terça-feira, 27 de junho de 2017

Judith Cocarelli

1
A conduzir o ceguinho
andava tranquilamente.
Ignora, o rapazinho
quanto vale, como é gente!
2
A gíria já é um fato
que nós temos que aceitar:
o bonito é um barato
e curtir, apreciar…
3
Ainda tenho esperança
se torne realidade
ver nosso mundo-criança
atingir maioridade.
4
A programação assumo
da vida que desejei,
hoje arrumo e desarrumo
este rumo que tomei.
5
Capricórnio, em que nasci,
deu-me esta teimosia:
Não creio em mal que não vi,
creio no bem, todavia.
6
Com fervor bem verdadeiro
eu rogo hoje ao Senhor
que o meu povo, o brasileiro,
ensine ao mundo o amor!
7
Com “meu” caracol brincava,
num mundo de fantasia;
quantas vezes invejava
a concha em que se escondia!
8
Como o poeta julguei
poder estrelas contar
mas, sem querer, misturei
com elas o teu olhar…
9
Como último carinho,
quisera sentir na face
o calor de um raiozinho
de sol, que assim, me afagasse…
10
Corremos, com esperança,
atrás da felicidade.
No final da nossa andança,
restam cansaço e saudade…
11
Cultivo uma aspiração
neste caro mundo meu:
Que ao parar meu coração
eu fiquei a ouvir o teu…
12
Deixe embora, em minha andança
de ver, ouvir, caminhar,
se me restar a esperança
continuarei a sonhar!
13
Dispensando-lhe carinho
damos-lhe alguma esperança:
lembremo-nos que o velhinho
já foi, um dia, criança…
14
Disseram-me que “a esperança
é a última a morrer”.
Às vezes, em nossa andança,
ela nem chega a nascer!
15
Durante o mês de dezembro,
quando o Natal se aproxima,
todos os dias relembro
o meu tempo de menina…
16
Ela não é tua filha
mas dá-lhe alguma atenção;
a criança maltrapilha
é filha de teu irmão!
17
Gostaria que a esperança
retornasse à minha vida
para ser, como em criança,
na boneca prometida…
18
Muita gente, nesta vida,
desejaria voltar
ao seu ponto de partida
e novo rumo tomar…
19
Nós não temos, na cidade,
luar como o do sertão,
mas dá-nos felicidade
a pequenina fração…
20
Numa oração muito minha
eu peço, a todo momento,
poupe Deus minha mãezinha
de ter qualquer sofrimento.
21
O luar, meu aliado,
o quarto dele invadiu
levando-lhe meu recado…
Mas dormia, nem sentiu!
22
O sol se esvai, no horizonte,
oferecendo ao olhar
uma inesgotável fonte
para o nosso versejar.
23
Passei minha vida inteira
num rumo só, trabalhar.
Parece que foi asneira,
porque eu gosto é de rimar!
24
Peço a Deus, com esperança,
num fervoroso rogado,
note-se em toda criança
um sorriso ensolarado!
25
Pedimos com devoção,
tudo que nos dá prazer
e esquecemos, na oração,
de, no entanto, agradecer!
26
Pelo sol vivo ansiando!
Quando chove ou anoitece
quisera estar habitando
o país em que aparece.
27
Pleno dia, plena estrada,
quero o sol apreciar
mas à noite, extasiada,
que não me falte o luar!
28
Por quem não tem agasalho
por quem num leito padece…
Acredito que mais valho
se os incluo em minha prece.
29
Preces feitas, decoradas,
repetidas todo tempo
não valem as inventadas
na hora do sofrimento.
30
Procurando no Universo
algo como o teu olhar
para rimar o meu verso,
eu encontrei o luar!
31
“Quem espera sempre alcança”.
Crê no provérbio com fé
e aguarda, na tua andança,
sapato para o teu pé…
32
Queremos todos: Você,
ele, o judeu, o batista
ter razão. Como se vê,
questão de ponto de vista…
33
Quero estrelas, o luar,
o sol, as flores, o vento,
as águas verdes do mar
que são meu deslumbramento!
34
Recebeste a tua herança
porém, não cruzes os braços;
é bom que da tua andança
possa deixar alguns traços.
35
Se percebes que essa estrada
causou-te decepção,
faz uma pausa e, calada,
ruma em outra direção.
36
Se quisermos um limão
bravo, galego ou de cheiro,
há que escolher, de antemão,
o tipo de limoeiro…
37
Se tu queres te inspirar
em algo muito pungente,
procura mentalizar
uma criança doente.
38
Vou te ensinar, com carinho,
lição que já sei de cor:
Quase em silêncio, baixinho,
é que se ama melhor.

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