segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Arlindo Tadeu Hagen (Trovas em Preto & Branco)

 


1
A casa quase vazia
mostra ao ator, numa trama,
que outro drama se inicia
quando ele encerra o seu drama
2
A saudade em meu destino
é uma criança levada
que, brincando, bate o sino
de uma igreja abandonada.
3
Bate à porta... e a desconfiança
põe o Salim na agonia:
tem mais medo de cobrança
do que gato de água fria!
4
– Casamento é mesmo o fim!
diz ela, no seu enfado.
– Quem suspirava por mim
agora ronca ao meu lado!
5
Diz o burro: - Não dá pé
minha paquera travessa!
Não sei fazer cafuné
numa "mula sem cabeça"!!!
6
Ela vive namorando
no escurinho atrás do muro
e por isto andam chamando
seu namoro de ... "namuro"!
7
Faltaram surpresa e encanto
em nosso encontro no cais...
Eu te esperei tanto, tanto,
que eu nem esperava mais...
8
Infância é um brinquedo usado
que um dia a vida resolve
tomar um pouco emprestado
e nunca mais nos devolve.
9
Maria é um resto somente
no cais, largada ao desdém...
ontem - mar de tanta gente...
hoje - porto de ninguém!...
10
Não sei de temeridade
maior do que andar sozinho.
A presença da amizade
encurta qualquer caminho.
11
O toureiro Chico Louro
é chifrado onde estiver:
Na tourada... pelo touro,
No forró... pela mulher.
12
Saudade são velhos trapos,
pedaços do coração,
que fica feito farrapos
na cerca da solidão!

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SOBRE AS TROVAS DE ARLINDO
por José Feldman

As trovas de Arlindo Tadeu Hagen exploram temas como saudade, solidão e as nuances da vida cotidiana. Cada uma traz uma reflexão poética sobre relacionamentos, memórias e a passagem do tempo.

1 – A Casa Quase Vazia: Reflete sobre a transição e o ciclo da vida, onde o encerramento de uma fase dá início a outra.

2 – Saudade em Meu Destino: A saudade é personificada como uma criança travessa, simbolizando a inocência perdida e a nostalgia de tempos passados.

3 – Desconfiança e Medo: Retrata a tensão emocional que surge em situações de incerteza, usando uma metáfora leve e humorística.

4 – Casamento e Desilusão: Expressa a frustração que pode surgir após o casamento, contrastando expectativas românticas com a realidade do cotidiano.

5 – Paquera e Humor: Usa uma metáfora divertida para falar sobre as dificuldades na conquista, misturando elementos de folclore.

6 – Namoro nas Sombras: Sugere que o amor pode ser clandestino, refletindo sobre a natureza oculta das relações.

7 – Expectativas Frustradas: Captura a desilusão de um encontro que não corresponde às esperanças.

8 – Infância e Perda: Uma meditação sobre a fragilidade da infância, que é temporária e se perde com o tempo.

9 – Desamparo de Maria: Ilustra a solidão e o descaso que a vida pode trazer, usando a metáfora de um porto deserto.

10 – Amizade e Solidariedade: Valoriza a importância da amizade como um alicerce que torna a jornada da vida mais suportável.

11 – Toureiro e Identidade: Brinca com a ideia de que a identidade é moldada pelas experiências e interações sociais.

12 – Saudade e Solidão: Usa a imagem de trapos para simbolizar os sentimentos desgastados que ficam após a perda.

CONCLUSÃO
A saudade é uma presença constante nas trovas, destacando a nostalgia e a perda. A ideia de que a infância e momentos passados não podem ser recuperados ressoa fortemente. Muitas trovas abordam a solidão e o desamparo, especialmente em contextos de amor e amizade. A desilusão no casamento e a complexidade das relações são temas recorrentes.

Arlindo utiliza o humor para abordar situações sérias, como em "A desconfiança" e "O toureiro Chico Louro". Essas trovas trazem leveza, permitindo o leitor rir de situações cotidianas. Usa metáforas e imagens vívidas, como "mar de tanta gente" ou "trapos do coração", para transmitir emoções profundas e criar conexões visuais com o leitor.

A combinação de humor, nostalgia e reflexão oferece um espaço para que os leitores se identifiquem com as experiências descritas. A simplicidade das palavras contrasta com a profundidade dos sentimentos, tornando suas trovas acessíveis e ressonantes.

A ironia em algumas trovas não apenas diverte, mas também provoca reflexão. Ele usa o humor para expor verdades sobre a vida e as relações, permitindo que os leitores se identifiquem com as situações de forma leve, mas profunda. 

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Open. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

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