quinta-feira, 6 de maio de 2021

A. A. de Assis (PR)



1
A bênção, queridos pais,
que às vezes sois mães também.
Em nome de Deus cuidais
dos filhos que d’Ele vêm!
2
Acaso fizeste a Lua?
Acaso fizeste a rosa?
Então que ciência é a tua,
tão solene e presunçosa?…
3
– Aceitas dar-me os deleites
da próxima contradança?...
– Aceito, desde que aceites
não me apertar contra a pança!
4
A ciência hoje é um colosso,
com tudo fora de centro:
faz laranja sem caroço,
gravidez sem filho dentro...
5
Afinal, que te aproveita
o labor que te consome,
se não doas, da colheita,
uma parte a quem tem fome?…
6
A história, através dos anos,
ensina a grande lição:
– o destino dos tiranos
será sempre a solidão!
7
Ah, belos tempos dourados,
que os sonhos não trazem mais...
Bailavam, corpos colados,
olho no olho, os casais!
8
Ah, como é útil a avó,
com seus cuidados e afetos!
Já o avô, serve tão-só
pra ensinar besteira aos netos...
9
Ah, meu rio, de repente,
o que foi feito de nós?
Ficou tão longe a nascente...
vemos tão próxima a foz!
10
Ah, poeta, como é lindo
teu trabalho, e quão fecundo...
– Noite e dia produzindo
sonhos novos para o mundo!
11
Ah, quantos lindos castelos
põe a vida em nossa mão,
lembrando os sonhos mais belos
que temos no coração!
12
Ah, que profunda saudade
invade uma Academia
a cada vez que um confrade
deixa a cadeira vazia!
13
A idade é, por excelência,
a grande mestra do amor.
– É no outono da existência
que a paixão tem mais calor!
14
A laranja era tão doce,
que o limão ficou com medo:
– por inveja, ou lá o que fosse,
acabou ficando azedo...
15
Alarme no galinheiro.
- Será que há gambá na granja?...
- Bem mais grave: é o cozinheiro
que avisa: “Hoje vai ter canja!”...
16
A mais bonita homenagem,
concede-a Deus, qual troféu,
a quem completa a viagem,
sem mancha, do berço ao céu!
17
Amai-vos, e as derradeiras
muralhas hão de cair.
– Havendo amor, as barreiras
não têm razão de existir!
18
“Amor não enche barriga”,
porém surpresas virão:
- Fez “amor” a rapariga...
e olha só que barrigão!
19
A mulher, que é toda encanto,
lembra a abelha, meiga e boa:
dá mel gostoso; no entanto,
se for preciso, ferroa!
20
Andorinha sobe e desce,
sobe e desce, pousa e come...
Sobe, sobe, faz um “s”,
desce, come, sobe e some...
21
Anoitece. Bela e nua,
começa a rosa a orvalhar-se...
– Um raiozinho de lua
virá com ela deitar-se.
22
Antiguidade, doutor,
é coisa muito engraçada:
algo que cresce em valor
quando não vale mais nada...
23
Ao cérebro, o coração
manda amorosa mensagem:
– Somente unidos, irmão,
seremos de Deus a imagem!
24
Ao fim de qualquer mandato,
somando-se o dito e feito,
no saldo exibe o relato
muito mais dito que feito...
25
Ao mesmo tempo em que é doce,
ah como é triste a saudade...
– Ela é assim como se fosse
uma ex-felicidade!
26
Ao notar a Lua cheia,
surpreso o Sol resmungou:
– Se um mês atrás eras meia,
quem foi que te engravidou?...
27
Aos bons sonhos agradeço,
mas às insônias também...
– Ah, quantos versos eu teço
enquanto o sono não vem!
28
A palavra acalma e instiga;
a palavra adoça e inflama.
– Com ela é que a gente briga;
com ela é que a gente ama!
29
A prata, em nosso cabelo,
faz ninho se a idade vem...
Que pena ela não fazê-lo
em nossos bolsos também!
30
A regra é tirar vantagem,
porém prefiro a exceção:
– quero a inocente coragem
dos puros de coração!
31
A renúncia corresponde,
muita vez, a muito amar;
como quando o Sol se esconde
para que brilhe o luar!
32
As almas, se generosas,
percorrem árduos caminhos...
Só no céu elas e as rosas
ficam livres dos espinhos!
33
A saudade é a companhia
mais doce que Deus nos deu.
Sem ela, o que restaria
aos velhinhos como eu?...
34
A saudade sintetiza
sonhos, glórias, sentimentos,
como um filme que eterniza
nossos melhores momentos.
35
Assim que me aposentei,
ao meu relógio dei fim...
Sem ele eu me sinto um rei,
dono do tempo e de mim!
36
Astronauta, não destrua
meu direito de sonhar...
Deite e role sobre a Lua,
porém me deixe o luar!
37
Até como terapia,
crer em Deus faz muito bem:
– banha a gente na alegria
que da eterna luz provém!
38
Atrás das outras não perca
o seu juízo... cuidado!
Boi que muito pula cerca
volta um dia desfalcado...
39
A velhice se avizinha,
porém não me assusta não.
– Eu sei que no fim da linha
Deus me espera na estação!
40
A vida é uma corda bamba,
na qual a esperança eu ponho.
Basta um errinho e descamba
abismo abaixo o meu sonho...
41
A vida jamais se encerra...
e é bom sermos imortais.
– Amar você só na Terra
seria pouco demais!
42
A vida nem sempre é encanto;
para alguns é injusta e inglória...
– Quanta gente corre tanto,
porém perde o trem da história!
43
A vida no mundo é um treino,
a etapa em que o Treinador
nos prepara para o reino
definitivo do amor!
44
Aviva-lhe o orvalho o viço,
e a rosa acorda se abrindo...
