1
Ao casarem-se, ia tudo
de tal maneira adiantado,
que um convidado ficou,
para ver o batizado…
2
Araxá, aquela estância,
na qual a cheirosa dama
paga elevada importância
para sujar-se de lama.
3
Assim que o verme esquelético
viu dois defuntos na mesa,
disse à mulher: – O diabético
fica para a sobremesa.
4
A sua barba grisalha,
além de esconder-lhe o papo,
é também lenço, toalha,
e, às refeições, guardanapo.
5
Até quanto aos dedos há
a sorte a diferenciá-los
os das mãos ostentam joias,
os dos pés suportam calos,
6
Certo músico loquaz,
na campa da tia e mestra,
em vez de por: Aqui jaz…
escreveu: Aqui orquestra…
7
Chega a conta do oculista,
e o incrível se me depara:
o tratamento da vista
custa-me os olhos da cara.
8
Cirurgia, cirurgia,
não se escuta outra cantiga.
O cara nascer devia
com fecho-ecler na barriga.
9
Contra a líquida vingança
de um inimigo tratante,
sobre esta cova se lança
um impermeabilizante.
10
D. Pedro Primeiro grita
contra a opressão. E está dito.
Assim o Brasil conquista
a independência – no grito!
11
Encontrei meu bem chorando,
comentei: – Tristeza tola…
Disse-me, a faca largando:
– Não é tristeza, é cebola!
12
Entre nuvens finas jaz,
lá no céu, a lua albente,
como um grande seio atrás
de um sutiã transparente.
13
Era um lago a minha vida,
só repouso e solidão,
até chegares, querida,
com pedregulhos na mão.
14
Escritor dos mais sagazes,
nem precisa de retoques.
É filósofo, com frases
em mais de cem para-choques…
15
É tão limpo e perfumado,
que o que expele, dão notícia,
ora é água-de-colônia,
ora é pasta dentrifícia.
16
Leis, que quantidade abriga
a nossa pátria gentil!
Porém falta uma que diga:
“Cumpram-se as leis do Brasil!”
17
Madama vai ao peixeiro:
– A senhora quer Robalo?
Ela, mostrando o dinheiro:
– Não, senhor, quero comprá-lo!
18
Manda-se apertar o cinto;
já, porém, tamanha fome,
que hoje o cinto não se aperta,
cinto agora já se come!
19
Meu bem, procura alcançar
lá no céu o gozo eterno.
Quanto a mim, vou descansar,
tranquilamente, no inferno.
20
Não cobrindo quase nada
de seus seios opulentos,
mostra a bonita advogada
dois robustos argumentos.
21
Nesta luta encarniçada,
na vida inglória e sem brilho,
a mãe é sempre lembrada
por quem não gosta do filho.
22
Onde o homem mal se comporta,
entre insuportáveis cheiros,
vê-se, pendurado à porta,
este cartaz: “Cavalheiros”.
23
Pedes só a mão da moça,
porém, maldade sem nome,
dão-te um corpo – que se veste!
mais uma boca – que come!
24
Pedras não faltam… E há gente
que tem a ideia ridícula
de, penosa e inutilmente,
fabricá-las na vesícula.
25
Perdeu sua virgindade
a garota quase nua.
– Como foi? pergunta o pai
– Eu sei lá? Caiu na rua…
26
Quis beijar a coletora,
ordenou-me distraída:
– Traga-me um requerimento
com firma reconhecida.
27
Se achas que a felicidade
com a riqueza não condiz,
traz-me o dinheiro e verás
como ficarei feliz!
28
Se, ao fim do mandato, a salvo
lá se chega, é surpreendente.
Aqui se faz “tiro ao alvo”,
lá é “tiro ao Presidente”.
(trova falando do Estados Unidos)
29
Tudo grátis, boia e cama.
Tanto conforto e não gostas?
Deram-te até um pijama
com algarismos nas costas!
30
Uma grotesca figura
por detrás e pela frente;
trinta metros de feiura
num metro e trinta de gente.
31
Viram-se num piquenique
e, apesar de quase estranhos,
fizeram uma loucura,
loucura de olhos castanhos.
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