quinta-feira, 13 de julho de 2017

Wilma Mello Cavalheiro


1
A festa estava prontinha,
mas tudo às vezes malogra;
pra surpresa da noivinha,
o noivo fugiu com a sogra!
2
"A luz purifica o escuro":
revela a casta Tereza;
e quando o "momento" é impuro,
faz tudo de luz acesa.
3
A minha infância distante
se reflete no meu filho,
por isso, no meu semblante,
o entardecer tem mais brilho.
4
A moça chora num brado
e o padre diz, em voz lenta:
- Pra lavar tanto pecado,
só um tanque de água benta!
5
Anoitece... a paz perdura
no aconchego do galpão;
galopa solta a ternura
em volta do chimarrão.
6
Ante a indecisa galinha,
diz o galo, convincente:
- Não troca o velho, joinha,
por um frango incompetente.
7
Brinquedos da minha infância
que foram meu universo,
hoje, rompendo distância,
são saudades do meu verso.
8
- Chega de versos, de prosa,
diz a garota ao noivinho,
pois tem coisa mais gostosa
pra se fazer no escurinho!
9
Chuta, menina, com jeito,
teu jogo é alegre... peralta.
Depois, apara no peito
porque peito não te falta!
10
Depois do vento ferino,
que me arrancou dos teus braços,
o barco do meu destino
navega roto... em pedaços…
11
Do teu palco iluminado,
ris de mim, sem ter ideia,
do quanto eu sofro calado
na penumbra da plateia.
12
Dulcifico meu sorriso,
louca euforia me invade,
quando chegas, sem aviso,
rompendo o nó da saudade.
13
Ela diz em tom brejeiro:
- Cumpro bem o meu papel.
Quero o amor do marinheiro
e o soldo do coronel.
14
Enfrento o vento malvado,
molhado de chuva e frio,
pois para estar ao teu lado
venço qualquer desafio.
15
Entre dúvidas e medos,
que a distância ocasionou,
fechada, dança em meus dedos
a carta que hoje chegou.
16
Esquece esta vida andeja,
vem tomar um chimarrão,
é cedo, a manhã boceja,
na longa esteira do chão!
17
Esqueço lei, preconceito,
e algum tabu superado,
só para ter o direito
de amanhecer ao teu lado.
18
Esqueço os dias tristonhos,
vou à luta, sem tardança;
ao porto azul dos meus sonhos
regressa a nau da esperança.
19
Esta saudade que é tua
dança no meu pensamento,
como a chuva lá na rua
sob a regência do vento.
20
Este sol fraco, inconstante,
trará luzes de outros sóis,
para amanhã, mais radiante,
te acordar nos meus lençóis.
21
Eu acredito e confesso
que a mais cruel das partidas
é a partida sem regresso,
para o rumo de outras vidas.
22
Feito de fugas e medo,
de regressos e partidas,
nosso amor, mesmo em segredo,
dá mais vida às nossas vidas.
23
Foi preciso muito brio,
quase a coragem faltou,
para enfrentar o vazio
que a tua ausência deixou.
24
Há sempre um rastro de luz
protegendo a caminhada
de quem abriga e conduz
a infância desamparada.
25
Hoje, no ocaso da vida,
tem sabor de eternidade
esta ternura incontida
que floriu na mocidade.
26
Meu chimarrão, tu retratas
meu pampa com perfeição:
por dentro, o verde das matas,
por fora, a cor do meu chão.
27
Minha alma se fortalece,
levo melhor minha cruz,
quando através de uma prece
acho o caminho da luz.
28
“Minuano”, teus intentos
comprovam, em forte estampa,
que és o corsário dos ventos
na imensidão do meu pampa.
29
Na bomba, o beijo deixado,
na entrega, o tremor da mão,
e o meu amor, tão guardado
se traiu no chimarrão!
30
Na lareira um fogo brando
e, entre doses de licor,
nossos corpos desenhando
todas as formas de amor.
31
Não há lei irrevogável,
se amparada na razão;
