sábado, 4 de novembro de 2017

Nilton da Costa Teixeira (1920 - 1983)

1
A humildade não se cansa,
conserva a fé arraigada,
e vai plantando esperança
onde não haja mais nada.
2
A mentira do sorriso
é silenciosa e indulgente,
e sempre vem de improviso
aos lábios tristes da gente!
3
Após frustradas quimeras
nossos silêncios ocultos
mostram descrenças e esperas,
choram desejos sepultos.
4
As campas dos cemitérios
sempre, em silêncio, esquecidas,
guardam os tristes mistérios
das esperanças perdidas.
5
A vida triste fantasia,
que abriga tanta ilusão,
é o caminhar dia a dia,
para um funéreo caixão.
6
Buscando mundos risonhos,
plenos de sábios caminhos,
vou na humildade dos sonhos,
esquecer dos meus espinhos.
7
Despreocupado com a morte
para quem tão pouco resta,
mesmo os rigores da sorte
são verdes sonhos de festa!
8
Durante suas andanças,
Jesus Cristo foi fecundo,
recolocando esperanças,
entre as descrenças do mundo.
9
Em silêncio, entre matizes,
estrelas postas ao léu,
mostram sorrisos felizes
dos anjos que estão no Céu.
10
Em silêncio, pelas faces,
vão as lágrimas descendo,
quais esperanças fugazes
dos sonhos que vão morrendo!
11
Há silêncios manifestos
calando sempre mais fundo,
porque são mudos protestos
aos desacertos do mundo.
12
Não! O silêncio não basta
contra uma intriga atrevida
que, caluniosa e nefasta,
quer arruinar nossa vida.
13
Neste abraço em que te aperto,
com a beatitude de um monge,
sinto meu amor tão perto...
Minha esperança tão longe!
14
Nossa vida é uma viagem
de turismo e avaliação,
em que o peso da bagagem
é feito no coração.
15
No silêncio das esperas,
entre meus dias tristonhos,
vou sonhando primaveras
nos espinhos dos meus sonhos.
16
Nos meus cabelos de prata,
silenciosa, sem defesa,
fio a fio, se retrata
minha infinita tristeza!
17
Nos silêncios dos caminhos
a cruz triste e apodrecida
é uma lembrança entre espinhos,
dos espinhos desta vida.
18
Nossos silêncios ocultos,
dentro do peito, sofrendo,
são quais desejos sepultos
dos sonhos que vão morrendo.
19
O Judas de hoje, moderno,
maneiroso, demagogo,
não teme os clarões do inferno,
porque dança sofre o fogo.
20
O meu sonho não se cansa,
vagaroso nos seus passos!
- Vai em buscada esperança,
com a humildade nos braços!
21
Para salvar aparências,
nós pela vida, mentindo,
entre silêncios e ausências,
sofremos sempre sorrindo.
22
Quais tênues gotas de orvalho
sobre as folhas pequeninas,
busca a humildade agasalho
nas almas mais cristalinas.
23
Quem passar por Ribeirão,
fatalmente, irá deixar,
pedaços do coração,
que um dia virá buscar.
24
Quem se conserva de pé
frente à calúnia tacanha,
tem humildade, tem fé,
e transpõe qualquer montanha!
25
Ribeirão - tu sobranceiro,
és do interior, no presente,
o município, primeiro,
porque caminhas à frente...
26
Sempre a palavra saudade
entre o silêncio e a emoção,
tem um quê de eternidade
morando no coração.
27
Sempre em silêncio profundo,
no mais triste desencanto,
vamos nós por este mundo,
chorando e escondendo o pranto.
28
Sempre em silêncio vivendo,
eu venho, desde criança,
por entre espinhos sofrendo
sem ter qualquer esperança.
29
Silenciosos e tristonhos,
desfilam pelos caminhos,
os meus calvários de sonhos
e minhas cruzes de espinhos!
30
Tal uma flor campesina,
sempre a humildade oferece
a grandeza pequenina
do perfume de uma prece!
31
Tenho a casa pobrezinha,
um prato e uma colher,
e a esperança toda minha
de arranjar uma mulher.

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