segunda-feira, 26 de junho de 2017

Elisabeth Souza Cruz

1
A coisa é séria, querido,
tem mulher que é mulher macho…
quando manda no marido
faz dele gato e capacho!
2
A minha ideia não míngua,
e eu lhe mando “plantar fava”,
pois compondo um trava língua,
minha própria língua trava!
3
A minha luz se consagre
nos momentos de tristeza…
Não peço a Deus um milagre…
peço apenas… fortaleza!
4
Bebo lembranças em tragos,
ao ponto da embriaguez,
para curar os estragos
que a tua ausência me fez!
5
Bobeira?!… Maior bobeira
é o salário do operário
que trabalha a vida inteira
e não fica milionário!
6
Brilhantes?!! – Pois sem trabalho,
sem ramo profissional,
a moça arranjou um galho
no “distrito” e… é federal!!
7
Brotinho assanhado inventa
mil jogadas para o amor
e o velhinho até que tenta,
mas sai sempre perdedor!!!
8
Buzinando o caminhão,
surpresa boa é a do otário
que dá tempo ao Ricardão
para se esconder no armário!
9
Cabelo é um negócio louco...
Há divergências fatais:
- Na cabeça, um fio é pouco;
mas... na sopa... ele é demais!!!
10
Com duplo sentido, a “dança”
é palavra que marcou:
– nem sempre quem dança, cansa…
mas quem se cansa… dançou!
11
Declarar-me não me atrevo,
com palavras mais ousadas...
E assim os versos que escrevo
são propostas camufladas!... 
12
Deixo a roça na estação,
trouxe os sonhos na bagagem,
mas a cidade é a impressão
de que eu perdi a viagem!
13
Do nosso amor resta o embate
neste deserto onde eu morro,
pois teu regresso é o resgate 
que não chega em meu socorro!
14
Do teu queijo eu tiro um naco
pois a minha ideia logra…
mudo de pau pra cavaco,
que tal falarmos de… sogra?
15
Em nosso amor conflitante
as dimensões são iguais:
- tanto faz, longe ou distante,
é sempre longe demais!
16
E por falar em cantada
quem canta seu mal espanta?
Eu sou tão desafinada
que nem galo se levanta!!!
17
Essa renúncia inimiga
que diz não, se eu quero sim,
é uma voz fazendo intriga
quando responde por mim!
18
É surpresa repetida,
surpresa mesmo... e bendigo
cada instante em minha vida
me repetindo contigo!
19
É tão forte a intensidade
das loucuras da paixão,
que no amor a insanidade
é o que eu chamo de razão.
20
Eu falo e tenho respaldo,
pois em canja de galinha,
para aumentar mais o caldo,
pegue a sopa da vizinha!.
21
Eu não me prendo à verdade
e à razão sempre me imponho,
porque toda a realidade
antes de tudo foi sonho! 
22
Eu não temo o breu da estrada
se a tristeza não transponho,
porque há sempre uma alvorada
na alegria do meu sonho!
23
Eu sou guerreira e não nego
meu instinto lutador,
mas renuncio e me entrego
se a luta for por amor!
24
Eu também tô quase nessa
e em loja de raridade,
se eu entro, saio depressa
pois pareço antiguidade!
25
É verdade! Uma mamata
morar longe de patrão…
só não se pode é na mata
ficar na moita…. sem cão.
26
Falando em exploração,
nunca vi maior babado…
a mulher do capitão,
como explora o rebolado!!!
27
Falando num bom petisco,
quem não se arrisca, não prova,
como é bom correr o risco
de preparar uma trova!!!
28
Feito internauta voraz,
tu clicas minha paixão,
e eu não sou sequer capaz
de deletar a intenção!
29
Lá na praça do Suspiro,
o vovô, todo em genérico:
-Eu tento, assanho e transpiro,
mas quem sobe é o Teleférico!
30
Minha saudade é um desvio
que a solidão me propõe
para fugir do vazio
que a tua ausência me impõe!
31
Na angústia que me consome
neste amor de insanidade,
a minha pressa tem nome
e ela se chama…saudade!
32
Não me assusta o breu da estrada
se a tristeza não transponho,
porque há sempre uma alvorada
na alegria do meu sonho.
33
Não quero fama nem glória,