toda sentença é mutável,
se a luz rasga a escuridão.
32
Não precisa o trovador
ir à lua, ver estrelas,
na noite, em rimas de amor,
ele é capaz de entendê-las.
33
Nesta noite rosicler
a lua, tão feminina,
tem o charme da mulher
e a pureza da menina.
34
O barco da minha infância
cruzou mares... velejou...
chorou saudades... distância...
mas nunca mais regressou.
35
O destino arma ciladas
que só coragem e a fé,
conseguirão, se irmanadas,
manter-nos vivos, de pé.
36
Outrora, a paz benfazeja,
noites de amor sob a lua,
hoje, na noite viceja
o crime, solto, na rua.
37
Peço ao sol, em oração,
e à lua, em seu branco véu,
que não falte um chimarrão
na grande estância do céu!
38
Por tantos textos errados,
somos hoje, sem favor,
dois atores fracassados
no grande palco do amor.
39
Quando a paixão se agiganta,
tão feiticeira e felina,
cala-se a voz na garganta
e só o prazer nos domina.
40
Quando em serena cadência,
na dança que o amor requer,
desnudo sem resistência
meus anseios de mulher.
41
Quando minha alma mentiu,
ao jurar que te esqueceu,
o meu orgulho aplaudiu
a grande atriz que fui eu.
42
Quanto tempo posto fora,
numa procura sem jeito,
sem ver as luzes da aurora,
porque era noite em meu peito.
43
- Que fazias no escurinho,
junto àquele rapagão?
- Não penses mal, papaizinho,
fazia meditação!
44
Quero o torpor, a leveza,
que o licor me propicia,
para acalmar a tristeza
da minha vida vazia.
45
Regressa... tudo te espera...
os teus discos, teu licor,
e uma doce primavera
desfeita em beijos de amor.
46
Roda, criança querida,
teu carrinho... teu pião...
Enquanto a roda da vida
não levar tua ilusão…
47
São brinquedos fulgurantes,
que brilham soltos...ao léu...
as estrelas cintilantes
que a lua joga no céu.
48
Se a Lei Divina se encerra
na paz, no amor, no perdão,
por que rolam pela terra
crianças que não têm pão?
49
Se é feitiço ou se é magia,
não sei, nem quero saber,
só sei que virou mania
este amor que é o meu viver.
50
Sem coragem, dividida,
entre a paixão e a razão,
minha alma é folha caída,
num vendaval de emoção.
51
Sem guerrilha... sem debate...
rola o manto da cobiça,
quando a espada do combate
verga-se à Lei da Justiça!
52
Sem temor e sem ressábios
hoje enfrento o mar fremente,
para no cais dos teus lábios
aportar meu beijo ardente.
53
Se queres manter-te em pé,
ter mais luz em tua andança,
acende o incenso da fé
no castiçal da esperança.
54
Se sofro não perco a calma,
a fé meus passos conduz;
a força que guardo na alma
se renova e acende a luz.
55
Se te esqueceste do texto,
se foste péssimo ator,
não busques nenhum pretexto
para os teus erros no amor.
56
Seu chute ninguém olvida,
atleta bom e sarado,
por isso a “gata” o convida
pra jogar no seu gramado…
57
Tem tanta preguiça, tanta,
e modos tão indolentes,
que quando almoça, não janta,
pra não dar trabalho aos dentes.
58
Tentei fugir de mansinho,
devagar romper os laços;
desisti, qualquer caminho
sempre me leva aos teus braços.
59
Teus cílios, negra cortina,
escondem dos olhos meus,
toda a magia divina
que dança nos olhos teus.
60
Tu és, amor, a alegria,
o meu vinho, o meu licor,
ao raiar de um novo dia,
abrindo as portas do amor.
61
Voltei feliz para vê-la.
Frustração. Não me quis mais.
Somente os olhos da estrela
me viram chorar no cais.

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