1
A esperança no horizonte
do estéril chão da viagem
reflete ao moço uma fonte,
que para o velho é miragem!
2
A minha casa é um cantinho,
mas, na humildade do espaço,
tem a ternura de um ninho
e a proteção de um abraço!
3
Ante a dor que me espezinha,
a esperança se evapora…
Até a saudade que eu tinha
não quis ficar… foi embora!
4
As folhas secas parecem,
sobre a poeira no chão,
ilusões quando fenecem
no fundo do coração.
5
Até mesmo a companheira,
minha sombra magricela,
sente falta da parceira
que caminhava com ela!...
6
Até na igreja, meu Deus,
quando ela passa ante os santos,
em rondas os olhos meus
vão bebendo os seus encantos!...
7
A trova, quando termina
em perfeita construção,
é uma casa pequenina,
com requintes de mansão!
8
Cai a noite... e uma ansiedade,
no olhar materno e sombrio,
ronda um leito de saudade
que a guerra deixou vazio
9
Com seu drama, a pobre infância,
abandonada e sem lar,
é uma aurora que a ganância
jamais permite raiar.
10
Contemplo mamãe rezando...
e em seu olhar, tão bonito,
vejo a saudade buscando
uma ausência no infinito!...
11
Cruzando céus escarlates,
ferido por estilhaços,
sou gigante nos combates
e criança nos teus braços!
12
De antigos mares eu venho,
vencendo fúrias e abrolhos,
buscar a paz que só tenho
na meiguice de teus olhos!
13
Deixa o sorriso fluir,
rolar pela vida incerta...
para quem sabe sorrir,
há sempre uma porta aberta.
14
Em meu quarto, hoje sombrio,
na solidão que me invade,
brotam versos do vazio,
com requintes de saudade!
15
Em rondas, meu coração,
tropeçando, aqui e ali,
bate em busca da ilusão
que nem sei onde perdi !
16
Essa ternura, Mãezinha,
com que acalentas o filho,
parece chuva mansinha...
regando a roça de milho!
17
Eu sou pequeno, seu moço,
mas quando tiro o chapéu,
minha alma estica o pescoço
e enxerga Deus lá no Céu!
18
Meu coração é sol-posto,
mas, nos campos da quimera,
vira na flor do teu rosto,
um luar de primavera!
19
No aeroporto, o adeus, o abraço...
e no olhar... rastros de dor!
– Lá se foi, rasgando o espaço,
uma promessa de amor!...
20
No inverno longo e silente
que atinge a terceira idade
há um fenômeno envolvente:
não cai neve... cai saudade.
21
O sonho que idealizo
tem, na sua imensidade,
o tamanho do sorriso
de quem mata uma saudade!
22
Parece até uma ironia!...
Mas o medo é o meu escudo...
e, ao ver tanta covardia,
eu tenho medo de tudo!
23
Passarinhando ilusão,
pisei pomares tristonhos,
e trouxe da solidão
a renúncia dos meus sonhos.
24
Pouso Alegre, esse teu brilho
pôs-me a seguir os teus passos;
mesmo não sendo teu filho
quero morrer em teus braços.
25
Quando o inverno esfria o zinco
do meu barraco e me invade,
uma ausência puxa o trinco
e me cobre de saudade!…
26
Velha cabeça, onde os dedos
da ilusão tocam de leve,
és o outono dos segredos
que o inverno cobriu de neve!
27
Vinde, andorinhas, no estio,
festivas, em tarde mansa,
pousar no último fio
que me resta de esperança.
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