas,
não consegui versejar,

Em vez da palavra guerra
que tanta desgraça traz
devia existir na terra
somente a palavra PAZ!

Enquanto orares não digas
simples palavras ao léu,
pois elas são inimigas
no caminho para o céu.

Eu busco a felicidade
por este mundo sem fim,
mas vejam quanta maldade
– Ela só foge de mim.

Eu gosto de ler quadrinhas,
as que eu fiz e as que não fiz,
pois mesmo as que não são minhas,
também me fazem feliz!

Eu juro! Digo a verdade,
não estou sendo revel...
falando: -"Felicidade"
sinto um gostinho de mel.

Eu perdi a liberdade,
de te adorar, ó querida,
no momento em que a saudade
acorrentou-me na vida.

Eu quero beijar, querida,
seus lábios cor de carmim,
para que, sempre na vida,
você só lembre de mim.

Hoje me punge a saudade
dos dias em Porto União:
ali deixei amizade...
sonho… ternura... ilusão...

Hoje, no romper da aurora,
fui meu relógio acertar;
prevendo ter, ó Senhora,
mais tempo pra Te adorar.

Menina, faça um versinho,
escrito com muita graça,
tendo no enredo o carinho
que muito feliz me faça.

O dia é pleno de sol
à noite a lua ilumina
e quando surge o arrebol
já penso em ti, ó menina!


Fonte:
Luiz Hélio Friedrich. Maurício Norberto Friedrich. Família Friedrich em Trovas. Curitiba/PR: Centro de Letras do Paraná, 2018.

Postagem por Aldhiyb Al' Abyad (Hyderabad/Índia) e José Feldman (Maringá/PR)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Luiz Hélio Friedrich


1
A chamada às urnas traz
sentimento passageiro
quem na vida é satanás
vira santo milagreiro.
2
A chuva que cai do céu
e não cai em demasia
é como se fosse um véu
protegendo a terra fria.
3
A chuva tranquila e lenta
Descia de gota em gota,
como se fosse água benta,
a benzer a terra rota.
4
A derrota pouco importa
neste mundo de maldade,
desistir é que é uma porta
à derrota de verdade.
5
A guerra é ironia forte
que tudo arrasa e destrói,
da vida conduz à morte
para criar um herói.
6
A honra é o melhor adorno
que um homem pode ostentar
e é fácil ver seu contorno
na origem pura de um lar.
7
A jangada foi pro mar
carregada de esperança
para quando ela voltar
venha cheia de abastança.
8
A lua no céu, em festa,
quando inspira o trovador,
nos engana, pois empresta,
do sol, a luz e o calor.
9
Alegres eram meus sonhos
tendo vinte anos de idade,
aos setenta são tristonhos
pois é triste a realidade.
10
Aliança de casamento,
cadeado da ilusão,
para uns é um tormento,
para outros é uma união.
11
Almas puras se consomem,
na incerta busca do bem,
pois encontram sempre o homem
tentando explorar alguém.
12
Amar é fazer de conta
que defeito é uma virtude;
minar o que a vida apronta,
sem desvendar este truque.
13
Ao criar a natureza,
Deus tirou do seu baú,
um assombro de beleza:
-"Cataratas do Iguaçú"!
14
A paixão é uma cachaça,
que envenena o coração;
mas, depois, o efeito passa,
sobram: dor, desilusão!
15
A rima dá ao poeta,
o seu poder mais loquaz,
de conseguir sua meta:
rimando, pregar a paz.
16
A saudade é flor colhida,
nas beiras dos meus caminhos,
se perfuma a minha vida,
também fere com espinhos.
17
A saudade é uma tristeza
que me alegra e me traz vida.
Sem ver-te, tenho certeza,
de ser amado, querida.
18
As leis de almas femininas
fogem, um pouco, à razão;
parecem que tem esquinas,
sem placas de direção.
19
A ser chamado trovista
prefiro ser trovador;
pois um é rima de artista
e o outro é rima de amor.
20
A seriema quando pia
dá sinal que vai chover,
se eu não te vir por um dia,
é sinal... que irei morrer…
21
À trova tenho um apreço
qual fora livro de bolso;
pequenino e de bom preço,
vale sempre o desembolso.
22
A verdade às vezes fere,
sem haver necessidade;
e a mentira nos confere
bem fugaz felicidade.
23
A vitória se conquista
também no trabalho ou lazer,
e então de guerras desista,
só lute, em paz… por prazer.
24
Brincava feliz menina
com a boneca na mão,
hoje, cresceu... triste sina...
brinca com meu coração.
25
Cai a chuva de mansinho
irrigando a plantação;
parece que, com carinho,
mitiga a sede do chão.
26
Camboriú, belo balneário,
águas verdes, maré mansa;
Até Deus vem do calvário,
chega aqui, e então descansa.
27
Cansado de tanta guerra
que mostra a televisão,
eu tenho a certeza que erra
quem diz ter o homem..."razão!”
28
Com muita felicidade
casou, o noivo, e de cara,
notou que a cara-metade
é uma metade bem cara.
29
Com o amor a gente aprende,
que há magia no viver,
quanto mais amor se rende,
mais amor, nos há de haver.
30
Com sete notas somente
tanta música se faz,
canção de um amor ardente,
hinos de guerra ou de paz.
31
Com singeleza e ternura,
o poeta escreve à mão
e no papel afigura,
o que dita o coração.
32
Curítibano adotivo,
vim aqui para estudar.
Apaixonado, aqui vivo;
fiz da cidade meu lar,
33
Curtos e precisos versos
com seu poder e valor
traduzem sonhos diversos
de saudade, ódio ou amor.
34
De Luiz Otávio há quem diga:
– Príncipe dos trovadores!
Digo, sem medo de briga:
– Príncipe?! É pouco, Senhores.
35
De lembranças em lembranças,
revivendo o meu fadário,
busco bem-aventuranças,
que amenizem meu calvário.
36
Dos amores que eu tive
só um merece menção,
é este que sobrevive,
a tantos anos de união.
37
É difícil ver que a guerra,
que um declara e outro é quem faz,
o mais triste lema encerra:
matar em nome da paz.
38
E, meu sogro, um sabichão,
apesar do pouco estudo;
da filha, pedi-lhe a mão...
... entregou-me, logo, tudo…


Fonte:
Luiz Hélio Friedrich. Maurício Norberto Friedrich. Família Friedrich em Trovas. Curitiba/PR: Centro de Letras do Paraná, 2018.

Postagem por Aldhiyb Al' Abyad (Hyderabad/Índia) e José Feldman (Maringá/PR)

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