quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Nilton Manoel (Como Fazer Trovas) 1a. Parte


O INSTRUMENTO

Ao estudarmos a Arte de trovar ou a composição da Trova, devemos analisá-la em duas partes: o Corpo e a Alma, ou a Forma e o Fundo.

Na parte correspondente à Forma teríamos o Ritmo - resultante da metrificação e das tônicas; a Melodia - conseguida pelas rimas e pelo emprego harmonioso das vogais e consoantes; e a expressão gramatical e poética.

Na parte correspondente ao Fundo, teríamos: a Mensagem poética, a originalidade (e o "achado"), a comunicabilidade, a simplicidade, a harmonia interna, etc.

A UBT iniciou seus estudos por uma das partes da Forma ligada ao Ritmo, ou seja especificamente - pela metrificação.

Não se pretende ensinar a ninguém a ser trovador, como não se pode fazer um pintor, um músico, um escultor. Todas as Artes têm, no entanto, sua aprendizagem técnica. Além destes conhecimentos é necessário o dom. Se não podemos transmitir este dom, poderemos ensinar a parte formal ou técnica de cada Arte.

Na Música, Pintura, etc., esta aprendizagem é feita rotineiramente.

Na Arte de versejar há uma resistência em fazê-la e mesmo uma tendência para menosprezá-la. E às vezes, esta deficiência aparece camuflada com o pomposo lema de "Liberdade Poética". Mas não se pode torcer os fatos.

Se o músico aprende a tocar o seu instrumento, o poeta também possui um instrumento de comunicação e deve aprendê-lo. E o idioma e o verso são os instrumentos do poeta.

RAZÕES PARA ESTE ESTUDO

Temos recebido, através dos anos, muitas consultas verbais e epistolares, de trovadores que desejam saber como deveriam contar as sílabas dos seus versos. Por outro lado, tomando parte em muitas Comissões Julgadoras de Concursos de Trovas, observamos inúmeras discussões, com perda de tempo de exaltação de ânimos, devido às diferentes interpretações das regras de metrificação. Há, também, em alguns livros especializados, deficiências de explicações e até mesmo alguma obscuridade.

Achamos pois, que deveríamos fazer estes estudos, buscando um "denominador comum" ou uniformização de normas do UBT em seus Concursos de Trovas. Seria uma sistematização útil para concorrentes e juízes, extensiva a outros gêneros e a outras Associações.

Além da utilidade para iniciantes, concorrentes e juízes, estes estudos poderão dar um grande prestígio literário à UBT, pelo seu pioneirismo e pela sua profundidade.

DÚVIDAS E DESCONFIANÇAS

Várias dúvidas e desconfianças poderão surgir no espírito daqueles que não estiverem bem entrosados com as nossas pesquisas ou desconhecerem as finalidades de nossos estudos.

Que não se julgue, por exemplo, que a UBT está exorbitando de suas funções ao fazer um estudo destes. Nenhuma Associação do País, nestes 15 anos tem organizado tantos Concursos de Trovas.

Calculamos que nossas Seções e Delegacias receberam de seiscentas a novecentas mil trovas. Assim pois, mais do que ninguém, sentimos o problema e a necessidade de resolvê-los.

Além de dúvidas sobre métrica, havia dúvidas sobre certas designações. Vamos também tentar desfazê-las.

Não há, como pode parecer, a qualquer crítico mais apressado, um culto exagerado da Forma, em detrimento do Fundo.

Começamos o estudo pela metrificação porque era o ponto que oferecia mais dúvidas e discussões. E também, porque a metrificação é algo de objetivo que poderemos regulamentar e chegar a um acordo. Ao passo que o Fundo (a mensagem) é algo imponderável, subjetivo.

Uma dúvida que a muitos desanima e inquieta é que seja impossível encontrar um "denominador comum" porque os casos de divergências são inúmeros e complexos. Isto é apenas uma impressão inicial. Quando nos aprofundamos nestes estudos vemos que o assunto não é tão complexo e que podemos catalogar os inúmeros casos em poucos grupos e subgrupos.

Foi o que fizemos.

Há desconfianças ingênuas que até nem mereciam comentários. Mas que fique bem claro que não pretendemos fabricar trovadores.

No entanto, poderemos ajudar os iniciantes e talvez mesmo a outros trovadores, a aperfeiçoar a sua parte técnica.

Não pretendemos, também, mudar a maneira de fazer a trova, nem tirar a sua espontaneidade, nem tolher a liberdade poética de ninguém.

Pelo contrário, defendemos a simplicidade da trova e o seu não "aparnasiamento" ou "academização".

Não é por desejarmos melhor aprendizagem do forma da trova, ou o encontro de um "denominador comum" na metrificação que estaremos tirando a sua espontaneidade.

Outras causas que combatemos outros exageros que observamos, estes, sim, "academizam" a trova, como "enjaibements" em excesso; abusos de ordens indiretas; o culto demasiado de rimas ricas ou raras; a exigência de tônicas em sílabas predeterminados; a proibição de rimas homófonas (nos 4 versos) e de rimas oxítonas entre o 1* e 3* versos, etc.

DIFICULDADES

Encontramos algumas dificuldades para realizar nossas tarefas. Mas foram superados.

Ora, aquela tendência para menosprezar a Forma;
ora, a luta contra as convicções enraizadas baseadas em convenções nem sempre lógicas;
ora o pessimismo ou derrotismo de alguns que achavam ser a tarefa difícil demais ser terminada;
ora, velhos tabus aceitos e repetidos sem uma análise mais profunda, e, finalmente, a má vontade de alguns poucos, que além de jamais cooperarem, vivem sempre a criticar negativamente.