Aberta, põe-se a serviço
de um mundo amoroso e lindo!
45
Avó é a mãe que imagina
que a sua parte já fez...
mas, quando a missão termina,
começa tudo outra vez!
46
Baita arruaça, bravatas,
um tremendo sururu...
Frangas, marrecas e patas
brigando por um peru!
47
Belo sonho o que aproxima
estrelas e pirilampos...
– Elas são eles lá em cima;
eles são elas nos campos!
48
Bem cedinho o galo canta,
molhado ainda de orvalho.
A roça, ouvindo-o, levanta,
e um hino entoa ao trabalho!
49
“Bem-vinda à vida, criança!”,
diz o parteiro sorrindo.
E a frase é um hino à esperança,
no seu momento mais lindo!
50
Bem-te-vi que bem me vês,
bem-visto sejas também,
hoje e sempre e toda vez
que bem me vires... Amém!
51
Benditas sejam as vidas
que, alegres, serenas, santas,
vivem a vida envolvidas
em levar vida a outras tantas!
52
Brilha sempre em nossa vida
alguma luz: a do sol
ou no mínimo a emitida
por um mínimo farol.
53
Brincam na praça os pequenos:
castelos, canções, corrida...
São seus primeiros acenos
aos grandes sonhos da vida!
54
Brincante como um garoto,
planas no espaço sem fim...
– Só o poeta, irmão piloto,
consegue voar assim!
55
Canarinho, quando canta,
que será que o faz cantar?
– Sei lá... mas a mim me espanta
que ele cante sem cobrar...
56
Canoando mar afora,
a esperança me conduz.
Já vejo lá adiante a aurora
trazendo uma nova luz.
57
Caridade, um gesto nobre
que faz os próprios ateus
sentirem que "dar ao pobre
é como emprestar a Deus".
58
Casamento é uma loucura
para o marido hoje em dia:
ela impõe a ditadura
e ele nem pia nem chia...
59
Certeza só têm os rios
sobre aonde vão chegar...
Por mais que sofram desvios,
seu destino é sempre o mar!
60
Certos tipos importantes
parecem Marte – um deserto:
vistos de longe, brilhantes;
cascalho apenas, de perto!...
61
Cidadania é civismo,
sobretudo é comunhão;
é ajuda mútua, é altruísmo,
partilha justa do pão.
62
Coceirinha furibunda,
coça embaixo, coça em cima...
Quando coça na cacunda,
sinto cócegas... na rima!
63
Coitado... tão pobrezinho,
que até para dar risada
tem que pedir ao vizinho
a dentadura emprestada!...
64
Como é bom saber que o filho
vida afora alegre vai,
dando forma, força e brilho
aos sonhos do velho pai!
65
Como é triste o desencanto
daquele que a duro custo
desbafa e diz em pranto:
– Eu me cansei de ser justo!
66
Como foi, como não foi,
conte dois que eu conto um...
Num belo inglês, diz o boi,
olhando a Lua: moon... moooon...
67
Como se diz lá na roça,
o amor é um bichim-de-pé:
quanto mais a gente coça,
mais boa a coceira é...
68
Com que suave ternura
tece a canária o seu ninho!
– Mãe é assim, dengosa e pura...
a nossa e a do passarinho.
69
Com que ternura e altivez
luta a mãe pobre e sem brilho
para ao fim de cada mês
pagar os sonhos do filho!
70
Contador e cantador,
num só tempo eu conto e canto:
conto as rendas do labor;
de outras “rendas” canto o encanto.
71
Convido-os a partilhar
uma gostosa jantinha:
massa com frutos do mar,
ou seja, pão com sardinha...
72
Corações apaixonados
não aceitam repressão.
Explodem, se condenados
a engaiolar a emoção!
73
Coragem de gente grande
é aquela em que se distingue
alguém assim como Gandhi,
São Francisco, Luther King!
74
Corre a bola, deita e rola,
salta de pé para pé...
Quica, requica, rebola,
no grito do povo: – olééé!
75
Creio na força do amor,
creio na força do exemplo.
Um credo com tal teor
nem necessita de templo.
76
Criado por Deus, o rio
nasce limpo e, como nós,
traz consigo o desafio
de limpo chegar à foz.
77
Criança que muito apronta
exige rigor dos pais:
– Água mole não dá conta,
se a pedra é dura demais!
78
Cuidado, amigo, atenção...
não beba o primeiro trago.
– Quando se escuta o trovão,
o raio já fez o estrago!
79
Cuidemos, irmãos, da imagem;
sem exagero, contudo.
– Muito mais do que a embalagem,
o que conta é o conteúdo.
80
Cumprem a Lua e as estrelas
o ofício de serem belas...
E, entretanto, para vê-las,
só o poeta abre as janelas!
81
Cuide bem do seu bebê;
forme-o forte, sábio e puro.
Ele é a porção de você
que vai viver no futuro!
82
Da mãe à filha querida:
– Obrigada, meu bebê...
Fui eu quem lhe dei a vida,
mas minha vida é você!
83
Das provas feitas na escola,
uma vale nota cem:
– é a de quem, fugindo à “cola”,
mostra a ética que tem.
84
De barro se faz o homem,
e de luz principalmente.
O barro, os anos consomem;
a luz eterniza a gente!
85
De biquíni ou minissaia,
a verdade se revela...
– Não há mentira na praia:
feia é feia, bela é bela!
86
Decerto, como um deserto
criado pela ambição,
deserto é também, decerto,
hoje o humano coração.
87
De dia caleja a palma
o irmão que cultiva o chão.
De noite alivia a alma
nas cordas de um violão!
88
Deixando a infinita altura
e as honras da eternidade,
fez-se o Criador criatura,
por amor à humanidade.
89
“Deixe-o que faça e aconteça”,
diz a vovó com carinho...
