domingo, 2 de maio de 2021

Ademar Macedo (1951 - 2013)


1
A distância nos redime 
se a saudade nos escolta; 
ir pra longe é tão sublime 
como sublime é a volta! 
2
Adotei o isolamento, 
feito um ermitão qualquer. 
Pra fugir do casamento 
e das manhas de mulher!... 
3
A justiça incompetente, 
por um deslize qualquer, 
toma o dinheiro da gente 
e dá todo pra mulher!… 
4
Almoço e janto poesia. 
E neste meu universo, 
mastigo um pão todo dia 
amanteigado de verso. 
5
A lua, de vez em quando 
fica um pouco sem brilhar, 
para ficar “espiando” 
dois pombinhos namorar! 
6
A lua, sem empecilho, 
desfilando, linda e nua, 
deixa também o seu brilho 
“nas poças d’água da rua”! 
7
A Lua, que a noite ronda 
com o seu lindo clarão, 
é a lamparina redonda 
que ilumina o meu sertão! 
8
Amar… verbo transitivo 
que em qualquer conjugação 
traz um novo lenitivo 
para o nosso coração! 
9
À noite, as brisas divinas 
dão som aos seus movimentos; 
e, "na Lua," as bailarinas 
dançam a valsa dos ventos... 
10
Após causar desencantos 
e nos fazer peregrinos, 
a seca fez chover prantos 
nos olhos dos nordestinos! 
11
Aquela mão estendida 
é Nau que ainda trafega 
no mar revolto da vida 
que a própria vida renega... 
12
A “solidão” me parece, 
ser um conforto sem fim… 
quando um grande amor me esquece; 
“Ela” se lembra de mim. 
13
As rosas tem seus floridos 
que a “natura” se apodera, 
dando beijos coloridos 
no rosto da primavera! 
14
Assim que começa o dia, 
envolto em profundo enlevo, 
sinto o cheiro da poesia 
em cada verso que escrevo. 
15
A vida escreve-me enredos 
com finais que eu abomino. 
Meus sonhos viram brinquedos 
nas mãos cruéis do destino… 
16
Causa-me espanto o coqueiro; 
algo de bom ele tem… 
Mas, sendo torto ou linheiro, 
nunca deu sombra a ninguém! 
17
Chega a causar agonia, 
uma visita sacana, 
que vem pra passar um dia, 
passa mais de uma semana! 
18
Coloquei a foto errada. 
Viram logo os menestréis… 
Como eu vou subir escada 
Se me falta um dos meus pés? 
19
Com certa preponderância 
eu impus esta verdade: 
Quem inventou a distância 
não conhecia a saudade!... 
20
Com minha alma amargurada, 
envolto em meu sofrimento, 
passo inteira a madrugada 
jogando versos ao vento… 
21
Com o dom que Deus lhe envia, 
no riso o palhaço aflora 
um semblante de alegria… 
Que ele só sente por fora! 
22
Como quem faz sua escolha, 
disfarçando o desatino, 
alterei folha por folha 
do livro do meu destino! 
23
Com os temas mais dispersos, 
eu mesmo me fiz enchente 
numa enxurrada de versos 
jorrando da minha mente… 
24
Com sua língua de trapo 
disse, ao ser mandado embora: 
– É moleza engolir sapo, 
o duro é botar pra fora! 
25
Construí dentro de mim, 
com minh’alma enternecida, 
um teatro onde, por fim, 
pude encenar minha vida!… 
26
Da Bebida fiquei farto, 
bebendo, perdi quem amo; 
hoje bebo no meu quarto 
as lágrimas que eu derramo. 
27
Da fonte que jorra o amor, 
Deus, na sua imensidão, 
faz jorrar com todo ardor 
as carícias do perdão. 
28
Da ingratidão praticada 
eu tirei uma lição: 
Perdoar, não pesa nada,
pesado…É pedir perdão! 
29
Das colheitas dadivosas 
que Deus deixa nos caminhos, 
uns curvam-se e colhem rosas, 
outros, só colhem espinhos… 
30
Debruçado sobre a mata, 
o luar, tal qual pintor, 
pinta as folhas cor de prata 
e pinta o chão de outra cor. 
31
De maneira indefinida, 
por amar e querer bem; 
vou dividir minha vida 
com a vida de outro alguém! 
32
De nada eu sinto ciúme, 
nem mesmo da mocidade; 
pois hoje eu sinto o perfume 
da flor da terceira idade!… 
33
Depois do beijo, um aceno, 
e, sofrendo em demasia, 
bebo doses de um veneno 
que a sua ausência me envia. 
34
Descobri no envelhecer 
que a musa que me enaltece 
não deixa o verso morrer, 
pois musa nunca envelhece! 
35
Desde o tempo de menino 
vi o quanto eu sou machão; 
pois meu lado feminino 
é um tremendo sapatão! 
36
De sonhar eu não me oponho 
nem sequer me desiludo. 
Quem faz de “Paz” o seu sonho, 
já fez metade de tudo!… 
37
De um olhar triste, alquebrado, 
desse meu filho que é “mudo”… 
eu vejo, mesmo calado, 
seus olhos dizerem tudo! 
38
Deus, demonstrando poder, 
quando a mulher engravida, 
transforma a dor em prazer 
na celebração da vida! 
39
Deus vendo que não tem fim 
essa fé que me conduz, 
