quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Lóla Prata Garcia


1
Aquilo que fui um dia,
perdura no que hoje sou,
mas a vida, que ironia,
por ser longa, deformou...
2
Cais do porto lembra Santos,
a cidade onde nasci,
mas os salgados recantos
se encontram vivos aqui...
3
Calço as sandálias do sonho
e caminho solta ao vento
enquanto versos componho
em total deslumbramento.
4
Com quem estará a chave
que solta meu coração?
Venha esse alguém e o destrave
com amor em transfusão.
5
Cuidado, Terra, essas mãos
que parecem sustentá-la
com pulsos fortes e sãos,
conseguirão preservá-la?
6
Duvido que esse barquinho
de papel fraco, a boiar,
escape do torvelinho
de onde está a navegar.
7
Em todo e qualquer momento
eu quisera ser capaz
de, mesmo no sofrimento,
ter atitude de paz!
8
Enquanto o poeta ensaia
mil versos sobre a maré,
ondas se exibem na praia
com seu molhado balé.
9
Falhando nos compromissos
de amor que entre nós juramos,
quebramos elos maciços
e novos rumos traçamos...
10
Meu desabafo é criar
versos sensíveis e belos,
mesmo tendo que chorar
a quebra de meus castelos.
11
Minha coleção de fotos
é celeiro de lembranças;
conduz-me a tempos remotos
de venturas e esperanças.
12
Movendo as graças fluidas
pelo amor de quem nos cria,
cento e oito mil batidas
teu coração dá por dia.
13
Na mata, o rio se espreme
entre o verde... (que beleza!),
desenhando a letra M
no livro da natureza.
14
No teu ombro acomodada,
eu navego vida afora;
vou sem medo, encorajada,
e mais jovem que outrora...
15
O filme curta-metragem
que o crepúsculo descerra,
mostra a brasileira imagem
pairando entre o céu e a terra!
16
Parado, ele aguarda o apito
para empurrar a esperança;
no peito prepara um grito
de gol!!!!... de feliz criança...
17
Pintemos, bem coloridas,
linhas de sol (emergência)
nas nuvens tão poluídas
que cobrem nossa existência.
18
Quando entendo o personagem
que me cativa na história,
faço íntima abordagem
em relação ilusória.
19
Quem nas letras se revela,
quem canta o bem existente,
quem a vida, em rimas sela,
é POETA, é diferente !
20
Quero o amor bem pertinho,
ao alcance de meus braços;
não no virtual quadrinho,
tão longe dos meus espaços...
21
Sendo a "morte certa", incerta
quanto ao dia e quanto à hora,
coerência é manter-se alerta
e pronto pra ir embora...
22
Suplico ao anjo da guarda
do menino equilibrista,
que o salve e dê retaguarda
pra não ser mais trapezista!
23
Tendo ancestral nordestino
que sofria seca brava,
não quero o mesmo destino
no sudeste, mas... se agrava...
24
Uau, que foto mais linda,
enluarada de azul
na bela tarde que finda
aqui nas terras do sul...
25
Um guri corre na grama,
flagrante de um bom momento,
sentindo que a vida o ama,
pelos carinhos do vento.
26
Vendo a saudade deitada
no sofá de minha sala,
levanto e saio, calada,
com medo de despertá-la...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

José Valdez de Castro Moura (Trovas em Preto & Branco)

  por José Feldman Análise das trovas e relação de suas temáticas com literatos brasileiros e estrangeiros de diversas épocas e suas caracte...