E eis que de ponta-cabeça
vira-lhe a casa o netinho!...
90
Dentre os bens que o filho espera
receber por transmissão,
tesouro nenhum supera
o exemplo que os pais lhe dão.
91
Depois de tomar uns treco
para aquecer a moringa,
o trovador de boteco
soluceia... e a rima pinga!
92
Depois de um café quentinho
e de uns pãezinhos de queijo,
melhor que tudo é o carinho
com que me serves um beijo!
93
De longe se escuta o eco
da turma de cara cheia,
no alvoroço do boteco
pondo em dia a vida alheia...
94
Densas nuvens ameaçam
o futuro da criança.
Mais que as da chuva, que passam,
as nuvens da insegurança.
95
De repente, de olho aberto,
vem para a rua a nação.
- É o povo que, redesperto,
quer mostrar quem é o patrão!
96
Dê-se ao jovem liberdade
para sem medo ele ousar.
– É no ardor da mocidade
que o sonho aprende a voar!
97
Destino, fado ou o que for...
isso tudo é só brinquedo.
– Na história real do amor,
cria o amor seu próprio enredo.
98
De tal modo a rosa é amada,
que o cravo mói-se de ciúme...
– É o que dá ter namorada
que esbanja encanto e perfume!
99
De todos ela atraía
mil sorrisos, mas... que dó:
casada, sofre hoje em dia
os maus humores de um só...
100
Deus fez a Terra... e, ao fazê-la,
deu-lhe o toque comovente:
fez o céu para envolvê-la
num pacote de presente!
101
Deus me deu livre vontade;
porém, por sorte, incompleta:
– não me deu a liberdade
de deixar de ser poeta!
102
Deus não põe ponto final
na biografia da gente.
– Quer nossa alma, imortal,
junto à d’Ele eternamente!
103
Deus não vem na grande nave;
Deus não vem no furacão.
Deus vem qual brisa suave,
e entra em nosso coração!
104
Deve o mundo ao gênio humano
obras de extremo valor.
O drama é ver, ano a ano,
minguar o espaço da flor...
105
Digo e louvo toda vez
que olho as aguinhas da serra:
– Graças a Deus e a vocês,
há vida ainda na Terra!
106
Dirá Deus: “Faça-se a paz,
e todos deem-se as mãos!”
E então, meu filho, verás
que lindo é um mundo de irmãos!
107
Disseste, criança ainda:
"Sou tua... sempre serei!"
- Foi a mentira mais linda
que em minha vida escutei!...
 108
Diz o sábio, e quase chora,
por modéstia ou caçoada:
– Sou doutor honoris fora;
quer dizer: doutor em nada!
109
Doce, amigo e generoso,
quis Deus se configurar
no abraço do pai saudoso
no filho que torna ao lar.
110
Do céu nos alerta o Pai,
vendo a Terra ressequida:
– Salvai as águas, salvai,
se quereis salvar a vida!
111
Do Natal ao Ano Novo
a folga é pouca... O ideal
é deixar de folga o povo
do Ano Novo até o Natal...
112
Dói muito ver um canário
cantando humilhado e triste
em troca do vil salário
de um punhadinho de alpiste!
113
Dois caminhos há na vida,
o do egoísmo e o da cruz:
- um leva à eterna descida;
o outro leva à eterna luz!
 114
Douta é a ciência; no entanto,
por mais nobre ou presunçosa,
curva-se, humilde, ante o encanto
de uma pétala de rosa!
115
Ele, ela, o avião, a bruma,
mil sonhos sob os chapéus...
Fantasias, uma a uma,
vão subindo para os céus.
116
É mais que um beijo, é uma prece,
aquele beijo miudinho
com que a mãe afaga e aquece
os seus filhotes no ninho!
117
Embora o mundo não cesse
de fazer guerra e terror,
na família ainda se tece
a grande história do amor!
 118
Em cada gota extraída
do seu sangue, o doador
empresta vida a outra vida,
numa transfusão de amor
119
Em que aperto o bom velhinho,
de assanhado, se enfiou:
chamou pra cama o brotinho
e ela,, malvada, aceitou!...
 120
Em resposta à ofensa e à intriga,
ensina o amor: “Faça o bem!”
– O amor é sábio: não briga,
perdoa cem vezes cem!
121
É natural que aconteça,
ao cometa e a certa gente,
por ter pequena a cabeça,
mostrar a cauda somente...
122
Enche a cara de cachaça,
toma um baita dum pifão...
Faz no bar uma arruaça,
um fiasco no colchão!…
123
Entre a inocência e a esperteza,
é da inocência o troféu.
O esperto ganha a riqueza,
o inocente ganha o céu.
 124
Entre o passado e o futuro,
mudou o amor um bocado:
– o que o vovô fez no escuro,
faz o neto escancarado!
125
Entre o pássaro e o poeta
há perfeita identidade:
seu canto só se completa
se há completa liberdade.
 126
Era um guri tão terror,
que a escola inteira o temia.
Cresceu... virou professor...
paga com juro hoje em dia!
127
Esta é uma antiga lorota,
que jamais se esclareceu:
– Se Judas nem tinha bota,
como foi que ele a perdeu?...
128
Esta é uma lei que não muda,
portanto preste atenção:
– O Pai jamais nega ajuda
àquele que ajuda o irmão!
129
Eu não tenho uma floresta,
mas tenho em casa um jardim.
O verde mantenho em festa,
na parte que cabe a mim!
 130
Eu sei por que o passarinho
canta gostoso e se inflama:
– é que ele tem no seu ninho
uma família que o ama!
131
Eu sei que será difícil,
mas a fé me diz: – Verás
transformar-se cada míssil
num mensageiro da paz!
132
Eu tenho fé nas pessoas,
em todas, sem exceção,
que todas elas são boas,
quando lhes damos a mão!
