quarta-feira, 22 de março de 2017

Nádia Huguenin (1946 - 2008)


1
A nossa história proibida
vence a mágoa e o preconceito
quando o amor da minha vida
vem aninhar-se em meu leito!
2
Ante a insistência que existe
no apelo do teu olhar,
meu coração não resiste...
E pecado é... não pecar!...
3
Ante o olhar austero e frio
daqueles que te criticam,
sê feito as pedras do rio:
vão-se as águas... elas ficam!
4
Ao ver vazio o meu leito,
minh'alma triste te chama.
Mas o vazio do peito
é bem maior que o da cama...
5
Apresentando-me a prole
(que é quase uma multidão),
justificou-se: - Foi mole,
não tenho televisão...
6
Aquele olhar envolvente
que com meus olhos cruzou,
fez qual estrela cadente:
mostrou-me a luz... e passou.
7
Caprichoso, o meu destino,
de mansinho, sem alarde,
feito um travesso menino,
mostrou-me o amor... e era tarde!...
8
Em busca da liberdade
propus fugir dos teus braços,
e, por castigo, a saudade
aprisionou-me em seus laços.
9
Enquanto houver na calçada
crianças dormindo, a esmo,
eu vou - se não fizer nada -
me envergonhar de mim mesmo...
10
Estes versos que componho,
a cada ilusão perdida,
são retalhinhos de sonho
que remendam minha vida.
11
Este vazio em meu peito...
Esta falta de carinhos...
São drogas de longo efeito,
vão me matando aos pouquinhos!...
12
Foi amigo de verdade,
meu exemplo, meu herói.
Hoje meu pai é saudade,
e como a saudade dói!...
13
Foi por falta de carinho,
que errei e perdi meus passos,
mas bendigo o “mau caminho”
que me levou a teus braços…
14
Loucuras... quantas já fiz
nos tempos da mocidade...
"Morri de amor"- fui feliz!
Hoje, vivo de saudade…
15
Não quero fazer fofoca,
nem falar da vida alheia,
mas a mulher do Candoca,
Coitadinha! Como é feia!…
16
Não tem jeito essa loucura...
Nosso amor inconsequente
fez de mim, mulher madura,
uma eterna adolescente!…
17
Na pensão do Deodato
é variado o menu:.
Vai do churrasco de gato
à coxinha... de urubu !
18
No amor que a nós dois encanta
e, para alguns, é até “crime”,
há tanta ternura, tanta,
que, mesmo errado... é sublime!…
19
No hospício, o maluco Otelo
fez um grande zumzumzum:
quis engolir um martelo
para quebrar... o jejum!…
20
No INSTANTE em que, lá na praça,
recebemos nosso irmão,
e cada um nos abraça,
é imensa a nossa emoção.
21
Nossas brigas são tão raras
e a indiferença entre nós
é tanta, que nem reparas
que estamos juntos... e sós.
22
O mundo inteiro condena
nosso amor por ser pecado,
mas eu pago qualquer pena
por um instante ao teu lado!
23
"Perdão" propões ao voltar­,
por mais que isto me doa,
meu corpo quer perdoar,
mas minha alma não perdoa.
24
Perdi sonhos... esperanças,
perdi tudo. E em meu cansaço
tento reter as lembranças
nos versos tristes que faço…
25
- Quero a pensão do menino!"
- berrava - e, na hora H,
teve que piar bem fino:
deu zebra no DNA!
26
Se fofoca desse grana,
minha sogra, dona Eutária,
em menos de uma semana
estaria milionária!
27
Tirei da gaveta o sonho,
limpei o mofo, espanei,
revi meu viver bisonho
e, afinal, recomecei.
28
Ultrapassei meu limite,
mais uma vez te aceitei...
Mas o amor tudo permite
e eu, tola, recomecei.
29
Uma moleza danada...
E, quando a mulher reclama,
sonolento, diz "- Que nada,
eu sou muito bom... de cama...”

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