sexta-feira, 28 de junho de 2019

Massilon Silva (Aracaju/SE)


Acabei com meu dinheiro
porque gastei como louco.
- Enganas-te cavalheiro,
o teu dinheiro era pouco.

A distância pequenina
de minha casa pra sua,
o seu olhar ilumina
de um lado a outro da rua.

A ordem de expositores
não desmerece o produto,
pois a ordem dos tratores
não altera o viaduto.

Ao ver-me cambaleando
não me olhe de soslaio,
nem fique me criticando.
Se a Bolsa cai, eu não caio!

Beberam na mesma taça,
sentindo da mesma sede,
hoje um pra outro não passa
de um retrato na parede.

Com bastante animação
eu vejo São João chegar,
vou entornar um quentão
na  calçada do meu lar.

Concordar eu não concordo,
aceitar eu não aceito,
mas que importa se discordo
se se faz do mesmo jeito?

Correndo de seu marido
pulei dez cercas de vara,
me senti mais perseguido
que Ernesto Che Guevara.

De tanto haver retornado
aos braços dessa menina,
eu já estou conformado,
regressar é minha sina.

Discordo dessa parada,
a sogra não é serpente,
mas sua língua afiada
mata qualquer um da gente.

Em maio por várias vezes
clamo e chamo por seu nome
mas nos outros onze meses
se eu não lhe chamar, reclame.

Em noites de lua cheia
um lobisomem percorre
as ruas de minha aldeia,
se avista a gente, ele corre.

Enjoei deste lugar,
não fico mais nesta rua.
Vou construir nosso lar
na face oculta da lua.

Enquanto cresce a lambança
que nosso idílio morreu,
meu coração não se cansa
de correr atrás do seu.

Esse mau humor danado
está dando o que falar,
mas só será expurgado
se aquela ingrata voltar.

Eu bebi de sua mão
o vinho que me encantou,
mas depois comi do pão
que o diabo amassou.

Eu daqui me perguntando:
Mulher? É homem?  Não sei...
Só sei que vai desfilando
numa passeata gay.

Eu não tenho combustível
nem dinheiro pra comprar,
assim não vai ser possível
hoje à noite lhe encontrar.

Eu nem sei como é Dolores,
mas falam dela tão bem,
que até já lhe mandei flores
apaixonado também.

Examinando a quimera
do parentesco aparente,
descobri que a Primavera
é minha contraparente.

Hoje acordei bem cedinho,
discuti com o lençol,
abri da porta um tantinho,
colhi um raio de sol.

Invadiu meu coração,
sem nenhuma cerimônia;
fez uma devastação,
maior que da Amazônia.

Já estamos conversados,
não tem como nem porquê,
no dia dos namorados
o meu presente é você.

Já estou entregue às traças,
gagá e quase demente,
mas quando bebo cachaça
fico mais inteligente.

Maio,  Maria,  mulher,
mãe, matrona, matriarca,
musa, madame,  o que quer
que seja tem sua marca.

Mesmo de corpo alquebrado
ela vai e não reclama.
Alguém inspira cuidado,
é a voz do filho que chama.

Não choro tua partida,
nem pra ficares te peço,
pois sei que pra cada ida
haverá sempre um regresso.

Não pense que estou aflito
por não me chamar meu bem,
pois o amor mais bonito
é aquele que não se tem.

Não quero ser o seu dono
nem quero ser seu marido,
só quero perder o sono
nas barras do teu vestido.

Na tela do celular
eu escrevi nossa história,
o bicho achou de travar
e apagou da memória.

No mundo existe problema
até pra enterrar um morto,
porque se a cova é pequena,
o defunto fica torto.

Nosso amor resiste a vento,
a chuva e a trovoada.
Uma briga de momento
é sereno, é quase nada.

O mar da tranquilidade
hoje estava diferente.
Fui ver sua claridade,
a terra ficou na frente.

O nordeste está mudado,
São João não tem quadrilha,
tudo agora é concentrado
lá no planalto, em Brasília.

Por favor! Não vá embora!
Sorva o copo por inteiro.
Pra quem sai antes da hora
a festa acaba primeiro.

Porque deixei sem querer
nossas malas em Manágua,
não precisava fazer
tempestade em copo d'água.

Pra montar o Minotauro
e cavalgar livremente,
quero a Próxima Centauro,
não uma estrela cadente.

Procurei no céu a lua,
um eclipse a escondeu,
mas pra clarear a rua
basta-me um sorriso teu.

Quando esta chuva passar
e um pote de ouro vires,
não tens como se enganar,
é a base do arco-íris.

Quando o assunto é extenso
e dissertá-lo me estorva,
resumo aquilo que penso
ponho tudo numa trova.

Quando ouvir alguém batendo
na porta de sua vida,
venha abrir,  venha correndo,
sou eu voltando,  querida.

Querem mudar meu destino
ao dizer-me que não pode
num restaurante grã-fino
comer buchada de bode.

Quisera que a lua cheia
coubesse na minha mão
pra te ofertar, oh sereia,
junto com meu coração.

Se a tristeza que lhe invade
deixa seu peito infeliz,
quando estiver com saudade
leia os versos que lhe fiz.

Se decepção infame
lhe fez perder um amor,
seja forte, não reclame,
reclamar aumenta a dor.

Se eu chegar de madrugada,
a patroa desaprova.
Estando a porta travada
destravo a trava com trova.

Se eu não disser o que quero
nem você o que pretende,
fica nesse lero lero
e a gente nunca se entende.

Segredo é pra ser guardado
e é certeza que me cale,
quando estiver acordado.
Dormindo talvez eu fale.

Se os dias passam depressa
e todo tempo é agora,
ame muito, tenha pressa,
antes que o amor vá embora.

Só depois de ter achado
o que há muito foi perdido,
descobri que aquele achado
já não fazia sentido.

Sobre o mistério que ronda,
Da Vinci um dia escreveu
que o rosto é da Gioconda,
mas o sorriso é o teu.

Sua ausência me faz triste,
uma tristeza sem fim,
confesso que não existe
outro triste igual a mim.

Trovaram pra seus amores
toda a noite sem parar,
de manhã nasceram flores
na janela do solar.

Zé Sabino no passado
foi marinheiro de fama,
depois virou Deputado,
navegou num mar de lama.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

José Valdez de Castro Moura (Trovas em Preto & Branco)

  por José Feldman Análise das trovas e relação de suas temáticas com literatos brasileiros e estrangeiros de diversas épocas e suas caracte...