Mas o saldo positivo foi bem maior. Além da útil cooperação de muitas Seções, Delegados e Sócios da U.B.T., tivemos também ajuda de alguns que não pertencem à nossa Entidade.

A estes os nossos profundos agradecimentos. Aos outros respondemos o nosso trabalho sério, amplo, profundo e democrático.

O ENSAIO E O RELATÓRIO, DE LUIZ OTÁVIO.

Seis meses antes de receber as respostas dos Consultores e Pesquisadores, da Comissão de Estudos da U.B.T., Luiz Otávio escreveu um Ensaio sobre Metrificação com 21 páginas datilografadas, tamanho ofício, que finalizava com um "Decálogo de Metrificação", (Julho-Agosto de 1973).

Cópia deste Ensaio foi entregue ao trovador Carlos Guimarães - Presidente da U.B.T. Nacional.

Ao ser solicitada pelo Carlos Guimarães para acumular a função de Presidente da Comissão de Estudos com a de Relator, Luiz Otávio aquiesceu. Recebeu então de Carlos Guimarães, em janeiro de 1974, as respostas de 43 consultores e de 10 pesquisadores que leram e anotaram 21 livros de Poesias .

Elaborou o Relator, 22 grandes mapas, em dois lados e analisou e escreveu o relatório de 43 páginas. Teve o relator a honra e a satisfação de ver que seu Decálogo de Metrificação tinha sido confirmado, após tantos estudos, pesquisas e respostas de inúmeros trovadores de várias cidades do Brasil.

Houve pequenos ajustes visando a dar maior segurança e clareza ao Decálogo.

A COMISSÃO DE ESTUDOS, ESTRUTURA, AGRADECIMENTOS

Agradecemos a cooperação da:
Comissão Central: Luiz Otávio (Presidente Relator), Carlos Guimarães, Carolina Ramos, Idália Krau, P. de Petrus e Noel Bergaminí.

Consultores: Seções da U.B.T. de Belo Horizonte, Campos, Corumbá, Curitiba, Fortaleza, Guanabara, Magé, Niterói, Petrópolis, Sete Lagoas, Ateneu Literário e Artístico - IDEALEDA-ANGOLA.

Trovadores e Poetas: José Machado Borges, Vicente Viotti, Lúcio Flávio de Miranda - Belo Horizonte; Walter Siqueira Campos; Gabriel Vandoni de Barros, Lécio Gomes de Sousa, Osório Gomes de Barros, Magali de Souza Baruki, Walmir Coelho - de Corumbá; Vera Vargas - de Curitiba; Cesar Coelho, Hidelbardo Sisnando, Vasques Filho - de Fortaleza; P. de Petrus. Iraci do Nascimento e Silva, Guimarães Barreto, Noel Bergamini - Rio de Janeiro; Adolfo Macedo - de Magé; Milton Nunes Loureiro, Sávio Soares de Souza, Maria de Lourdes do Vale Araujo de Barros; Maria do Conceição Pires de Melo (Manita), Raul de Oliveira Rodrigues - de Niterói, Carolina Azevedo de Castro, Hélio Chaves, Farid Félix - de Petrópolis; Judith Coelho Maciel - de Sete Lagoas; Carlos Guimarães - do Rio de Janeiro; Carolina Ramos, David Araújo, Luiz Otávio - de Santos; Dimas Lopes de Almeida de Portugal; Helvécio Barros - de Bauru; Jacy Pacheco - de Niterói; Lilinha Fernandes; Maria Idalina Jacobina, Murilo Araújo, Vasco do Castro Lima - do Rio, Rodolpho Abbud - de Nova Friburgo, Nilton Manoel. - de Ribeirão Preto-SP.

Pesquisadores: Ivo dos Santos Castro, ldália Krau, Lúcia Lobo Fadigas, Micalclas Corrêa, Maria Idalina Jacobina, P. de Petrus, Noel Bergamini, do Rio de Janeiro; Carolina Ramos, Luiz Otávio e Maria Campos da Silva de Santos.

Poetas Pesquisados: Gonçalves Dias, Fagundes Varela, Olavo Bilac, Vicente de Carvalho, Filinto de Almeida, Hermes Fontes, Raul de Leoni, Murilo Araújo, Martins Fontes, Vicentina de Carvalho, Alphonsus de Guimarães, Menoti del Picchia, Manuel Bandeira, Colombina, Florbela Espanca, Eugênio de Castro, J. G. de Araújo Jorge, Paulo Bonfim, Antologia de Osório Duque Estrada.

BIBLIOGRAFIA

Além dos livros de Poesia citados no item anterior, foram consultados outros sobre Arte Poética, como os de Antonio Freire de Carvalho, Costa Lima. Osório Duque Estrada, Olavo Bilac e Guimarães Passos, Murilo Araújo, Geir Campos e os Ensaios inéditos de Luiz Otávio e Micaldas Correa.

Foram consultadas, também, as Gramáticas de Rocha Lima (1a. edição) e de Domingos Paschoal Cegalla (12a. edição).

Neste pequeno resumo não podemos recordar as noções sobre versos e pontos gramaticais a ele relacionados. Sugerimos que as noções básicas do verso, tais como:
sílabas métricas,
ditongos,
hiatos,
processos de diminuição de sílabas métricas (crase, elisão, sinalefa, sinêreses, síncopes, apócopes, elipses, etc.) sejam recordadas e consultados os livros especializados, como os citados na Bibliografia.

continua...

Fonte:
http://movimentodasartes.com.br/trovador/pop/pop_01.htm

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