1
A frágil rosa em seu galho
depois que o vento passou,
desfolhou-se sobre o orvalho
que a madrugada deixou.
2
A franga sente o perigo,
vendo o frango já galeto,
diz a ele: eu vou contigo
pra rodar no mesmo espeto.
3
A mulher grita, se zanga
quando o marido, afobado,
invés de soltar a franga,
solta um frango congelado.
4
Anda estranho meu gatinho,
parece coisa mandada,
na cama nenhum beijinho,
é só rom-rom e mais nada.
5
Ao Patrão Velho e buenacho,
pedindo, tiro o chapéu:
- Olha um pouco aqui pra baixo,
manda uma bênção do céu.
6
Ao ver o broto nadando,
o vovô, já bem caduco,
se joga na água, gritando:
"Tô maluco, tô maluco!"
7
Apeie, peão, se abanque,
venha tomar chimarrão!
Amarre o pingo ao palanque:
- Aqui, ninguém é patrão!
8
Aquela coroa enxuta,
mal anoitece, ela sai,
dizendo que vai à luta
- só Deus sabe onde ela vai!
9
As lembranças e euforia
dos folguedos de criança
gravei no peito em poesia
onde a saudade descansa.
10
Brigamos qual cão e gato
sem razão, sem um motivo.
Ele me arranha, eu lhe bato,
mas sem meu gato não vivo.
11
Cai a chuva e com malícia,
num jeito todo atrevido,
vai moldando com perícia
teu corpo sob o vestido.
12
Chimarrão, tem mais sabor
quando a bomba prateada
volta trazendo o calor
dos lábios da minha amada!
13
Diz, num porre, o coroinha,
na missa, ao Padre Pimenta:
- Eu só tomei umazinha,
o resto foi água-benta!
14
Hoje, nós dois, no abandono;
perdidos, sem mais escolhas:
– dois galhos secos no outono
que o vento varreu as folhas.
15
Já fui frango revoltado,
dono, rei do meu terreiro.
Hoje, velho, aposentado,
nem subo mais no poleiro.
16
Levando um chute o magrinho
ao jogar uma pelada,
o que já era pouquinho
acabou virando nada.
17
Magro dos pés ao pescoço,
feio do fim ao começo,
o Zeca era o próprio esboço
de uma caveira ao avesso.
18
Mais um Natal se anuncia
e em minha mesa hoje tem:
uma cadeira vazia
a esperar por quem não vem.
19
Marujo ao pisar na areia
traz do mar lendas estranhas,
nunca viu uma sereia
mas fisgou muitas piranhas.
20
Marujo velho, o Raimundo
quando em vez dá uma ensaiada,
levanta a vela e vai fundo
mas qual, só nada, mais nada!
21
Meninas, eis um conselho:
vêde bem por onde andais!
A honra é como um espelho,
se quebrar, não cola mais...
22
Minha gata por capricho
ronda o gato do vizinho.
Mas o danado bicho
sai miando e bem fininho.
23
Na ilusão de ser amado,
sonho a grandeza dos sábios,
bebo o licor do pecado
no cálice dos teus lábios.
24
Não quero saber de intriga
pois cheguei à conclusão:
é melhor viver sem briga,
do que brigar com razão!
25
Na solidão do meu rancho,
nossa rede, que ironia,
ainda presa no gancho,
embala a noite vazia.
26
Nesta taça de licor
transbordando de ternura,
brindaremos nosso amor,
nossos sonhos de ventura.
27
Nosso amor é um triste enredo
que o destino emaranhou,
fez de nós dois um brinquedo
que em tuas mãos se quebrou.
28
O bebum, num corrupio,
cheio de pinga e de mágoa,
não percebendo o desvio,
se foi com os burros n’água.
29
O capeta à Terra veio,
fugindo do fogo eterno
e ao ver o mundo tão feio,
voltou correndo pro inferno.
30
O frango muito fuleiro
pula o muro, canta grosso,
vai ciscar noutro terreiro
e acaba virando almoço.
31
Para brindar a partida
de alguém que já não me quer,
bebo o champanha da vida
nos lábios de outra mulher.
32
Pra sorrir não tenho hora...
nas mágoas não me concentro;
mostro um sorriso por fora,
mesmo chorando por dentro.
33
Quando a sogra vem chegando,
com olhar de cobra mansa,
eu corro, me desviando,
mas ela sempre me alcança!
34
Quando eu cruzar a porteira
para o plano do infinito,
levarei minha bandeira
com meu protesto e meu grito!
35
Que o velhinho em seu trenó,
campeando luas e luas,
tenha compaixão e dó
dos piás que vivem nas ruas!
36
Sogra boa - não se iluda!
Se existiu, morreu à míngua.
A não ser que seja muda
e a boca não tenha língua.
37
Teu amor é uma jangada
que aportou com muito jeito
e agora vive ancorada
nas amarras do meu peito.
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