Ah, quando escuto teus passos
meu coração se acelera,
que um só minuto em teus braços
compensa a angústia da espera!
Ah, trova com quem me enleio...
- Tens um gingado qualquer
Que lembra esse bamboleio
Do corpo de uma mulher...
Amor que tudo promete,
falso amor das Colombinas:
-juras e beijos: confete!
Abraços - de serpentinas!
Ao ler uma bela trova
depois que pronta ficou,
- quem calcula a dura prova
por que o poeta passou ?
A poesia que desejo
tiro de mim como aquela
cantiga do realejo
se alguém roda a manivela...
Às vezes penso que a vida
que há tanta gente a querer
só existe, - indefinida -
pra gente poder morrer...
A todos prende e cativa,
E não se rende a qualquer...
- É pequena, mas esquiva...
... Não fosse a trova, mulher...
A Vida - ansiosa escalada
sobre a paisagem do mundo
Tanto esforço para nada
se há sempre abismo no fundo!
A Vida, - mistério vão
sombra agora, depois luz,
- estranho traço de união
ligando um berço... a uma cuz!
A Vida - uma onda que avança
e volta, vai-vem do mar...
Quando vai, quanta esperança!
Quanta amargura, ao voltar!
A Vida - visão fugaz,
praia chã, mar que alteia,
onda que faz e desfaz
os seus cabelos de areia...
Cão de guarda, ameaçador,
a rosnar, furioso e cego
eis afinal, meu amor,
este ciúme que carrego...
Coração – pobre realejo –
com canções velhas e novas...
Tudo o que sinto, e o que vejo,
vais tocando.. . em minhas trovas...
- "Crê na Vida"- eis o conselho
da esperança ante a desgraça,
se a face do fria do espelho
de calor ainda se embaça...
Diz que é rico... Pode ser...
Mas pode ser que não seja...
Ser rico é apenas poder
fazer o que se deseja...
Do amor e da desconfiança
infeliz casal sem lar,
nasceu o ciúme, - essa criança
tão difícil de educar...
"Dosado", o ciúme é tempero
que à afeição da mais sabor...
Mas, levado ao exagero,
é o pior veneno do amor...
E eis a suprema ironia
ao meu coração ferido:
- tu foste trair-me um dia,
mas, com quem? - com teu marido...
Eis a arte de viver
num conselho dos mais sábios:
às vezes, para vencer
basta um sorriso nos lábios...
Eis como o ciúme defino:
mal que faz mal sem alarde
corte de alma, muito fino,
que não se vê... mas como arde!
Esperava tanta luta
e tão pouco foi preciso:
ao invés da força bruta
ele empregou... um sorriso...
Fantasia eu próprio sou
e há um contraste dentro em mim:
- carrego um velho Pierrot
num atrevido Arlequim!
Gota d'água transparente
que brilha, cresce...e que cai!
Assim a vida da gente
que num instante se vai!
Há uma ironia, contida
nas contigências da sorte:
- quanto mais se vive a vida
mais se avança para a morte.
Livre da dor, do desgosto,
mais feliz o homem seria
se assim como lava o rosto
lavasse a alma todo o dia.
“Matar saudades”, querida
é uma expressão, simplesmente,
pois, em verdade, na vida,
saudade é que mata a gente.
Meu terço feito de trovas
Que em versos fico a compor,
Com ele rezo, e dou provas
Do meu culto ao teu amor!
Moeda de estranho valor
que o coração faz cunhar:
quanto mais se gasta o amor,
mais se tem para gastar!
Não tinha paz nem descanso...
O amor... a vida.... – Voragem !
Hoje, a saudade é um remanso
a refletir a folhagem...
Nem tanta coisa é preciso
para evitar-se um revés...
- Tão pouco... basta um sorriso
e eis todo mundo a teus pés...
Nessa eterna e dura lida
renasço a cada momento
lavando as dores da vida
no rio do esquecimento...
Nesse jardim de surpresas,
que foi o amor que me deste,
as violetas são tristezas,
minha saudade, um cipreste.
No meu carro vou tranquilo,
tenha a estrada sombra ou luz,
pois bem sei que, ao dirigi-lo,
eu dirijo... Deus conduz!...
Numa amizade perdida,
num amor que se desgraça,
a morte desconta a vida
a cada dia que passa!
O ciúme, desajustado,
por louco amor concebido,
era uma amante, (coitado)
a padecer... de marido!"
Onde o sonhar de outra idade?
A fé que tive, e perdi?
Hoje chego a ter saudade
daquele... que já morri...
Ó pobre vida suicida!
Teu destino é uma ironia
se o que chamamos de vida
é um morrer de cada dia!
Paro, as vezes, num momento
feliz, que se vai embora,
e enquanto o vivo, a perde-lo,
sinto saudades... de agora.
Perigoso, onipotente,
verdadeiro ditador...
o ciúme é um cego, doente,
ou um doente, cego de amor?
Pobre alma triste a cativa !
E há quanta gente como eu
a pensar que ainda está viva
sem saber que já morreu.
Poesia, flor de mistério
que brota do coração
e abre as pétalas de etéreo
no céu da imaginação.
Por certo a pior solidão
É aquela que a gente sente
Sem ninguém no coração...
No meio de muita gente...
Por duas Marias erra
meu viver de déu em déu:
- a que me perde, na terra,
- a que me me salva, no céu.
Praias longe, em solidão
Fora de todas as rotas,
Tal como o meu coração
Só como o sonho... das gaivotas...
Que eu não tenho coração
não és tu, sou eu que digo...
-Como hei de ter coração
se tu o levas contigo?
Rico eu sou, mesmo sem ouro
E da riqueza, dou provas,
- eis aqui o meu tesouro:
Minha sacola de trovas.
Rosas tolas, tão vaidosas,
que em belas hastes vicejam...
Vem, amor, olha estas rosas,
quero que as rosas te vejam!
Saudade, - estranha ilusão,
que a solidão recompensa,
presença no coração
maior que a própria presença...
Sejam felizes ou não
Cantando instantes diversos,
As trovas do coração,
são trevos de quatro versos.
Tão simples, as trovas são
Cantigas com que a alma expande
Tudo o que há no coração
Do poeta - um menino Grande.
Tudo é trova: a flor, a onda,
A nuvem que passa ao léu
E a lua, trova redonda
Que a noite canta no céu!
Tu queres mais, sempre mais...
Sê comedido, prudente...
Até o bem quando é demais
acaba enjoando a gente...
Vi teu retrato, - revivo
um velho amor que foi meu...
A saudade é um negativo
de foto que se perdeu...
Vive a vida bem vivida
e ao mais, esquece e revela,
que a gente leva da vida
a vida que a gente leva...
Vivo a vida cada dia,
vida comum, sem engodos,
por isto a minha poesia
reflete a vida de todos
Você quer mesmo saber
como a vida se levar ?
Pois é... primeiro viver...
e depois... filosofar...
Vou pisando folhas mortas
sem amanhã... Sigo a esmo...
Fecham-se todas as portas...
Sou o fantasma de mim mesmo...
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