terça-feira, 3 de outubro de 2017

Gamaliel Borges Pinheiro

1
À falta de inteligência,
são argumentos de estulto
o destempero, a violência,
a gritaria, o tumulto.
2
A insegurança, a tristeza
dos que se dizem ateus
é nunca terem certeza
da inexistência de Deus!
3
Ante a dor do desgraçado,
quem se faz indiferente
tem o ouvido calejado
e a consciência dormente.
4
As fluentes, cristalinas
cataratas dos teus beijos
fazem girar mil turbinas
da usina dos meus desejos.
5
Até agora, meu bem,
ao certo saber não pude
se teu carinho faz bem
ou se me agrava a saúde.
6
A tua boca precisa
de levar esparadrapo,
para ver se imobiliza
a tua língua de trapo.
7
Como o sábio é ponderado,
comedido, tolerante,
o néscio é precipitado,
oco, vaidoso, arrogante.
8
Da vida de toda gente
quis o medíocre saber;
e a si mesmo, que era urgente,
não tratou de conhecer.
9
De palavras más, intensas,
trago os ouvidos vazios,
pois jogo fora as ofensas,
guardo só os elogios.
10
Do meu filho, homem formado,
eu conservo na retina
de alegre pai deslumbrado,
o guri vivo e traquina.
11
Do pensamento em conflito
ressalta a ideia serena:
ao mundo sofrido e aflito
vim somente pagar pena.
12
Em meio às lutas da vida
afirmo-te compensado:
nosso casório, querida,
tem sido um longo noivado.
13
Esta moda divertida
na mulher mais se acentua:
velha e feia - bem vestida;
bela e jovem - quase nua!
14
Mais do que o verbo inflamado,
me encanta, nas assembléias,
os grandes prélios travados
no terreno das ideias.
15
Musicando o riso e o pranto,
minha Itaocara aprendeu
as doces aulas de canto
que o Paraíba lhe deu.
16
Na luta do pensamento
o que se torna empolgante
é que, no fraco, o talento
pode torná-lo um gigante.
17
Numa alternância vadia,
a vida atira em meu rosto
um minuto de alegria
para um ano de desgosto.
18
Paraíba caudaloso,
nas tristes tardes de estio
sinto um murmúrio queixoso
nos marulhos deste rio.
19
Para amenizar o estio
de jornada tão sofrida,
vez por outra nasce um rio
no deserto desta vida.
20
Parece que, sem comando,
para chegar neste ponto,
de tanto viver rodando
o mundo já ficou tonto.
21
Pela vida entre perigos
dos caminhos percorridos,
tive nobres inimigos
e tive amigos fingidos.
22
Por mais negro e perigoso
que seja o mundo, nós temos,
em Deus, um sol luminoso,
para os momentos extremos.
23
Por-me-iam desnorteados
seus trejeitos atrevidos,
se eu não fosse vacinado
contra amores proibidos.
24
Quem sabe fazer alarde
a sua fama constrói,
por isso há muito covarde
condecorado de herói.
25
Tomba o trono, a majestade,
a glória em breve se vai,
mas do cimo da humildade,
meu amigo, ninguém cai.
26
Uma estátua a humanidade
deveria, solidária,
erguer em cada cidade
à professora primária.
27
Vai-se o dia sem promessa,
uma folha a mais caída,
o outono chega depressa
ao bosque de nossa vida.
28
Viúva, no inverno da vida,
sem carinhos do vovô,
vovó, no canto, esquecida,
coitadinha, faz tricô.
29
Vivido, bem tarimbado,
que experiência expressiva:
já vi o orgulho humilhado,
já vi a humildade altiva.

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