quinta-feira, 31 de outubro de 2024

José Valdez de Castro Moura (Trovas em Preto & Branco)

 

por José Feldman

Análise das trovas e relação de suas temáticas com literatos brasileiros e estrangeiros de diversas épocas e suas características

Trova 1.
As afrontas do passado
não guardo! Vou esquecê-las!
Pois bem sei que um céu nublado
não me deixa ver estrelas!

O eu lírico expressa um desejo de libertação das mágoas do passado. A metáfora do "céu nublado" representa a obscuridade das lembranças que obscurecem a visão das "estrelas", simbolizando esperanças e sonhos. Aqui, a luta interna entre lembrar e esquecer é palpável.

Álvares de Azevedo explora a melancolia e a luta contra as recordações dolorosas em suas obras, como em "Noite de Luar". A ideia de esquecer o passado para ver as estrelas reflete seu tema da busca por libertação das mágoas.

Adélia Prado escreve sobre a complexidade das memórias e a necessidade de superação. Seus versos transmitem um tom de reflexão que ressoa com a ideia de deixar o passado para trás.

O indígena brasileiro Ailton Krenak (1953, Minas Gerais) aborda a memória e a luta dos povos indígenas diante da colonização e da perda de suas terras. Em "Ideias para Adiar o Fim do Mundo", ele reflete sobre a importância de lembrar e resgatar a história, ressoando com a ideia de esquecer as "afrontas do passado".

John Keats (1795-1821, Inglaterra) lida com a ideia de memória e a luta para esquecer em poemas como "Ode a uma Urna". Sua sensibilidade em relação ao tempo e à beleza efêmera reflete a busca por libertação das mágoas do passado.

Billy Collins (1941, EUA) explora a memória e a nostalgia com um tom leve e irônico, como em "The Lanyard", refletindo sobre a luta entre lembrar e esquecer.

Trova 2. 
Cante a paz, o amor fecundo,
torne a vida mais risonha
e sem mágoas, porque o mundo
não perdoa a quem não sonha!

O convite para cantar a paz e o amor sugere uma busca ativa por felicidade e harmonia. O contraste entre "paz" e "mágoas" enfatiza que o mundo não perdoa a inatividade; sonhar é fundamental para superar as dores da vida.

Guilherme de Almeida frequentemente exalta o amor e a busca pela felicidade, como em "Soneto da Fidelidade". Sua poesia é otimista e busca celebrar a vida, alinhando-se à ideia de cantar a paz e o amor.

A poetisa indígena brasileira Eliane Potiguara (1955, Paraíba), celebra a cultura e a conexão com a natureza em seus poemas. Sua obra, que aborda a paz e o amor entre os povos, reflete a busca por harmonia e respeito, alinhando-se à temática da trova.

A poetisa nativa americana Joy Harjo (1949, EUA), a primeira poeta laureada dos EUA, frequentemente celebra o amor e a conexão com a natureza em seus poemas, como em "An American Sunrise". Sua ênfase na paz e na harmonia com o mundo reflete a busca por um amor fecundo.

Pablo Neruda (1904-1973, Chile) é conhecido por sua celebração do amor e da vida em poemas como "Soneto XVII". Sua linguagem apaixonada e imagética destaca a importância da paz e do amor.

Mary Oliver (1935-2019, EUA) frequentemente aborda a beleza do amor e a simplicidade da vida em seus poemas, como em "Wild Geese", transmitindo uma mensagem de esperança e conexão.

Trova 3.
Coração, inda pranteias
tantas perdas, nostalgias...
E, de angústias estão cheias
as minhas noites vazias!

O coração é personificado e expresso como um ente que sofre. As "perdas" e "nostalgias" refletem a tristeza acumulada ao longo do tempo. As "noites vazias" simbolizam solidão e desespero, sugerindo uma luta interna constante.

Casimiro de Abreu conhecido por sua poesia sentimental, aborda a dor da perda e a nostalgia em versos como "Meus Oito Anos". A tristeza do eu lírico ecoa a dor expressa na trova.

Lígia Fagundes Telles, em suas narrativas, explora a solidão e a nostalgia, refletindo sobre emoções profundas e complexas que se conectam com o sofrimento do eu lírico.

O indígena brasileiro Daniel Munduruku (1964, São Paulo) explora a dor e a tristeza em sua obra, abordando a luta do povo indígena e a saudade das tradições perdidas. A sua sensibilidade em relação às emoções ressoa com a ideia do coração que pranteia.

