quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A. A. de Assis (Bela alma a do poeta)

  
Bela alma a do poeta
 
Quantos sons você conta aí?…

Suponhamos que sete: Be-la-al-maa-do-po-e-ta.

Mas por certo haverá quem conte seis, ou mesmo cinco, dependendo do ouvido de cada um. Dá-se isso por obra do bendito hiato, o inimigo número um da métrica. Parece que para a maioria dos poetas brasileiros o verso fica mais agradável quando se respeitam os hiatos, porém outros acham mais natural fundir as vogais. E como é que se resolve isso? Sabe-se lá…

O maior drama é nos concursos. Você não sabe se conta poe-ta ou po-e-ta. O jeito é torcer para que os julgadores acatem o sotaque de cada autor. Em regra, não se derruba nenhuma trova em razão desse problema; entretanto, mesmo assim, o concorrente fica de pé atrás, pelo medo de quebrar o cujo…

A tendência, como foi dito, é pronunciar po-e-ta, vi-a-gem, a-in-da, a-al-ma, a-ho-ra, o-homem, o-ou-ro, po-ei-ra, su-a, to-a-da etc.

Mas… e se você não concordar? Tudo bem. Você continuar escrevendo seus versos do modo que mais lhe agrade, e pronto. Afinal de contas, quem manda no texto é o autor. Se bem que alguns, por via das dúvidas, têm feito o seguinte:

Se, por exemplo, mandam a trova para um concurso no Rio de Janeiro, contam "fri-io", em dois sons;

Se o concurso é em São Paulo, contam "friu", num som apenas.

Outros, mais cuidadosos ainda, procuram de toda forma evitar hiatos.

Resolve? Bem… Pelo menos pode livrar a trova do risco de perder pontos por não soar bem no ouvido do julgador. São ossos que o poeta encontra em seu delicioso ofício…

Fonte:
Revista Virtual Trovia – ano 8 – n. 88 – Outubro 2006

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