Coisa difícil é fazer uma trova. Todo trovador sabe disso.
Num soneto, apesar da exigência das quatorze linhas... são quatorze linhas para você dizer o que sente, em versos de sete, dez e até doze sílabas.
A trova não! Quatro linhas, sete sílabas cada uma, primeira rimando com a terceira, segunda com a quarta, ritmo estabelecido e regulado, obedecendo a um decálogo peremptório e intransigente. Qualquer deslize em um mínimo desses detalhes... e o seu trabalho de semanas fundindo a cuca, vai parar na “cestinha amável e caprichosa”.
Por essas justíssimas razões, o ex-presidente da UBT de São Paulo, Izo Goldman, não admite que alguém use o termo “trovinha” (que linda a sua trovinha)... Ele fica uma arara:
- Nós não fazemos “trovinhas”! Fazemos TROVAS! (O diminutivo, mesmo em tom carinhoso, é implacavelmente rejeitado.)
Há dias, passando por uma rua em Sorocaba, dei com uma inscrição na parede de um sobrado. Não gosto de paredes rabiscadas (para não dizem de quem rabisca paredes), mas li a inscrição... e fiquei pasma:
Se consigo por no rosto
um sorriso que inexiste,
da dor diminuo o gosto
e me sinto menos triste.
Ass. G.M. (Seria General Motors?)
um sorriso que inexiste,
da dor diminuo o gosto
e me sinto menos triste.
Ass. G.M. (Seria General Motors?)
Uma trova linda! Linda e sensível.
G. M., apareça! Em vez de usar as paredes dos prédios, mande suas trovas para os concursos das UBTs do país e receba prêmios pela sua sensibilidade, pela sua capacidade! Você é um excelente trovador.
Desta vez concordei plenamente com o Izo Goldman, se alguém disser de sua trova “Que linda a sua trovinha!”
Vou atalhar, curto e grosso:
- Epa! Trovinha, neca! Isso daí é um tremendo... TROVÃO!
Obs.: Não sei se G. M. é o autor da trova (alguém sabe?), ou se ele apenas a copiou.
Fonte:
Jornal “O Guarani” – 03/02/90
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