Alfred Lord Tennyson (1809-1892, Inglaterra) explora a dor da perda em poemas como "In Memoriam". Seu tom melancólico e reflexivo ressoa com a tristeza do eu lírico.

Sylvia Plath (1932-1963, EUA) aborda a dor e a angústia emocional em sua obra, especialmente em "Lady Lazarus", refletindo a luta interna do eu lírico.

Trova 4.
Discórdia, sonhos frustrados
e as mágoas não resolvidas
são os nós não desatados
das cordas das nossas vidas…

Esta trova fala sobre as tensões e desilusões que permeiam a vida. Os "nós não desatados" representam conflitos não resolvidos e a complexidade das relações humanas, sugerindo que essas questões internas afetam a realização pessoal.

Olavo Bilac toca em temas de desilusão e conflitos em sua obra, especialmente em sonetos que refletem sobre a vida e suas frustrações.

Hilda Hilst aborda a complexidade dos relacionamentos e os conflitos internos, refletindo sobre a discórdia e a busca por resolução em poemas como "A Obscena Senhora D".

W.B. Yeats (1865-1939, Irlanda) frequentemente lida com conflitos e desilusões em sua poesia, como em "The Second Coming", onde a discórdia e a crise são temas centrais.

Ted Hughes (1930-1998, Inglaterra) explora a frustração e a dor em seus poemas, refletindo sobre a luta humana contra as adversidades, como em "The Thought-Fox".

Trova 5.
Enfrento a dor tão constante
deste sofrer que é demais:
quero a volta de um instante
que não volta nunca mais…

A dor é descrita como uma presença constante e desgastante. O desejo pela "volta de um instante" perdido revela uma nostalgia profunda, sublinhando a impossibilidade de recuperar momentos passados. Essa reflexão sobre a efemeridade do tempo é central na obra.

Augusto dos Anjos, conhecido por sua poesia sombria, Anjos explora a dor e a melancolia em obras como "Eu". Sua visão do sofrimento ressoa com a busca do eu lírico por momentos perdidos.

Márcio Antônio Ramos escreve sobre a dor existencial e a luta contra a passagem do tempo, refletindo sobre momentos que não podem ser recuperados, semelhante à busca na trova.

A indígena brasileira Kátia Emygdio (1978, Rio de Janeiro) aborda a dor e as lutas diárias enfrentadas pelos povos indígenas, refletindo sobre a persistência da dor em suas poesias e na vida cotidiana.

A poetisa nativa americana N. Scott Momaday (1934, EUA) escreve sobre a dor e a luta em suas obras, como em "House Made of Dawn". Sua poesia reflete a constante presença da dor e a busca por momentos de beleza perdida.

Charles Baudelaire (1821-1867, França) aborda a dor e a melancolia em "As Flores do Mal", refletindo sobre o sofrimento contínuo e a busca por momentos perdidos.

Derek Walcott (1930-2017, Santa Lúcia) explora a dor e a busca por identidade em sua obra, refletindo sobre a relação com o passado e a dor persistente.

Trova 6.
Jamais busco o falso atalho
da glória não merecida...
É no suor do trabalho
que se constrói uma vida!

O eu lírico valoriza a autenticidade e o trabalho duro em contraposição à busca por reconhecimento não merecido. Essa estrofe enfatiza a construção de uma vida digna e significativa por meio do esforço e da honestidade.

Cecília Meireles valoriza a autenticidade e o esforço real em sua obra, refletindo a necessidade de construir uma vida com dignidade e honestidade, como em "Romanceiro da Inconfidência".

Fabrício Carpinejar fala sobre a importância do trabalho e da honestidade em suas crônicas e poesias, refletindo a busca por um caminho verdadeiro e significativo.

O indígena brasileiro Kaka Werá Jecupé (1953, Paraná) fala sobre a autenticidade e a necessidade de viver em harmonia com a natureza. Sua obra enfatiza a importância do verdadeiro caminho, ressoando com a valorização do trabalho duro e da autenticidade.

Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832, Alemanha) valoriza o autoconhecimento e o trabalho árduo em obras como "Fausto", enfatizando a importância da autenticidade na vida.

Rupi Kaur (1992, Canadá) fala sobre a autoaceitação e a importância de viver de forma autêntica em suas poesias, promovendo a ideia de construir uma vida com dignidade.

Trova 7.
Luz débil que bruxuleia,
mesmo assim ela persiste:
- a minha paz é candeia
no viver de um homem triste !

A "luz débil" é uma metáfora da esperança que persiste, mesmo em meio à tristeza. A "candeia" simboliza a paz interior que se mantém acesa, mesmo quando o eu lírico se sente perdido ou desolado.