dispenso os bens de valor,
para ter na minha história
o prêmio do teu amor!
34
Não tenho arrependimento
nesta paixão reprimida...
foste a ilusão de um momento
que valeu por toda a vida!
35
Nem mesmo a ilusão remenda,
com seus fios de saudade,
os velhos sonhos de renda
que eu teci na mocidade!
36
Nem o nosso amor desfeito
vai me tirar a alegria...
Tenho as lembranças no peito
e refaço a fantasia!
37
No desfile à fantasia,
de um carnaval de ilusão,
a saudade é a alegoria
que enfeita meu coração!
38
Nosso amor chegou no estágio
de pouca briga e... eu pressinto
que esse marasmo é presságio
de amor... que está quase extinto!
39
Numa troca de “mulé”,
o “mané” ficou na mão,
que a moça que dava “pé”
tinha um baita sapatão!
40
Num recanto bem singelo,
sem luxo ou bens de valor,
meu rancho vira um castelo
quando reina o teu amor!
41
Nunca vi maior tolice
futricar a vida alheia,
pois quem faz disse-me-disse
vai cair na própria teia!
42
O hífen de vice-prefeito,
por certo, não caiu, não,
pois logo depois do pleito
sempre dá separação!
43
O homem de argola, também,
ao machismo não se furta:
– faz da mulher seu refém
e a mantém na rédea curta!
44
O meu vizinho se poupa
já que o cansaço é normal…
Quando fala: “Tira a roupa!”,
tira a roupa do varal!
45
Orgulho bobo... vaidade,
capricho do amor sobejo...
Eu morrendo de saudade,
fingir que não te desejo!
46
O trânsito interrompido,
muitas frutas pelo chão…
E o bebum, ao ser punido:
-“Foi batida de limão!”
47
Panela que não apita
é porque não dá pressão
e mulher quando se agita
tem fogo no caldeirão!
48
Pode quem quiser falar
pois ninguém sabe o que diz,
tendo a mulher para amar
o homem ficou foi… feliz!
49
Por falar em confissão,
confessa a moça (e reclama):
- Tão pesado é o meu patrão
que quebrou a minha cama!
50
Por mais que eu seja refém
da pressa do teu abraço,
meu sonho não vai além
da pequenez do meu passo!
51
Pouco importa que tu venhas
apressado, em teu fulgor,
pois trazes contigo as senhas
para os feitiços do amor!
52
Pula o muro o Ricardão,
fura a calça na passagem...
E o furo, na confusão,
foi furo de reportagem!
53
Qualquer que seja o motivo
que a razão nos tente impor,
não se passa o corretivo
quando um erro é por amor!
54
Quando o orgulho é o timoneiro
das viagens da paixão,
qualquer que seja o roteiro,
não encontra a direção!
55
Quando tem panela cheia
no fogão da cozinheira
sempre acaba em briga feia
que o patrão quer dar “rasteira” !!
56
Querido.. eu não faço intriga,
mas veja a situação:
na moita, anda dando briga,
por dinheiro em cuecão!!
57
Recuso o amor, mas por mim,
do fundo do coração,
diria mil vezes sim
sem dar ouvido à razão!
58
Saudade, velho retrós,
guarda os fios, dia a dia…
Quando quer soltar a voz,
desenrola a nostalgia!
59
Sei também de um desespero,
pois o genro, de mutreta,
pôs pimenta no tempero
e a sogra ficou zureta!
60
Se não pode ser de verdade
esse amor mais que tardio,
que seja felicidade
na ilusão de um desvario!
61
Sendo a voz de toda gente,
a Imprensa firme não cala
e quanto mais coerente
bem mais forte é a sua fala! 
62
Se o teu amor foi miragem
no deserto da paixão,
que importa... me deu passagem
para o oásis da ilusão.
63
“Sopre a velinha , sem dó!”
e, na festinha animada,
sopraram tanto a vovó
que ela ficou resfriada!
64
Tu me propões cessar fogo
e eu te proponho atiçar,
porque o nosso amor é um jogo
que é fogo de se apagar!
65
Vivo em constante conflito
entre o delírio e a razão:
- Meu sonho alcança o infinito,
meus pés... tropeçam no chão!

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