Ah! estou muito mudado.
Bem diferente me vejo.
Já pequei por atacado
e agora, peco a varejo.
A mulher manda, pedindo.
Ovelha fera de brava,
a si mesmo até, mentindo,
diz que não passa de escrava.
A mulher não é de graça.
Abusa pra ver! Depois,
não te queixes, que ela passa
o carro à frente dos bois.
Ante a manhã, não me engano
– falo para meu contento –
Deus é poeta parnasiano
de incomparável talento.
Ao lhe contar meu segredo,
mesmo só pela metade,
o nosso amor de brinquedo
virou amor de verdade.
A sua mão estendida,
apertei de olhos em pranto.
Nunca adeus de despedida
dei a alguém que doesse tanto.
A tarde em flor se anuncia.
Silêncio. Paz. Hora santa!
Despedindo-se do dia
sabiá saudoso – canta.
Bem contra a minha vontade,
vento da recordação,
pões o moinho da saudade
a moer meu coração.
Botão-de-rosa vermelho
que do jardim fulge a um canto!
Diante de ti, eu me ajoelho
embriagado de encanto.
Conversas rindo e brincando
e, em tua voz, eu descubro
os passarinhos cantando
nas madrugadas de outubro.
Ela se foi. Falo franco:
chorei lágrimas de dor,
tantas que meu lenço branco
nunca mais voltou à cor.
Ela voltou. Da saudade
cessou a dor que eu sentia.
Chorei de felicidade,
quase morri de alegria!
É pelo amor que me atrevo
a tudo. Sem covardia
faço mesmo o que não devo
e até mais do que devia.
Esperança: meu encanto!
Neste nosso mundo louco,
por que me prometes tanto,
e, depois, me dás tão pouco?...
Esta manhã deslumbrante
é doce beijo de amor
que Deus dá, do céu distante,
na face da terra em flor.
Eu conheço como poucos,
este mundo também, meu.
é mesmo, mais dos loucos,
se não for, louco sou eu.
Exibindo tua graça,
sorri e canta, menina,
que a vida é sonho que passa,
pois – mal começa – termina.
Juro que em Deus acredito
até mesmo, assim – sem crer.
Em tudo que acho bonito,
nunca me canso de O ver.
Fã da flor, feliz, festejo
esta rosa e me convém
apanhá-la, dar-lhe um beijo
e levá-la pra meu bem.
Feito cego sem ter guia,
sem que soubesse meu santo,
perdi-me na pradaria
florida de teu encanto.
Juro, amor, que não me iludo
ao dizer que tu és, sim,
o sal e o doce de tudo
neste mundo, para mim.
Meu galo músico canta
cantiga de saudação
à aurora – bonita santa
no altar azul da amplidão.
Muitos casais são palhaços
que fazem rir os presentes,
indo de beijos e abraços,
a coices, unhas e dentes.
Na casa de um capixaba
se a gente chega sem pressa,
a pressa logo se acaba
quando a conversa começa.
Não me consolem. Que o pranto
cristalino e superior
cumpra seu trabalho santo
de aliviar a minha dor.
Nêga-fulô de magia,
com a candeia da lua,
risonha, a noite alumia
os namorados na rua.
O homem sem a mulher,
sem cabeça é corpo. Moço,
sozinho, o que ele fizer,
vira um angu de caroço.
Ouvir-te, que coisa grata!
Falas e a gente se encanta.
Terás um sino de prata
na catedral da garganta?
Pela mão do Onipotente
generoso protegida,
na magia da semente
se oculta, dormindo, a vida!
Por te querer, com certeza,
culpa não tenho, menina.
Culpa tem tua beleza
que me escraviza e fascina.
Prezo, estimo, considero
o amor a mais não poder,
mas amor sem ser sincero
é bem melhor não se ter.
Quando namoro uma rosa
ou vejo mulher bonita,
uma paixão tormentosa,
inteiramente, me agita.
Quando viro pensador
e me perco descuidado,
no universo de uma flor,
me sinto maravilhado.
Quem ama, de si faz trigo.
Luta e vence; em Deus – confia;
sem medo enfrenta o perigo
e sofre com alegria.
Que manhã! Das mais formosas…
O céu na infância do dia,
parece que chove rosas,
chovendo luz e harmonia.
Quem diz adeus e ao partir
fica em saudade e lembrança,
devia mesmo não ir
sem nos levar na mudança.
Risonha, a Aurora se agita.
Róseos tons a luz lhe empresta.
Parece moça bonita
chegando alegre da festa.
Santo remédio é o pranto.
Tem o divino condão
de abrandar o desencanto
e as dores do coração.
Se meu coração te apoia
em tudo mesmo, querida,
é porque tu és a joia
que melhor me enfeita a vida.
Senhor Deus, devo saber
o meu destino cumprir.
Que eu faça por merecer,
para ganhar sem pedir.
Sou onda que vai, tangida,
da escura profundidade
do mar inquieto da vida
à praia da eternidade...
Tudo passa tão depressa:
sonho, amor, felicidade
e mal se acaba, começa
o tempo em flor da saudade.
Usa e abusa de agrado
a seu querido a mulher.
Vai chovendo no molhado
e alcança tudo o que quer.
Vai silencioso, em segredo,
o tempo, sem descansar,
cuidando do seu brinquedo
de fazer e desmanchar...
Vivo a vida em sonho imerso.
Tenho amor à fantasia.
Sou operário do verso
e lavrador da poesia.
Vivo vivendo de sonho,
quando te vejo sorrindo.
Sonho acordado e suponho
que estou sonhando – dormindo.
Vou te vigiar, não sou bobo,
o bom-senso me aconselha.
Quem melhor guarda do lobo
se não eu a minha ovelha?
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