Fernando Pessoa (heterônimo Alberto Caeiro), escreve sobre a simplicidade e a luz da natureza, refletindo a ideia de esperança e persistência, mesmo em tempos de tristeza.

A poetisa nativa americana Linda Hogan (1947, EUA) utiliza a natureza e a luz como metáforas de esperança e resistência em sua poesia. Em "Solar Storms", ela fala da persistência da vida e da esperança, refletindo a busca pela paz em meio à tristeza.

Emily Dickinson (1830-1886, EUA) utiliza a imagem da luz como símbolo de esperança e persistência em poemas como "Hope is the thing with feathers", refletindo a busca por paz em tempos difíceis.

Nayyirah Waheed (1983, EUA) aborda a luta pela paz interior e a busca por esperança em seus versos, utilizando metáforas poderosas que ressoam com a luz que persiste na escuridão.

Trova 8.
Malgrado as tristes lembranças
prossigo a viver sonhando,
acalentando esperanças
que a tristeza foi matando…

Apesar das "tristes lembranças", o eu lírico continua a sonhar e alimentar esperanças. Isso sugere uma resiliência e uma determinação de não se deixar vencer pela tristeza, embora essa luta seja difícil.

Machado de Assis explora a memória e a esperança em várias de suas obras, como em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", refletindo sobre as tristezas passadas.

Ana Cristina César, em seus poemas frequentemente lida com a memória e a busca por novos começos, refletindo a resiliência diante de lembranças dolorosas.

O indígena brasileiro Davi Kopenawa Yanomami (1956, Roraima) fala sobre a memória e a importância de recordar as tradições e a cultura Yanomami em sua obra "A Queda do Céu". Sua reflexão sobre a luta e as lembranças ressoa com a ideia de acalentar esperanças.

Robert Frost (1874-1963, EUA) explora a memória e a transição entre a tristeza e a esperança em poemas como "The Road Not Taken", refletindo sobre a resiliência diante das lembranças.

Claudia Rankine (1972, EUA) lida com a memória e a luta contra a opressão em sua obra "Citizen", onde a resiliência frente às tristezas é um tema central.

Trova 9.
Não lastime as tristes horas
da viagem que angustia...
Viver é criar auroras
no ocaso de cada dia…

A estrofe sugere um olhar positivo sobre as dificuldades. "Criar auroras" no "ocaso de cada dia" é uma metáfora poderosa que enfatiza a possibilidade de renovação e esperança, mesmo nas horas mais sombrias.

Vinicius de Moraes frequentemente fala sobre a passagem do tempo e a beleza do cotidiano, como em "Soneto de Separação", onde há um convite à renovação e à criação de novas possibilidades.

Rupi Kaur (1992, Canadá) aborda a transformação e a beleza que podem surgir do sofrimento, refletindo sobre a criação de "auroras" em momentos difíceis.

Henry Wadsworth Longfellow (1807-1882, EUA) fala sobre a beleza da vida e a possibilidade de renovação em poemas como "A Psalm of Life", abordando a criação de novas oportunidades.

Ocean Vuong (1988, EUA) reflete sobre a passagem do tempo e a criação de novos começos em sua obra "Night Sky with Exit Wounds", enfatizando a beleza que pode surgir da dor.

Trova 10.
Nos garimpos desta vida,
que o destino abandonou,
eu sou bateia esquecida
que nem cascalho pegou.

O eu lírico se compara a uma "bateia esquecida", sugerindo sensação de desvalorização e abandono. Essa imagem evoca a busca por algo precioso em uma vida que parece não oferecer recompensas, refletindo a luta existencial.

Carlos Drummond de Andrade explora a busca por significado em uma vida que parece vazia, como em "Quadrilha", onde a insatisfação é um tema central.

Alexandre de Almeida reflete sobre a desilusão e a busca por valor em sua poesia, abordando a sensação de abandono e a luta pela realização pessoal.

O nativo americano Sherman Alexie (1966, EUA) explora a busca por identidade e significado em suas obras, como em "The Lone Ranger and Tonto Fistfight in Heaven". Sua reflexão sobre as experiências difíceis da vida ressoa com a ideia de garimpar valor nas dificuldades.

William Wordsworth (1770-1850, Inglaterra) explora a busca por significado e beleza nas experiências cotidianas em "I Wandered Lonely as a Cloud", ressoando com a busca por valor na vida.

David Whyte (1955, Inglaterra) aborda a busca por significado e a exploração da vida em suas poesias, refletindo sobre as experiências que moldam nossa jornada.