133
Ex-velhos é o que eles são,
essa gente antiga e linda.
– Aos setenta/oitenta estão
cheios de sonhos ainda!
 134
Facilmente me dominas,
bastando apenas piscar...
– É o feitiço das meninas
que brincam no teu olhar!
 135
Fé é uma forma de ver,
via amor, o além-da-vista;
é a graça de perceber
como é bom que Deus exista.
136
Feliz aquele que trilha
a trilha que ao sol conduz
e com sorrisos partilha
a graça de ver a luz.
137
Feliz o idoso que, esperto,
se ampara nesta verdade:
quanto mais velho, mais perto
das bênçãos da eternidade!
138
Feliz o povo que pensa
e que se expressa à vontade.
– Onde amordaçam a imprensa
morre à míngua a liberdade.
 139
Fim do filme... Na saída,
pergunta à pulga o pulgão:
– Voltamos a pé, querida,
ou vamos tomar um cão?
 140
Finalmente um cão bilíngue,
que, além do nativo au-au,
se expressa e até se distingue
fluentemente em miau...
141
Foi noite de lua cheia,
e que saudade deixou...
- Em dois corações, na areia,
sinais do que ali rolou!
142
Foi-se embora o nosso irmão,
nosso querido Ademar.
Hoje é em nosso coração
que ele tem seu novo lar.
143
Galo de sorte suplanta
os outros todos na rinha...
No entanto, enquanto ele canta,
a mulher dele... galinha!
 144
Gari, que há luas e luas
varres a pública via...
hás de achar limpas as ruas
que ao céu vão levar-te um dia!
145
Gente com medo de gente
na selva dita cidade.
– Preciso mudar, urgente,
para a selva de verdade...
146
Gondoleiro, meu amigo,
por favor, vai devagar...
Com minha amada comigo,
quero perder-me em teu mar!
147
Grande mesmo é quem descobre
que ser grande é ser alguém
que abre espaço para o pobre
tornar-se grande também.
 148
Há celulares à farta,
iphone, computador...
Mas nada se iguala à carta
para os recados de amor!
149
Há de, enfim, vir o momento
da correção dos papéis:
mais valor terá o talento
que os diplomas e os anéis!
150
Há de vir um tempo novo,
no qual, meu bom Deus, verás
unido afinal teu povo
no grande abraço da paz!
151
Hoje ainda a humanidade
vive o impasse decisivo:
– Parte atrás da liberdade
ou se apega ao paraíso?...
 152
Hoje os rios se parecem
com certos tipos sabujos:
quanto mais descem, mais crescem;
quanto mais crescem, mais sujos.
 153
Honestos há sem ser bons
e há bons que honestos não são.
– É a soma de ambos os dons
que faz o bom cidadão.
154
Imagino, sem malícia,
que aperto é ter um bebê...
Se na entrada é uma delícia,
pra sair... dói como o quê!
155
Irmanemos nossas vidas
em comunhão generosa,
tal como vivem unidas
as pétalas de uma rosa!
156
Importa pouco a mobília,
importa pouco a fachada...
O amor que envolve a família
é só o que importa, e mais nada!
 157
Já estou no fim da subida...
muito obrigado, Senhor.
- Foi lindo fazer da vida
um longo verso de amor!
158
Jogado no mundo, ao léu,
rezava o orfãozinho assim:
– Cuida bem, Papai do Céu,
dos que não cuidam de mim!
159
Lei antibeijo é, no fundo,
uma forma de terror:
ajuda a matar, no mundo,
o que ainda resta de amor.
160
Livres e leves, no parque,
brincam de paz as crianças...
Deixam que a vida as encharque
de alegria e de esperanças.
 161
Louvada seja a harmonia
que eterniza em nosso lar
o “sim” que nós dois um dia
compartilhamos no altar!
162
Lua cheia chega e assume
pose plena de rainha:
cega a estrela e o vagalume
e acende a noite sozinha!
163
Madrugada... canta o galo...
cruzam-se o ócio e o labor:
volta a moçada do embalo;
pega a enxada o lavrador!
164
Mais que os lucros do trabalho,
mais que as honras e os troféus,
o amor é o único atalho
que de fato leva aos céus.
 165
Mantenha a esperança alerta,
por mais que lhe pese a cruz.
– Há sempre uma porta aberta
para quem procura a luz.
166
Mas ora-ora, dirás,
é fácil ouvir estrelas...
– Quem leva um chute por trás,
além de as ouvir... vai vê-las!
167
Me desculpe se isto aflige-a,
mas o progresso endoidou:
mais premia a calipígia
do que a moça que estudou!...
 168
Mesmo o maior dos gigantes
não tem poder permanente:
– Pode a Lua, por instantes,
cobrir o Sol totalmente!
 169
Mesmo soltas e espalhadas,
as pétalas são formosas;
porém somente abraçadas
é que elas se tornam rosas!
170
Meu destino eu mesmo traço,
conforme a escolha da via:
pela do mal, o fracasso;
pela do bem, a alegria.
171
Milhões e milhões de estrelas...
Que utilidade terão?
– Só sei, meu irmão, que ao vê-las
sinto Deus no coração!
172
Minha amada, com bom jeito,
mesmo ausente me domina...
Deixa a saudade em meu peito
como rainha interina!
 173
Moderna e esperta, a formiga
à cigarra se juntou:
– uma canta, enquanto a amiga
monta o circo e vende o show...
174
Moderno, poupa viagem
o novo pombo correio:
- Hoje ele manda a mensagem
numa boa, por e-mail…
175
Morre o peixe quando aboca
seu jantar com muito anseio...
Sobretudo se a minhoca
traz anzol como recheio!
176
Morre o sábio... enorme bem
perde o mundo em tal momento.
