sexta-feira, 5 de março de 2021

Alvitres do Professor Renato Alves - 4 -


15.
“Tu és pó e ao pó retornarás”:   Nesta belíssima trova de Alonso Rocha, uma reflexão filosófica sobre o Homem, sua importância e seu destino. Um exercício de humildade para ser sempre lembrado!
 
Quem se julga eterno herdeiro
de um mundo farto e bizarro,
esquece que Deus – o Oleiro –
cobra o retorno do barro.
(Alonso Rocha)

 
16.
Às vezes, a beleza da trova está baseada  num achado que nos leva a reflexões filosóficas, às vezes,  a um sentimento lírico etc  etc. Esta trova, porém, nos remete, primeiro,  a uma imagem física de grande beleza plástica, para depois nos fazer sentir  a profundidade afetiva que encerra este gostoso abraço.   
    
Meus netos têm me passado
com seu abraço a ilusão
que sou um coqueiro enfeitado
de orquídeas em floração.
(Wandira Fagundes Queiroz)

 
17.        
Na pequenina trova, às vezes basta um também pequenino detalhe para valorizar o estilo e a linguagem. Vejam como o “foi não...”, construção típica do linguajar regional, no final do 2º verso, serviu para conferir autenticidade nordestina ao que é dito, embora o autor seja mineiro de Pouso Alegre.
    
Não desprezei meu Nordeste,
desprezo, eu juro, foi não...
Foi a dureza do agreste
Que me afastou do sertão!
(Alfredo de Castro)

 
18.
Às vezes fico pensando se o rigor formal exigido nos concursos e jogos florais não pode nos privar de certas joias da criatividade poética na composição da trova. Reparem na beleza desta trova de rima simples que, no entanto, jamais seria premiada em concursos nos dias atuais.
 
Desconfio que a saudade
não gosta de ti, meu bem.
– Quando tu vens, ela vai...
Quando tu vais, ela vem...
(Luiz Otávio)

 
19.        
Esta trova apresenta três aspectos que merecem comentário:
1. É de rima simples;
2. Apresenta um “enjambement” entre os 1º e 2º versos, recurso condenado por muitos;
3. Tem uma linda metáfora para “esquecimento”! 
(As ondas vão apagar o nome, assim como o trovador foi “apagado”...)
    
Gravei teu nome na areia
da praia, como castigo:
– Façam-lhe as ondas o mesmo
que tu fizeste comigo!
(Corrêa Júnior)

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