Trova 11.
O tempo, só por maldade,
deixou marcas do desgosto,
nas rugas de ansiedade
que hoje trago no meu rosto.

O tempo é personificado como um agente maligno, responsável por deixar "marcas do desgosto". As "rugas de ansiedade" são uma representação física do sofrimento emocional, indicando que as experiências de vida deixam cicatrizes visíveis.

Mário de Andrade explora a passagem do tempo e suas consequências em obras como "Macunaíma", refletindo sobre as marcas que o tempo deixa na vida das pessoas.

Adriana Falcão fala sobre o tempo e suas marcas em suas poesias e crônicas, refletindo sobre as experiências que moldam a vida e deixam cicatrizes.

T.S. Eliot (1888-1965, EUA) explora a passagem do tempo e suas consequências em "The Love Song of J. Alfred Prufrock", transmitindo uma sensação de ansiedade e marcas deixadas pelo tempo.

Alice Oswald (1966, Inglaterra) reflete sobre o tempo e suas marcas em sua obra "Dart", explorando a relação entre memória e passagem do tempo.

Trova 12.
Tanta mentira e incerteza
vivi nessa vida e, assim,
eu constato, com tristeza,
que a vida passou por mim…

O eu lírico reflete sobre as desilusões e a incerteza que permeiam sua vida. A afirmação de que "a vida passou por mim" expressa um sentimento de impotência e a percepção de que, apesar das vivências, algo essencial foi perdido.

Cruz e Sousa aborda a incerteza e a busca por sentido em seus versos, refletindo o desencanto com a vida em obras como "Broquéis".

Elisa Lucinda lida com a verdade e a mentira em sua poesia, abordando a incerteza da vida e as desilusões de forma intensa e reflexiva.

Friedrich Hölderlin (1770-1843, Alemanha) aborda a incerteza e a busca pela verdade em sua poesia, refletindo sobre a condição humana em obras como "Hyperion".

Anne Carson (1950, Canadá) lida com a complexidade da verdade e da incerteza em sua obra "Autobiography of Red", refletindo sobre as desilusões da vida contemporânea.

IMPORTÂNCIA DAS TROVAS DE VALDEZ PARA A SOCIEDADE ATUAL

Promoção do Diálogo Emocional:
As trovas de José Valdez incentivam a expressão emocional e a reflexão sobre questões que muitas vezes são silenciadas na sociedade contemporânea. Essa abertura pode ajudar a formar comunidades mais empáticas e solidárias.

Inspiração e Esperança:
Em tempos desafiadores, as mensagens de esperança e resiliência encontradas nas trovas podem servir como um bálsamo, motivando as pessoas a continuarem lutando por seus sonhos e a encontrarem beleza nas pequenas coisas.

Valorização da Cultura e da Poesia:
A leitura e a apreciação de poesia, como a de Valdez, podem revitalizar a cultura literária, incentivando novas gerações a se conectar com a linguagem e as emoções. Isso pode enriquecer a educação e promover um maior entendimento das nuances da experiência humana.

Reflexão e Autoconhecimento:
As trovas estimulam a introspecção, levando os leitores a refletir sobre suas próprias vidas, experiências e sentimentos. Essa prática de autoconhecimento é essencial em uma sociedade que frequentemente prioriza o externo em detrimento do interno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As trovas de José Valdez, com suas profundas reflexões sobre a dor, a esperança, o amor e a passagem do tempo, encontram um eco ressonante no mundo atual. Em uma sociedade marcada por incertezas, ansiedades e um ritmo acelerado, as temáticas que Valdez aborda se tornam ainda mais relevantes. Demonstram como essas questões se conectam com a contemporaneidade e suas relações com poetas brasileiros e estrangeiros, além dos benefícios que essas trovas podem trazer à sociedade.

A luta para lembrar ou esquecer experiências passadas é uma questão universal. Em tempos de redes sociais e constante exposição, muitos enfrentam o desafio de lidar com lembranças e traumas. As trovas de Valdez abordam essa luta de maneira sensível, promovendo a reflexão sobre o passado como um elemento formador da identidade.

Em um mundo frequentemente marcado por crises — sejam sociais, políticas ou ambientais — a busca pela esperança e pela paz se torna fundamental. As mensagens do trovador sobre manter a luz acesa em tempos escuros ressoam profundamente, inspirando a resiliência e a capacidade de sonhar.

A solidão e a dor são experiências comuns na vida moderna, exacerbadas pela despersonalização das interações digitais. As trovas oferecem um espaço para reconhecer e validar esses sentimentos, promovendo empatia e compreensão coletiva.