Seu patrimônio, herda alguém;
não no entanto o seu talento!
 177
Mosquito para a mosquita,
nadando na sopa quente:
– Eta piscina bonita...
a pena é que engorda a gente!
 178
Movido a sonho, eu poeta,
porque amo a estrada, não canso.
– Mais importante que a meta
é cada passo que avanço.
179
Muito cara que se julga
ladino, culto, elegante,
no fim não passa de pulga
com mania de elefante!
180
Muito gatão faz barulho,
no entanto não é de nada...
O pombo vai só no arrulho,
mas veja que filhotada!
181
Muito sepulcro caiado,
que bota pose de puro,
no claro é distinto e honrado...
mas como apronta no escuro!
 182
Muito teimosa, a franguinha
com um ganso se casou.
Ao ter um ovo, tadinha...
de cesárea precisou!
183
Na biblioteca há mil sábios
a nosso inteiro dispor.
– Sem sequer abrir os lábios,
cada livro é um professor!
184
– Na briga lobo-cordeiro,
qual deles terá razão?
– Depende, meu companheiro,
de qual dos dois é o patrão...
185
Nada na vida é mais triste
nem dói mais que a solidão:
– sentir que em redor existe
um mundo... e ouvir dele não!
 186
Na era do “ponto.com”,
voa o sonho mais ligeiro:
– um clique... e, qual vento bom,
chega a trova ao mundo inteiro!
 187
Na neblina da memória,
vão diluindo-se os fatos.
– O melhor de nossa história
ficou nos porta-retratos...
188
Não chamem de mundo-cão
o feio mundo do mal.
No cão pulsa um coração
melhor que o nosso, em geral.
189
Não corre o risco de morte
o caçador valentão...
Por mais que cace, por sorte,
jamais encontra o leão!
190
Não há diferença alguma
se a festa é pobre ou de gala.
– Tanto noutra quanto numa,
quem bebe demais se rala!
 191
Não presta a pena que importe
num mal que o mal não redime.
Toda sentença de morte
é um crime pior que o crime.
192
Não quero ser uma ilha,
distante da realidade...
-Quem se isola não partilha
a história da humanidade.
193
Não te cases por dinheiro...
sai dessa... tô te falando...
Afinal, qualquer banqueiro
empresta a juro mais brando!
194
Na porta da eternidade,
documento não tem vez.
– O cartão de identidade
é o bem que em vida se fez!
 195
Nas asas da bicicleta,
em branca e curtinha saia,
voeja a moça poeta
no contravento da praia...
196
Nas costas, leva a criança
seus livros numa sacola;
nos olhos, leva a esperança
como colega de escola!
197
Nesta Terra outrora linda,
que aos pouquinhos se desfaz,
o lar é a ilha onde ainda,
às vezes, se encontra a paz.
198
Neste planeta avarento,
onde o “ter” é o ditador,
que triste é ver o cimento
roubar o espaço da flor!
 199
No carrão recém-comprado
da motorista barbeira:
“Atenção, muito cuidado...
amaciando carteira!”
 200
No instante em que é concebida,
entra na história a criança.
Negar-lhe o direito à vida
é um crime contra a esperança!
201
No pico da quarta idade,
o quadro se faz assim:
ou se crê na eternidade,
ou se põe na tela: “Fim”…
202
No reino dos passarinhos,
joão-de-barro é o burguesão:
– de todos os seus vizinhos,
só ele mora em mansão...
 203
Nós dois num banquinho tosco,
num sítio sereno e lindo...
O amor se envolveu conosco,
e o sonho se fez infindo!
 204
Nos passos do bailarino,
na garganta do cantor,
em cada tango argentino
geme uma história de amor.
205
Nossa vida é um filme assim:
um roteiro abrasador...
Tem beijos do início ao fim,
cada qual com mais calor!
206
Nove meses... que demora!...
Entretanto, o prêmio é lindo:
- a cena em que o bebê chora,
no instante em que o parto é findo!
207
Numa harmonia perfeita,
completam-se o fruto e a flor:
ele alimenta, ela enfeita;
ele dá força, ela o amor!
 208
Num momento de euforia,
cedemos-lhe uma costela.
Fomos cedendo... e hoje em dia
quem manda no mundo é ela!
 209
O amor é forte, ele aguenta;
se é verdadeiro, ele é infindo:
chega aos oitenta, aos noventa...
quanto mais velho, mais lindo!
210
O bem-querer une a gente
mais que a consanguinidade.
– De que vale ser parente,
sem os elos da amizade?
211
O bom discurso amoroso
dispensa texto comprido.
Basta um “te gosto” gostoso,
murmurado ao pé do ouvido…
212
O bom cabrito não berra;
gato sabido não mia...
Menos sofre e menos erra
quem menos fala hoje em dia.
 213
O céu deve estar cheinho
de madrinhas, mães e avós...
– Têm lá, em dobro, o carinho
com que cuidaram de nós!
214
Ó Deus, que nos deste a flor,
e as crianças e as estrelas,
dá-nos agora, Senhor,
a graça de merecê-las!
215
O fruto é um santo produto
do mais generoso amor.
Por isso é que antes de fruto
quis Deus que ele fosse flor.
216
O agricultor que semeia
o arroz, o milho, o feijão
trabalha com Deus à meia
na Obra da Criação.
 217
O grande tenor se cala
ante o pássaro silvestre.
– É o discípulo de gala
querendo escutar o mestre!
218
Olhem a rosa os que ainda
costumam dizer-se ateus.
– Ela é a resposta mais linda
quanto à existência de Deus!
 219
Olhe os poetas e as aves...
Veja que, embora não plantem,
Deus lhes retira os entraves
e apenas pede-lhes: – Cantem!
 220
O lírio, a lira, o lirismo;
o amor, a festa, a canção...