deixou cair sobre mim 
uma cascata de luz! 
40
Do fogo no matagal, 
na fumaça que irradia, 
vejo um câncer terminal 
no pulmão da ecologia!... 
41
Do meu jeito apaixonado, 
envolvente, terno, mudo… 
Faço um apelo calado, 
onde os olhos dizem tudo! 
42
Em busca de ser feliz, 
e em prol do amor de nós dois, 
quantos atalhos que eu fiz… 
Mas só chegava depois! 
43
Em humor não me destaco, 
mas, por pura peraltice; 
mesmo não sendo macaco, 
vou fazendo macaquice. 
44
Em inspirações, imerso, 
fiz do sol o próprio guia 
para conduzir meu verso 
nos caminhos da poesia! 
45
Entre os atos de bonança 
e meus pecados mortais, 
quando eu botar na balança, 
Deus sabe quais pesam mais!… 
46
Essas gotas maculadas, 
itinerantes no rosto, 
são as lágrimas magoadas 
que dão vida ao meu desgosto. 
47
Esses meus versos doridos 
que estão bem perto do fim, 
são retratos coloridos 
que eu mesmo tirei de mim… 
48
Eu aprendi a perder 
mesmo sem haver perdido, 
também aprendi vencer 
“sem humilhar o vencido!” 
49
Eu ouvi de um cidadão 
brincalhão, sagaz, afoito: 
-Melhor ser um cinquentão 
do que morrer aos dezoito…! 
50
Eu que já nasci Poeta, 
digo-lhe nesta obra prima: 
meu coração só se aquieta 
depois que eu faço uma rima! 
51
Eu, que nunca pude tê-las… 
Que é um sonho do menestrel; 
sonhei enchendo de estrelas, 
meu barquinho de papel! 
52
Eu sinto a brisa do vento 
como se fosse magia, 
soprando em meu pensamento 
os versos que Deus me envia… 
53
É terapeuta da mente, 
mestre maior do saber… 
O Livro é o melhor presente 
que alguém pode receber. 
54
Eu, num desejo medonho, 
quis tê-la, mas nunca pude… 
Transformar desejo em sonho, 
foi minha grande virtude! 
55
Eu sou qual um jangadeiro 
que a fé no peito tatua… 
Num barco sem paradeiro, 
sua esperança flutua. 
56
Fiz a “pergunta ao espelho” 
que para não me ofender : 
disfarçou, ficou vermelho 
e não quis me responder! 
57
Fiz do quarto um santuário, 
pus sua foto no andor 
e rezei um novenário 
para louvar nosso amor! 
58
Fiz minha casa de barro 
ao lado de uma favela. 
Lá fora, eu sei, não tem carro, 
mas tem amor dentro dela!... 
59
Fui reviver meu passado 
na casa que pai morou… 
Um velho espelho quebrado, 
foi tudo o que me restou! 
60
Hoje na terceira idade, 
eu, de amores já vazio, 
voltei ao mar da saudade 
para ancorar meu navio. 
61
Igualmente aos nossos pais, 
nos cabelos brancos temos 
as impressões digitais 
dos anos que já vivemos. 
62
Inimigo do trabalho, 
é meu primo, o “Paraíba;” 
seu emprego é no baralho: 
buraco, truco e biriba. 
63
Já quase louco de amor, 
envolto num triste enlevo 
ponho toda a minha dor 
no papel…quando eu escrevo! 
64
Lágrimas, águas em fugas, 
que num trajeto indolente, 
deixam escritos nas rugas, 
os sofrimentos da gente… 
65
Lágrimas, fuga das águas 
por um riacho inclemente 
que numa enchente de mágoas 
inunda o rosto da gente! 
66
Lembranças deixam feridas 
que nascem na alma da gente. 
Que tenham elas nascidas 
67
no passado… ou no presente! 
Meu momento mais doído 
foi perder quem tanto adoro, 
por isso eu choro escondido 
para ninguém ver que eu choro! 
68
Ninguém calcula essa dor 
no coração dos mortais… 
Quando a saudade é de amor, 
a dor é cem vezes mais ! 
69
No instante da despedida, 
arquivei no pensamento 
a tristeza da partida 
e a dor do meu sofrimento. 
70
No momento em que eu nascia 
Deus colocou no meu ser, 
um mundo de fantasia, 
de poesia e de prazer… 
71
Nos momentos mais tristonhos 
chega a musa da poesia, 
torna reais os meus sonhos 
num mundo de fantasia. 
72
Nos poemas que componho, 
de beleza quase extrema, 
eu ponho em verdade um sonho 
dentro de cada poema! 
73
Numa caminhada inglória, 
com minha alma enternecida; 
pude ver a minha história 
no retrovisor da vida. 
74
Num desespero medonho, 
acordei quase enfartando, 
pois vi no melhor do sonho 
que a sogra estava voltando! 
75
Num sonho eu me fiz refém, 
ao viver uma emoção 
que o próprio sonho a retém 
na mente e no coração… 
76
O pantanal se engalana, 
mas eu mesmo desconfio; 
que até a própria chalana 
sente ciúmes do rio. 
77
O papel que eu desempenho 
na poesia, não tem preço; 
pelos amigos que eu tenho… 
Ganho mais do que mereço!

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