A valorização do trabalho árduo e da autenticidade, presente nas trovas de Valdez, é um chamado para a ética e o esforço sincero em um mundo muitas vezes marcado pela superficialidade e pelo imediatismo.

A conexão entre Valdez e poetas como Carlos Drummond de Andrade e Adélia Prado é evidente na forma como ambos exploram a condição humana. Drummond, por exemplo, lida com a angústia e a busca de sentido em uma sociedade complexa, enquanto Prado celebra a simplicidade e a beleza das pequenas coisas. Essas influências refletem uma continuidade na busca por expressar a experiência humana em suas múltiplas facetas.

Poetas como Pablo Neruda e Emily Dickinson também dialogam com as temáticas de Valdez. Neruda, com sua celebração do amor e da vida, e Dickinson, com suas reflexões sobre a esperança e a solidão, oferecem uma perspectiva enriquecedora sobre os sentimentos que Valdez expressa. Essas conexões ampliam o entendimento das emoções humanas, mostrando que, apesar das diferenças culturais, as experiências universais permanecem.

As trovas de José Valdez de Castro Moura não são apenas uma expressão poética de sentimentos profundos; elas são um convite à reflexão sobre a condição humana em um mundo contemporâneo repleto de desafios. Ao dialogar com poetas de diferentes épocas e culturas, Valdez nos convida a explorar as complexidades da vida, promovendo um entendimento mais profundo de nós mesmos e dos outros. Em última análise, suas trovas oferecem um espaço para a cura, a esperança e a conexão, essenciais para uma sociedade mais empática e resiliente.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. 
Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Domitilla Borges Beltrame (Trovas em Preto & Branco)

                           
1
A exemplo de um bom peão,
eu já não tenho altivez;
se um amor me joga ao chão
tiro o pó...tento outra vez!
2
A nossa fé é a virtude
que nos dá tanto otimismo,
que deixa ver, da altitude,
a flor nas trevas do abismo!
3
Brigamos, mas a tormenta
em instantes se desfaz...
um grande amor sempre inventa
um arco-íris de paz!
4
Com altivez, disse um dia:
- “Ir procurar-te? Jamais!”
Mas a saudade vadia
não respeita o “nunca mais”…
5
Das ofensas de um irmão
não guardes nenhum rancor,
que um minuto de perdão
vale uma vida de amor!
6
Em minha varanda, a sós,
vendo os ganchos na parede,
eu choro a falta dos nós
que amarravam nossa rede!
7
Lembro a garoa...a seresta...
minha feliz mocidade
e o que restou desta festa
embala minha saudade!
8
Na calmaria aparente,
num silêncio enganador,
saudade dentro da gente,
grita mais alto que a dor…
9
"Olvidarei !"...E, orgulhosa,
nem chorei na despedida,
mas, a saudade, teimosa,
foi no meu lenço, escondida!
10
Perco todos os cansaços
e minha angústia tem fim,
ao doce som dos teus passos
no cascalho do jardim…
11
Quando a vida, num desmando,
fecha a porta da esperança,
vem a saudade, arrombando,
as janelas da lembrança !…
12
Revejo o passado e penso,
sem surpresa e sem espanto,
que o tempo, às vezes, é o lenço
com que Deus me enxuga o pranto…
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SOBRE AS TROVAS DE DOMITILLA
por José Feldman

As trovas de Domitilla Borges Beltrame refletem uma profunda sensibilidade e emoção. Cada uma delas aborda temas como amor, saudade, perdão e memória, utilizando uma linguagem simples e poética que toca o coração.

REFLEXÕES TROVA A TROVA

1 – Resiliência no Amor: destaca a força de recomeçar após desilusões amorosas, mostrando a capacidade humana de se levantar e tentar novamente.

2 – Fé e Otimismo: fala sobre a fé como uma virtude que ilumina momentos difíceis, revelando beleza mesmo nas situações mais sombrias.

3 – Conciliação nas Relações: enfatiza a importância do amor na superação de conflitos, simbolizando a paz que pode surgir após a tempestade.

4 – Saudade e Promessas: toca na inevitabilidade da saudade, mesmo diante de promessas de distanciamento.

5 – Perdão e Amor: ressalta o poder do perdão e como ele pode transformar relacionamentos e vivências.

6 – Memórias e Solidão: revela a solidão e a dor da falta, utilizando a imagem da varanda e dos ganchos para simbolizar a ausência.