Que pena que o consumismo
transforma tudo em cifrão!
221
O livro mudou o enredo
da história da humanidade:
– Antes dele, a treva e o medo;
depois dele a liberdade.
222
O lobo e o cordeiro, airosos,
vão comer juntos... Depois,
os homens, bem mais gulosos,
vão comer juntos os dois!...
223
O mundo esqueceu que existe
o ponto de exclamação...
De tão seco, amargo e triste,
perdeu de vez a emoção!
 224
O nobre faz e acontece,
porém me responda, ó meu:
se o trabalho é que enobrece,
como é que ele enobreceu?...
225
O povo sempre descobre
metaforinhas incríveis:
couve-flor: repolho nobre;
as hortas: jardins comíveis…
226
O que faz a casa bela,
mais que tudo, somos nós,
se unidos vivemos nela
-filhos, netos, pais, avós.
227
O que faz a boca torta
é o cachimbo – assim se diz.
Quem bate a cara na porta
entorta a boca e o nariz!
 228
O que ocorre às águas claras,
na alma pura se repete:
dá-se às vezes, e não raras,
que um sujinho as compromete.
 229
O rio, língua da serra,
se alonga abrindo uma trilha;
e afaga a face da terra,
qual fêmea lambendo a filha!
230
O sapo coaracoacoacha
ante a sapa, a sua estrela.
– Ela é um poema, ele acha,
e estufa-se todo ao vê-la!
231
Os gaúchos, mui serenos,
dizem rindo: – “Calma, irmão...
Se o mundo tá mais ou menos,
então tá louco de bão!”
232
O talento, em nossos dias,
é o que engrandece um país.
– Mais que a força dos Golias
vale o gênio dos Davis!
 233
O teatro imita a vida,
mas também corrige o mundo.
Em cada cena exibida,
passa um recado fecundo!
 234
Ouço ainda, ao longe, o canto
de um velho carro de boi...
– Lembrança de um tempo e tanto,
que há tanto tempo se foi!
235
Ou o amor enfim nos faz
desarmar o coração,
ou do cachimbo da paz
nem as cinzas sobrarão!
236
Para espalhar, num momento,
uma notícia qualquer,
não há melhor instrumento
que o rádio, a imprensa e a mulher...
237
Parece um quadro de artista:
café, café, mais café...
– O verde a perder de vista,
a vista a se encher de fé!
 238
Palavras produzem fartas
e tão belas construções:
com elas fez Paulo as Cartas,
fez os seus versos Camões!
239
Parece que estou sonhando
com a paz que o céu retrata,
ao ver araras em bando
pintando de azul a mata!…
240
Pediste, na vez passada,
que eu melhorasse a comida...
Pois hoje está caprichada:
vou servir vespa cozida!
241
Passa em voo um passarinho,
outros tantos passarão...
Que os proteja São Chiquinho
contra nós e o gavião!
 242
– Passei o dia a serviço
de um pobre encontrado ao léu...
– Pois é, disse o Pai, com isso
ganhaste, meu filho, o céu!
243
Pastel, pudim, rabanada,
e o mais que te apetecer...
Nada disso engorda nada:
basta apenas não comer!
244
Pensei que ser grande fosse
razão de alegria... Errado:
o rio, pequeno, é doce;
o mar, imenso, é salgado.
245
Pergunto: – Serás a lenda
que eu vi no mar e na areia?
Se rindo, linda, ela emenda:
– Não sou ainda... sereia!
 246
Pernilongo em meu ouvido
faz zunzum... zunzum... zunzum...
Julga-se, ao certo, o exibido
chofer de fórmula um...
 247
Pica-pau, sossega o taco...
faz uma pausa, ó carinha!
Teu toque-toque enche o saco
da passarada inteirinha...
248
Poeta, à porta do Pai,
entra fácil, certamente.
Se São Pedro se distrai,
São Francisco empurra a gente!
249
Poeta nenhum se priva
de certos dengos vitais:
– Sem pão talvez sobreviva,
mas sem ternura... jamais!
250
Por mais singela, a pessoa
terá sempre algo a doar.
– A Lua é uma rocha à-toa;
nos dá, no entanto, o luar!
 251
Pouco a pouco, passo a passo,
vamos nós, de déu em déu...
Já conquistamos o espaço;
só falta ganhar o céu!
 252
Pra casar moça bonita,
carece exibi-la não...
Que nem lá no Sul se dita:
“Bom vinho escusa pregão!”
253
Proclama o glutão roliço,
vendo à mesa a feijoada:
– Vamos botar tudo isso
em pratos limpos, moçada!
254
Prometi-lhe, amada minha,
mil estrelas, as mais belas.
Bobagem... você sozinha
brilha mais que todas elas!
255
Qual o vento, quando muda,
leva a nuvem que o céu cobre,
muita vez pequena ajuda
muda o destino de um pobre.
 256
Quando, à noite, o Sol se deita,
a Lua, em grande escarcéu,
chama a poetada e aproveita:
faz uma farra no céu!
 257
Quando o fruto está maduro,
dá o que deu no paraíso:
basta um apalpo no escuro,
e o casal perde o juízo...
258
Quando se casa a enteada,
mais a madrasta se ouriça:
Além de mãe emprestada,
agora é sogra postiça...
259
Quanta lição aprendida,
quanta dor, quanta saudade,
na viagem de uma vida
desde o berço à eternidade!
260
Quantas bênçãos traz a chuva
quando rega a plantação:
benze o trigo, benze a uva,
benze a vida em cada grão!
 261
Quantas trovas no caderno
do colégio eu rabisquei...
– Registros do amor eterno
que a tantas musas jurei!
262
Quanta vez, meu companheiro,
para não passar por bobo,
precisa o ingênuo cordeiro
usar disfarce de lobo...
