terça-feira, 16 de maio de 2017

Adelir Coelho Machado (1928 - 2003)


1
Acumulando jornadas,
hoje sigo as fantasias
que vestem de madrugadas
as minhas noites vazias!…
2
A droga é falsa ilusão
no torneio dos fracassos...
Tira a vergonha, a razão,
e arrasta a vida aos pedaços.
3
A empregada de hoje em dia 
quando vai para o fogão,
cozinha em banho-maria
as cantadas do patrão!!!
4
Ante um transe tão profundo,
o próprio Deus, de mãos postas,
pede perdão para um mundo
de mensagens sem respostas.
5
Apagada a mocidade,
no carvão encontro meios
de, entre as cinzas da saudade,
acender meus devaneios!
6
A saudade hoje tem pressa…
Sobe ao céu, a Deus, a Marte…
De joelhos faz promessa,
meu amor, para buscar-te.
7
Busco a harmonia dos mares
que a tempestade aniquila
com lucidez de luares
na consciência tranquila!...
8
Dorme demais… não tem pique
para dar carinho a Tônia.
Ela vai fazer trambique
para o cara ter insônia!!!
9
Em teus braços me abandono...
O teu amor é guarida
e folha verde de outono
no verão da minha vida.
10
Enquanto vibra o universo,
o mar-poeta se enleia
pelo acalanto de um verso
que o sol escreve na areia.
11
Esqueço… não desespero
porque sei quanto doeu
o pranto amargo e sincero
que sua culpa verteu.
12
Findam noites estreladas,
no renascer da harmonia:
o sol com Deus de mãos dadas
abrem as portas do dia.
13
Foi no trem que a moça disse
com seus “ares” de tolinha:
– Se tentar uma tolice,
eu não chego ao fim da linha!!!
14
Imortal sempre serei
na saudade e nos afetos
dos filhos que ao mundo dei
e na vida dos meus netos.
15
Meu laçarote de fita
que o tempo fez em retalhos
prende uma infância infinita
nos meus cabelos grisalhos.
16
Meu namorado querido!
Nosso amor tão lindo e puro
será por Deus aquecido
nos caminhos do futuro!…
17
Milagre da terra ardente
no estorricado sertão:
brota do trigo a semente
para a mesa ter mais pão.
18
Não revido esta invernia
da minha alma anoitecida.
Tenho uma estrela vadia
me aquecendo o céu da vida.
19
… Não ventava, nem chovia.
Tudo silêncio, asseguro…
Somente a rede gemia
naquele quartinho escuro!!!
20
Nosso grisalho carinho
é bênção que Deus nos deu:
és presença em meu caminho,
eu sou presença no teu!
21
Ouço a minha alma cantando
a mais doce melodia:
Sei que Deus está ninando
minha infante fantasia!…
22
Para que contar invernos?
Do tempo vivo à mercê.
Quero que sejam eternos
meus momentos com você.
23
Pelo exemplo de Jesus,
Padre Anchieta é o retrato
do milagre de uma cruz
que salvou o mundo ingrato.
24
Pelos caminhos do céu,
vai, balão iluminado!
mas volta como um troféu
à terra, sempre apagado.
25
Preciso de uma pedra só:
mas que seja bem bonita
e se avolume do pó
de uma esperança infinita!…
26
Procurando coisa alguma,
meu sonho sempre se alteia…
Faz com pilastras de espuma,
os meus castelos de areia!…
27
Procuro a paz dos caminhos
com verdes encruzilhadas
onde encontre frágeis ninhos
protegidos nas ramadas!…
28
Que o tempo – guri travesso
fugindo a cada segundo,
não esqueça do endereço
do amor que lidera o mundo.
29
Rezar é belo, criança,
não há mistérios na prece...
Deus dá o pão da esperança
enquanto o trigo não cresce!
30
Se a noite chega cansada
de caminhar sempre ao léu,
Deus dá vinhos de alvorada
na taça rubra do céu.
31
Seja palácio ou favela
a educação sempre traz
a esperança que revela
um mundo pleno de paz.
32
Ser Gente é ter semelhança
com Deus em sua virtude:
Inocência de criança
amor em cada atitude.
33
Tanta falta de capricho!
Outra vez está de porre?
– Fui ao bar matar o bicho…
Mas o danado não morre!!!
34
Teu beijo – doce quentão
é vício que não supero.
Me embriaga de emoção…
Quanto mais bebo, mais quero!…
35
Tudo é mentira, patroa!
É fofoca desta gente…
O patrão diz que sou boa
porque faço prato quente!!!
36
Vejo auroras encantadas
no peito do trovador:
Quatro versos de mãos dadas
numa ciranda de amor!…

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