7 – Saudade da Juventude: remete à nostalgia, mostrando como as lembranças de tempos felizes marcam profundamente.

8 – Silêncio e Saudade: destaca a intensidade da saudade, que pode ser mais forte que a dor física, mesmo em momentos de aparente tranquilidade.

9 – Despedidas e Lembranças: aborda a dificuldade de deixar ir, simbolizando a saudade que persiste mesmo após tentativas de esquecer.

10 – Alegria nas Pequenas Coisas: ressalta como a presença do outro pode dissipar a tristeza e trazer alegria.

11 – Saudade e Lembrança: mostra a saudade como uma força que invade a mente e o coração, trazendo à tona memórias.

12 – Reflexão sobre o Tempo: A última trova reflete sobre a relação entre o tempo e a dor, sugerindo que ele pode ser um conforto em momentos de tristeza.

TEMÁTICAS PRINCIPAIS

Amor e Desilusão: Muitas trovas falam sobre a jornada emocional de amar e enfrentar desilusões. A capacidade de recomeçar é uma constante, refletindo a resiliência humana.

Saudade: A saudade é um tema central, retratada como uma força poderosa que pode trazer tanto dor quanto beleza. É uma expressão de amor que persiste mesmo na ausência.

Perdão: O perdão aparece como um ato transformador. A autora sugere que perdoar é um caminho para a paz e a reconciliação, mostrando a importância das relações saudáveis.

Memória e Tempo: O tempo é visto de maneira ambivalente; ele pode curar, mas também intensificar a saudade. As lembranças são retratadas como uma parte intrínseca da experiência emocional.

ESTILO POÉTICO

Simplicidade e Profundidade: A linguagem utilizada é acessível, mas carrega profundidade emocional. A simplicidade das palavras contrasta com a complexidade dos sentimentos.

Imagens Visuais: Domitilla usa imagens cotidianas (como a varanda e os ganchos) para evocar emoções, tornando as trovas mais relacionáveis e vívidas.

Ritmo e Musicalidade: O formato em trova confere um ritmo musical, tornando a leitura quase cantada e aumentando seu impacto emocional.

CONCLUSÃO

As trovas de Domitilla Borges Beltrame servem como um espelho das vivências de muitas pessoas. Elas capturam a essência da vida, abordando a beleza e a dor de forma equilibrada. O convite à reflexão sobre o amor, a perda e a reconciliação torna suas obras atemporais e universais, ressoando com leitores de diversas épocas e contextos. 

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Renato Alves (Trovas em Preto & Branco)

 

1
Ao repensar minha história,
encontrei com emoção
por trás de cada vitória
um mestre no coração! 
2
“Conhecer não é saber”
- ensina a douta ciência...
”Pôr alma no que aprender” ,
isto, sim, é sapiência!
3
De meu pai herdei o nome,
de minha mãe, a ternura;
da pobreza herdei a fome,
a minha herança mais dura!
4
Escute a voz da razão:
– Nunca esmoreça, persista!...
É com determinação
que o sonho vira conquista.
5
Mesmo em meio à dura lida,
fazer versos nos renova:
– Cabe todo o bem da vida
nas quatro linhas da trova!
6
Mil livros já devorei,
mas neles não achei graça,
até hoje eu nada sei...
– Muito prazer, sou a traça!
7
Não diga que é velho alguém
pela idade transcorrida...
Só é velho quem não tem
mais sonhos em sua vida!
8
Ninguém há que saiba tudo,
nem tudo pode saber...
Muito se aprende e, contudo,
há sempre o que se aprender!
9
O mar geme nos rochedos
prantos tão desconsolados,
pois guarda muitos segredos
e sonhos dos afogados…
10
O trabalho é punição,
uma herança do passado...
Deus quis castigar Adão,
e sobrou pro nosso lado!..
11
Pode ser pobre ou poeta,
sem perder a autoestima;
mas há de ter como meta
não ter pobreza na rima.
12
Ser poeta é transformar
a palavra em brasa ardente
para com ela queimar
a emoção que está na gente!
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SOBRE AS TROVAS DO PROFESSOR RENATO ALVES
por José Feldman

As trovas do Professor Renato Alves capturam emoções profundas e reflexões sobre a vida, a sabedoria e a poesia. Cada uma delas traz um ensinamento valioso, seja sobre a importância dos sonhos, a busca pelo conhecimento ou a transformação da dor em arte.

TEMAS ABORDADOS

Sabedoria dos mestres: 
A importância dos mestres em nossa jornada. A figura do mestre é central em várias trovas, destacando como as influências positivas moldam nosso caminho. A valorização do aprendizado e da orientação é um convite para que reconheçamos aqueles que nos guiaram.