263
Quanto mais rápido passa
o tempo a mim concedido,
mais grato eu sou pela graça
de cada instante vivido!
264
Que alegre alívio provoca,
na alma e no coração,
o abraço que a gente troca
numa troca de perdão!
 265
Que baita susto o sujeito
levou quando ao céu chegava...
- Na porta, crachá no peito,
a sogra dele o esperava!
 266
Que bela ficas, mocinha,
se pões, por esmero e gosto,
ideias na cabecinha,
mais que pinturas no rosto!
267
Que belo é poder amar
em doce e alegre aconchego:
– o mar, a brisa, o luar...
e a rede para o chamego!
268
Que bom que ninguém mais usa
consagrar heróis de guerra...
– Hoje herói é quem recusa
macular com sangue a Terra!
269
“Que delícia isso no espeto!”,
grita faminto o glutão,
quando ao pódio, no coreto,
sobe o touro campeão...
 270
Que dó, meu doce Arquiteto,
que tamanha insensatez...
Tão lindo era o teu projeto,
mas veja o que o homem fez!
 271
Quem com vida dá banquete,
mas não convida o povão,
finda a vida, um alfinete
pode furar-lhe o balão!
272
Quem dera algum dia eu possa
trocar meu despertador
por um relógio da roça:
o velho galo cantor!
273
Quem dera, ó Deus, eu pudesse
viver num lugar assim:
- Amparo é a poesia em prece,
num permanente jardim!
274
Quem dera, um dia, as fronteiras
fossem elos nos unindo,
e houvesse, em vez de barreiras,
somente a placa: – Bem-vindo!
 275
Quem preza a vida divide-a,
como o cedro acolhedor
que adota por filha a orquídea,
e dá-lhe suporte e amor!
276
Quem rabo alheio tesoura,
cuidar do próprio convém...
– Tanto varreu a vassoura,
que virou lixo também!
277
Quem tem amigos leais
tem muito o que agradecer:
bons amigos valem mais
que o mais que se possa ter.
278
Que pena que a vida passa
sem que a gente, na corrida,
desfrute, com tempo, a graça
do tempo melhor da vida!
 279
Quer sonhar?... Faça turismo
no coração de um poeta.
É o refúgio onde o lirismo
seus enredos arquiteta!
 280
Que será que esse recado
na garrafa traz, e a quem?
– Vem de alguém que, apaixonado,
tem saudade do seu bem!...
281
Que susto levou a minhoca,
quando o minhoco, afobado,
no lusco-lusco da toca,
beijou-a no extremo errado!...
282
Que testemunho mais lindo
esse que o papa nos traz,
com seu sorriso servindo
à grande causa da paz!
 283
Que vida pesada e amarga
tem sido a tua, ó formiga...
Suportas, no entanto, a carga,
sem nunca fugir da briga!
284
Que vida pobre a do rico...
Noite e dia, o ano inteiro,
mirando o ilusório pico
de um sonhozinho – o dinheiro...
285
Rato-rato, rói o rato
um roto resto de pão...
Rente, rouco, rosna um gato,
come o rato e rouba pão!
286
Rodo, rodo, rodo, rodo,
devagar a divagar...
divagando sobre o modo
menos vago de vagar...
 287
Se a justiça, um dia, enfim,
a todos der vez e voz,
Deus dirá que agora, sim,
mora no meio de nós!
 288
São de cristal ou de barro
nossas vaidades... tão só.
Um baque, um tombo, um esbarro,
e tudo reduz-se a pó!
 289
Se alguém se torna importante,
por certo alguém o ajudou.
Mesmo o Amazonas, gigante,
de afluentes precisou!
290
Se aos heróis e aos grandes sábios
devemos tão bela herança,
muito mais a quem nos lábios
traz o canto da esperança!
291
Se as mentes elas lavassem,
e não os corpos somente,
quem sabe as águas voltassem
às graças de antigamente!...
292
Se as moquecas saem boas,
vão para o “chef” os louvores.
– Nunca ouvi cantarem loas
ao labor dos pescadores...
 293
Seca e enchente são recados
aos povos de toda a Terra:
– alerta contra os pecados
do fogo e da motosserra!
294
Se de Deus vem a mensagem,
não carece tradutor.
Em geral vem na linguagem
de uma estrela ou de uma flor!
295
Se de jeca lhe dão nome,
ele responde: – “Tá bão...
Mas, se ocê não passa fome,
é graças ao meu feijão!...”
296
Se ela insiste, por pirraça,
em fazer “greve”, olhe o enrosco:
dá-lhe ele um basta... e ameaça:
- Mamãe vem morar conosco!...
 297
Segura, peão, segura,
que a vida é um grande rodeio...
– É luta bela, mas dura,
com muitos trancos no meio!
 298
Se lhe derem mais apoio;
se ele vir que o bem faz bem,
tenha certeza: há de o joio
tornar-se trigo também!
299
Sempre que ensaia um passeio,
assim se apresta o janota:
reparte o cabelo ao meio,
bota a calça, calça a bota.
300
Se poder o avô tivesse,
o neto não cresceria.
Crescendo, desaparece,
e leva junto a alegria...
301
Se tens filho, escuta aqui,
que um lembrete eu vou deixar-te:
– Guri que já faz guri,
se fica solto, faz arte!…
 302
Soa o alarme no avião...
faz-se um enorme escarcéu...
Diz o piloto: - Atenção...
a próxima escala é o céu!
303
Solitário coração
abandonado num canto...
Ninguém com um lenço à mão
para lhe enxugar o pranto!
304
Sonhador desde criança,
não sonho entretanto em vão.
No sonho eu nutro a esperança,
que nutre o meu coração!
305
Sonho um mundo redimido,
que, movido a coração,
lance flechas de Cupido,
não petardos de canhão!
 306
Sorria, amigo, sorria!
