1
Aquele, em cuja alma boa
viça a flor do querer bem,
esquece a ofensa e perdoa,
sem lançar pedra em ninguém.
2
Árvores há, como a gente,
pois das flores nos matizes,
disfarçam drama pungente
que lhes vai pelas raízes.
3
Caçapava docemente
a todos seduz e prende:
- o seu chão agarra a gente,
que à sua gente se rende…
4
Com bilros de luz flamantes,
a lua velha fiandeira,
na alma feliz dos amantes,
sonhos tece a noite inteira…
5
Dando hoje, com devoção,
minha aula derradeira,
eu sinto a mesma emoção,
como se fosse a primeira!
6
Desprezando a lauta mesa,
São Francisco, rico e nobre,
apóstolo da pobreza,
se fez santo e se fez pobre!
7
De um jogo ou cateretê,
em festas que o povo faz,
quem em Caçapava os vê,
deles não se esquece mais…
8
Do bairro a mulher mais bela
mora na esquina, a Gioconda.
- Rondam tanto a casa dela
que a esquina ficou redonda...
9
Do progresso entressonhado
ao Brasil mostrando a meta,
Lobato - o predestinado -
foi o seu grande profeta…
10
Dos "Florais", em meio às provas,
vai São Francisco, entre flores,
num andor feito de trovas,
levado por trovadores…
11
Em Taubaté não me arrisco
a afirmar, mas acredito,
que em terra de São Francisco,
quem manda é São Benedito!
12
Em "Urupês", cuja trama
tem como base a tragédia,
não raro há lances de drama
em cenário de comédia…
13
Em "Urupês" retratado,
à sombra da Mantiqueira,
lambarizando, opilado,
Jeca é o mesmo a vida inteira…
14
Fez Lobato, após trabalhos
em que na emoção se apura,
de uma colcha de retalhos,
um estendal de ternura…
15
Há nos velhos corações
uma fonte - a da saudade,
que reaviva as emoções
vividas na mocidade.
16
Hoje eu sei que foi loucura...
Mas, ao louco que fui eu,
devo o pouco de ternura
que o bom senso não me deu.
17
Lobato, condor dos Andes,
em seus remígios serenos,
se fez grande para os grandes,
o maior para os pequenos…
18
Lobato deu às crianças,
para os seus dias tristonhos,
todo um mundo de esperanças,
dentro de um mundo de sonhos…
19
Lobato, em "Negrinha", traça
numa síntese sutil,
todo o drama de uma raça
que deu Mãe-Preta ao Brasil!
20
Lobato - o predestinado
pastor que ideias conduz,
do Livro fez um arado,
rasgando sulcos de luz…
21
Lobato teve um destino:
- plantar sonhos e esperanças
nesse mundo pequenino,
que é o coração das crianças...
22
Louvar não há quem consiga
a São Francisco de Assis;
por mais que d'Ele se diga,
sempre é pouco o que se diz!
23
Morro de inveja do mar,
felizardo, vagabundo,
que não se cansa em beijar
as praias de todo o mundo!
24
No céu, entre nuvens belas,
São Francisco, que é pastor,
tange um rebanho de estrelas
rumo ao redil do Senhor.
25
Obra prima do Senhor,
a mulher viu, comovida,
que é dela - a fonte do amor,
que emana a essência da vida.
26
O "Mata-pau" que Lobato
em "Urupês" patenteia,
prova que a vida, de fato,
se nutre da morte alheia…
27
Os corações, quando humanos,
fiéis sempre aos Evangelhos,
são da vida, ao fim dos anos,
como um Missal para os velhos.
28
"...Penso em ti. Mas a esperança,
de ver-te minha, se trunca:
- Meu sonho sempre te alcança,
mas eu não te alcanço nunca...
29
Petróleo e ferro - Lobato!
Ferro e petróleo - Brasil!
- Sugestões para o retrato
de um patriota viril.
30
Pode ter mérito a guerra...
mas, a cada herói que faz,
corresponde, sob a terra,
"quantos soldados da paz"?
31
Protesta, preso à corrente,
o meu cão, sábio profundo:
- Cachorrada dessa gente
que anda, à solta, pelo mundo...
32
Quanto mais a idade avança,
mais me punge o triste fato
de não ser mais a criança
que cresceu lendo Lobato…
33
Que me traias, tu me negas,
mas, traindo-me, te trais:
- O perfume com que chegas,
nunca é o mesmo com que sais...
34
Que o Brasil todo enaIteça,
tanto a Rui, como a PELÉ.
Se um o honrou pela cabeça,
o outro o honrou usando o pé.
35
São Francisco? E agora? Penso,
suspendendo a minha pena:
- como por um santo imenso
numa trova tão pequena?
36
Sempre em lágrimas, tristonhos,
são os olhos das rendeiras,
que a tecer rendas de sonhos
envelheceram solteiras!
37
Solidão é vela acesa
num quarto do solitário,
onde a Saudade e a Tristeza
rezam no mesmo rosário...
38
Toda sogra faz lembrar
um monjolo impertinente:
- se não tem o que socar,
soca a paciência da gente…
39
Velhos nós dois! Sem carinhos,
mas discretos, sem alarde...
Culpa dos nossos caminhos
que se cruzaram tão tarde!
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