Conhecimento e emoção: 
A ideia de que saber não é o mesmo que conhecer profundamente nos lembra que a educação deve ser acompanhada de paixão e vivência. O aprendizado se torna significativo quando é vivido com intensidade.

Heranças e Identidade:
Renato Alves fala sobre como as heranças familiares, sejam boas ou desafiadoras, moldam nossa identidade. Isso nos leva a refletir sobre como cada aspecto de nossa vida contribui para quem somos. Nossas origens moldam quem somos.

Persistência e Sonhos:
A determinação é uma mensagem recorrente. Acreditar em nossos sonhos e lutar por eles, mesmo diante das dificuldades, é fundamental para a realização pessoal.

Renovação através da Arte:
A poesia é apresentada como uma forma de renovação e superação. Escrever e expressar-se artisticamente pode ser um caminho para lidar com as adversidades da vida. A poesia e a arte oferecem renovação e reflexão. A autoestima é essencial para a criatividade. Ser poeta, ou artista, é um ato de coragem e autovalorização.

Humor e Autodescoberta:
O uso de humor, como na metáfora da "traça", traz leveza e nos lembra que todos enfrentamos desafios e que o aprendizado é um processo contínuo. Nunca paramos de aprender, independentemente de nossas experiências.

Juventude do Espírito:
A mensagem de que a idade não determina a vitalidade é inspiradora. Manter sonhos vivos é o que realmente nos mantém jovens. 

Natureza e Seus Segredos:
As imagens do mar evocam mistério e beleza, sugerindo que a natureza guarda histórias e emoções que muitas vezes não são visíveis à primeira vista. 

Trabalho e Legado:
A relação entre trabalho e castigo é uma crítica social que provoca reflexão sobre a história e o significado do trabalho em nossas vidas.

Transformação pela Palavra:
A capacidade da palavra de evocar emoções e transformar experiências é um dos pontos altos da poesia. Isso nos convida a explorar e expressar nossos sentimentos.

Esses temas fazem das trovas de Renato Alves uma rica fonte de reflexão sobre a condição humana, incentivando a busca por conhecimento, a valorização da arte e a importância de sonhar.

CONCLUSÃO

Essas trovas são um convite à introspecção e à valorização da vida, inspirando-nos a abraçar nossa jornada com coragem e criatividade. Ao refletir sobre esses ensinamentos, podemos encontrar novos caminhos para nosso próprio crescimento pessoal e artístico.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Professor Garcia (Trovas em Preto & Branco)

                                    
1
A dor que se intensifica
e amedronta os dias meus,
é pensar na dor que fica
depois da palavra adeus!
2
A liberdade do poeta,
está num verso... Num grito...
No equilíbrio se completa,
vencendo o próprio infinito!
3
A musa chega e me inspira,
num delírio encantador...
Afina as cordas da lira
e enche o meu mundo de amor!
4
A solidão me angustia
e à noite aumenta o meu drama,
vendo a cadeira vazia
que a tua ausência reclama!
5
Cada tropeço me ensina
que a vida é eterno sonhar.
Na vida nada termina,
muda de forma e lugar.
6
Cadeira velha!...Esquecida,
sem dono e sem mais ninguém...
Só a saudade atrevida
reclama a ausência de alguém!
7
Dai-nos ó, Pai, a razão,
desta santa imagem tua…
e que eu reparta o meu pão,
com quem não tem pão na rua!!!
8
Esta aliança que um dia,
já guardou nossos segredos;
hoje guarda a nostalgia
das digitais de outros dedos!
9
Já pronta e de vela içada
tremulando de ansiedade,
vai para o mar a jangada
carregada de saudade!
10
Morre a flor na flor da idade,
padece a planta de dor;
a ausência deixa saudade,
até na morte da flor!
11
Ninguém é pedra polida,
se não mudar de conduta;
pois, a pedreira da vida
é feita de pedra bruta!
12
O mundo é roda gigante,
girando sempre a girar,
e eu sou passageiro errante
procurando meu lugar!
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SOBRE AS TROVAS DO PROFESSOR GARCIA
por José Feldman

As "Trovas do Professor Garcia" revelam uma rica reflexão sobre sentimentos universais, como a dor, a saudade, a liberdade e a busca por significado na vida. Cada estrofe aborda temas profundos e humanos, utilizando imagens poéticas para transmitir emoções.