Pois, neste tempo de tédio,
qualquer sinal de alegria
é sempre um santo remédio!
 307
Sorriso não paga imposto;
esbanja, portanto, o teu.
Sorrindo com graça e gosto,
acendes também o meu!
308
Tais encantos tem a vida,
tais e tantas graças tem,
que me dói pensar na ida
para o céu antes dos cem!...
309
Tal qual dois rios se abraçam,
formando um só rio após,
dois “eus” pelo amor se enlaçam,
passando a chamar-se “nós”!
310
Tal qual o povo, pisada
por tantos, a todo instante,
a alegria da calçada
é o tropicão do passante!...
 311
Também na fauna a justiça
é às vezes discricionária:
dá mole ao bicho-preguiça,
explora a abelha operária...
 312
Tantas e tantas estrelas,
e a lua ao meio, a luar...
Criou-as Deus para vê-las
fazer a gente sonhar!
313
Tão bela, tão generosa,
símbolo eterno da paz,
pede desculpas a rosa
pelos espinhos que traz!
314
Tão boa é aquela senhora,
tão generosa e tão pura,
que nem passando a ter nora
perdeu jamais a ternura...
315
Tem muito mais graça a vida
quando a gente tem com quem
repartir bem repartida
a graça que a vida tem.
 316
“Tem o amor certas razões
que nem a razão conhece.”
– Por exemplo: as emoções
que um gordo cheque oferece...
317
Tem que aos simples se igualar
quem deseja ao céu se erguer:
– O rio só se faz mar
depois de muito descer!
 318
Tenho a alma sempre em festa,
e é fácil saber por quê:
– minha vida é uma seresta,
na qual a lua é você!
319
Ter mil bens sem ser do bem,
que triste prazer produz...
– É ter tudo, sem, porém
ter nada que leve à luz.
320
Terno, amigo e generoso,
quis Deus se configurar
no abraço do pai saudoso
no filho que volta ao lar!
321
Tipo da coisa marota,
ambígua e um tanto arriscada:
perguntar a uma garota
se ela quer jogar pelada...
 322
"Tirei dez em português",
diz-me o neto, erguendo os pés.
"Na verdade, sete e três,
mas, vô... sete e três são dez!"
323
Todo idoso é um professor;
curvo-me e beijo-lhe a mão.
No mínimo, ensina amor,
hoje máxima lição!
324
Todos nós temos um pouco
ou de troiano ou de grego;
por isso este mundo louco
jamais há de ter sossego...
325
Trabalhas tanto, formiga,
enquanto, ó cigarra, cantas.
No entanto, basta de intriga:
– são duas tarefas santas!
326
Trata o vovô com respeito,
ou logo o castigo vem:
– dele herdarás só o direito
de ficar velho também...
 327
Trate o velho com respeito;
dê-lhe o amor que possa dar.
Mas não lhe roube o direito
de a si mesmo governar!
328
Tremor no hotel... toda gente
salta da cama assustada.
Falso alarme: era somente
efeito da feijoada…
329
Tristeza alguma dói tanto
quanto a tristeza dos sós...
– Ninguém lhes escuta o pranto,
ninguém lhes dirige a voz!...
330
Trova é bom para a saúde,
faz amigos, dá prazer.
Talvez até nos ajude
a esquecer de envelhecer...
 331
Tudo depende, de fato,
do que de “sorte” se chama...
Por exemplo, para o gato,
é achar um rato na cama!
 332
Uma boca em cada ponta
de um fio de macarrão...
Ao fim, o encontro que conta:
boca na boca... e um beijão.
333
Um dia, filho, verás,
e eu também, se vivo for,
o mundo inteirinho em paz,
na grande festa do amor!
334
Um vaga-lume, isolado,
é só uma pobre luzinha;
no entanto, aos outros somado,
clareia a roça inteirinha!
335
Vaidade, doença triste
que nos condena a estar sós...
Não nos deixa ver que existe
ninguém mais além de nós.
 336
Vai, riozinho, sem pressa...
lembra ao mar, sem raiva ou mágoa,
que ele é grande, mas começa
num modesto olhinho d’água!
 337
Vamos que vamos, poeta,
sem medo da liberdade...
Sigamos seguindo a seta
que leva à felicidade!
338
Vão de segunda os viajeiros
mais humildes – os coitados.
Serão no entanto os primeiros
entre os bem-aventurados!
339
Veja a mata: é lindo o verde;
veja o céu: o azul é belo.
Por que é que então eu vou ter de
manter o humor amarelo?...
340
Vem vindo um tempo sem bombas,
sem tanques e sem canhões.
Falcões darão vez às pombas,
e os fuzis aos violões!
 341
Venha, amor, vamos dançar
em meio à chuva, ao relento...
Sem medo, vamos deixar
que às nuvens nos leve o vento!
342
Vênus, Marte, o Sol e a Lua
talvez sejam mais vizinhos
que os que compõem na rua
a multidão dos sozinhos.
343
Verde, amarelo, vermelho...
bi-bi... fon-fon... ron-ron-ron...
Mulher, sem pressa, ao espelho,
na esquina ajeita o batom...
344
Vestem-se as águas de prata,
saltam no espaço vazio.
Findo o show da catarata,
sereno refaz-se o rio...
 345
Vinde, amigos, vinde e vede
o quanto pode o perdão:
– derruba qualquer parede
que nos separe do irmão!
 346
Vingança é coisa de gente
tresloucada ou matusquela...
– A lei do dente por dente
faz tempo ficou banguela!
347
Virão tempos diferentes
em nossa história, e os vereis:
haverá mais Tiradentes
do que Silvérios dos Reis!
348
Vi um menino uma vez
mandar aos pais um recado:
– Sou o amor que uniu vocês
e se fez carne. Obrigado!
 

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