A brisa da madrugada
entrando pela janela,
balança a rede bordada
de sonhos, dos sonhos dela...
A brisa da mocidade
passa rápida, impaciente,
jamais volta e sem piedade
carrega os sonhos da gente…
A brisa do amor caindo
em minha rede do outono,
é primavera florindo
uma roseira sem dono!...
Acreditam os marujos
que as cantigas da sereia
marulham nos caramujos
que o mar atira na areia.
Ah! Se Deus ficar zangado,
qualquer dia, por capricho,
joga este mundo danado
dentro da lata de lixo!
Ah... se no inverno da idade,
voltassem as andorinhas,
aquelas, da mocidade,
que um dia foram só minhas!
A inocência tem a graça
e o porte de uma rainha;
límpida jóia sem jaça,
da mais pura água marinha.
A Maria do Rosário
vaidosa e analfabetinha,
procura um veterinário
que tire "pés de galinha"...
Anunciando a calmaria,
certa pomba mensageira
trouxe o olhar de um novo dia
num raminho de oliveira.
Ao partir ficou presente
uma estranha nostalgia,
e percebi, de repente,
que eu te amava e não sabia!
A patinha procurava
um ricaço só pra ela...
Encontrou: o pato estava
“recheado”... e na panela!
A solidão mais sofrida
é quando o tempo envelhece
na curva triste da vida,
onde o amor desaparece...
As Trovas que ele escreveu
têm valor... mas não têm preço.
Luiz Otávio não morreu
foi morar noutro endereço.
Até onde a Fé alcança,
Anchieta deu agasalho,
e nasceu dessa esperança
a Capital do Trabalho.
A viúva do Licínio,
pelo jogo tem um fraco...
e sustenta o condomínio
com o lucro do... “buraco”!...
Caminho despercebida
entre os que vivem tão sós...
mas daria a minha vida
para alguém dizer-me... Nós!
Ciumenta, a pata chorava,
procurando pelas matas,
sabendo que o pato estava
andando com duas patas!
Declina o sol e retrata,
no crepúsculo silente,
uma estrela cor de prata
no sorriso do poente!
De um segredo bem guardado
num alento quase mudo,
fiz um verso em tom magoado
e, sem querer... disse tudo!
Duas almas quando juntas
se completam sem temor...
mas quando o amor faz perguntas,
a incerteza mata o amor.
Ela estufou... só na frente,
e contou pra sua amiga
que foi o inchaço do dente
que desceu para a barriga!
É no fim da caminhada,
quando nada mais se alcança,
que uma luz quase apagada
traça um risco de esperança...
Enquanto aumenta a cidade
na moderna construção,
cresce comigo a saudade
dos tempos do... casarão!...
É secreto para o mundo
esse mundo de nós dois...
Nosso amor é tão profundo
que nem importa o depois…
Felicidade é um recado
sem data, sem remetente,
chegando sempre atrasado
na caixa postal da gente!
Ferve o leite na panela,
e o garoto sapeando,
diz à mãe, pela janela:
– “A panela está babando!...”
Foi dando o pé que ficou
um papagaio assanhado,
até que um dia virou
“lourinho desmunhecado”!
Menino pobre, sem rosto,
sem futuro, sem roteiro,
só festeja o seu desgosto
com cola de sapateiro...
Muitos versos em segredo
te escrevi, com emoção...
Não mandei, pois tive medo
da resposta ser... um “não”!
Na moldura da janela,
a tua sombra franzina,
é uma pintura sem tela
entre as rendas da cortina.
Na rude encosta deserta,
por onde escorrega a vida,
não tem hora ou data certa
o comboio da partida…
Na seara desta vida
eu quero colher agora
toda esperança perdida
que, sem querer, joguei fora…
No começo o tempo sobra,
na juventude incontida,
e depois a idade cobra
restos que sobram de vida!
No espaço da porta aberta,
entra a saudade e, comigo,
divide a mesma coberta
que eu dividia contigo!...
Nossa vida é um manto feito
com capricho e sutileza,
bordado pelo direito,
sobre o avesso da incerteza.
O apressado inconsequente
trocando as “bolas” do assunto,
deu pêsames ao nubente
e parabéns... ao defunto!
O segredo desta vida
é criar de um quase nada,
uma trilha bem florida,
no agreste da longa estrada.
Pinheiros ao sol levante,
parecem taças voltadas
sorvendo o orvalho espumante
no festim das madrugadas...
Quando a saudade procura
entrar, arrombando as portas,
ilumina a casa escura
das minhas lembranças mortas!
Quando certo olhar me afaga,
eu mergulho no infinito
de um eco que se propaga
na insistência do meu grito.
Quando chegou parecia
ter chegado a madrugada...
E partiu levando o dia,
deixando a noite fechada.
Quando o boi é retalhado
e sem dó entra na faca,
muda de nome o coitado
e vira... carne de vaca!
Se eu tranco a porta da frente
para não sofrer com ela,
a saudade impertinente
quebra os vidros da janela!
Seguindo os passos das horas
na solidão desmedida,
eu perdi muitas auroras
na aurora da minha vida.
Solidão... pautas vazias,
cantigas lentas, remotas...
solfejo marcando os dias
no descompasso das notas!
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