TEMAS PRINCIPAIS

Saudade e Ausência: Muitas trovas expressam a dor da ausência, seja de uma pessoa amada ou de momentos passados, como na cadeira vazia e na aliança que guarda nostalgia.

Liberdade e Criatividade: A liberdade do poeta é um tema recorrente, mostrando como a arte e a expressão criativa são formas de superar limites e encontrar significado.

Reflexão sobre a Vida: Há uma contemplação sobre o aprendizado que vem com as dificuldades e a transitoriedade da vida, sugerindo que nada é permanente.

Solidão e Conexão: A solidão é uma constante, mas também é um espaço onde a conexão com a própria essência e com a arte pode florescer.

AS TROVAS, UMA A UMA

1. A dor que se intensifica
Reflete a dor emocional que acompanha a despedida. A repetição da palavra "dor" enfatiza a profundidade do sofrimento. A ideia de que a dor persiste após o adeus sugere que as memórias são difíceis de esquecer.

2. A liberdade do poeta
Esta trova destaca a relação entre a criação poética e a liberdade. O verso e o grito representam a expressão autêntica. A conclusão sobre vencer o infinito sugere que a arte transcende limitações.

3. A musa chega e me inspira
A musa é uma figura clássica que simboliza a inspiração. A metáfora da lira afina as emoções, indicando que a arte é um meio de conectar-se ao amor e à beleza.

4. A solidão me angustia
A solidão é personificada através da cadeira vazia, simbolizando a presença da ausência. Essa imagem é poderosa, evocando tristeza e uma forte conexão emocional com quem foi perdido.

5. Cada tropeço me ensina
Reflete a ideia de que cada dificuldade é uma oportunidade de aprendizado. A vida como um eterno sonhar sugere que as transformações são constantes e necessárias.

6. Cadeira velha!... Esquecida
A cadeira representa a solidão e a saudade. A descrição de uma cadeira sem dono evoca a perda e a nostalgia, mostrando como objetos podem carregar memórias.

7. Dai-nos ó, Pai, a razão
Uma invocação à divindade, pedindo compreensão e compaixão. A imagem de repartir o pão enfatiza a importância da solidariedade e da empatia em tempos de necessidade.

8. Esta aliança que um dia
A aliança simboliza promessas e segredos compartilhados. A mudança de quem toca a aliança indica a passagem do tempo e o que foi perdido, trazendo um tom melancólico.

9. Já pronta e de vela içada
A jangada simboliza a jornada emocional. Carregada de saudade, sugere que as lembranças e sentimentos ainda influenciam o presente, mesmo em novos começos.

10. Morre a flor na flor da idade
A morte da flor na juventude é uma metáfora para a efemeridade da vida. A ausência deixa saudade, mostrando que até a beleza tem um fim, mas deixa lembranças.

11. Ninguém é pedra polida
A metáfora da pedra sugere que o crescimento pessoal exige mudança e adaptação. A "pedreira da vida" simboliza os desafios que moldam quem somos.

12. O mundo é roda gigante
A roda gigante representa a ciclicalidade da vida e a busca incessante por um lugar no mundo. O "passageiro errante" reflete a incerteza e a busca por identidade e pertencimento.

ESTRUTURA POÉTICA
Rimas e Ritmo: As trovas possuem uma musicalidade que facilita a leitura e a memorização. Isso é típico da poesia popular, tornando-as acessíveis a um público amplo.

Imagens Visuais: As metáforas e imagens, como a cadeira vazia e a jangada, criam cenários que evocam emoções profundas. Essas imagens tornam as experiências universais e relatáveis.

IMPACTO 
As trovas têm um poder emocional significativo. Ao abordar temas como dor, saudade e liberdade, elas podem tocar o coração dos leitores, provocando reflexão e empatia. A simplicidade das palavras contrasta com a profundidade dos sentimentos, permitindo uma conexão imediata.

CONCLUSÃO
As trovas se destacam pela sua simplicidade, musicalidade e conexão emocional. Elas servem como uma ponte entre a tradição poética e a experiência cotidiana, fazendo com que sentimentos universais sejam facilmente compartilhados e apreciados. Enquanto outros estilos podem exigir uma leitura mais atenta ou interpretação, as trovas convidam à reflexão de maneira direta e acessível.

O uso de trovas é comum em várias culturas, onde a poesia é utilizada para expressar sentimentos e contar histórias de forma concisa e impactante.

As "Trovas do Professor Garcia" não são apenas poemas; são reflexões sobre a condição humana. Elas capturam a essência da vida, com suas dores e alegrias, e convidam o leitor a se conectar com suas próprias experiências.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

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