Trovas Infantis
"Ao céu vai o bem dotado.
E o criminoso aonde vai?"
Diz o filho do advogado:
"Não sei... isso é com meu pai..."
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Guri do boné virado,
estilingue... palavrão...,
hoje, vigário ordenado:
- Pax vobiscum, meu irmão!
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"O canivete, meu bem",
diz ao garoto o vizinho,
"é teu! Vai ver o que tem
dentro do teu tamborzinho!"
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Pancada de chave inglesa
amontoou o Garcês,
que para a própria surpresa,
acordou falando inglês!
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"Por que é que eu te chamo, Nei,
de "porquinho" ... faz favor?"
"É que ainda eu não cheguei
ao tamanho do senhor..."
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"Que tanto estudas, Leal?"
"Geografia, Seu Garcês."
"Humm... e onde está Portugal?"
"Na página cento e três."
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"Vovô, feche os olhos já!
Vi papai dizendo à Guida
que quando você fechá,
vamo ficá bem de vida!”
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TROVAS VÁRIAS
A brisa afasta a cortina,
e uma nesga de luar,
fugindo à fria neblina,
vem aos meus pés se abrigar.
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A existência é definida
não por azar, mas por sorte:
quanto mais cheios da vida,
mais perto estamos da morte.
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“Ai doutor, não acredito...
Picada por um “barbeiro?
Veja, só! Pois o maldito
me disse que era engenheiro!!!”
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A lua, em passo indeciso,
muda o andante da sonata,
pondo pausas de improviso
no pentagrama de prata.
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A nova-rica não topa
sugestão de amigo seu.
Diz que não vai para a Europa
porque não fala europeu.
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Dizemos que o tempo voa,
e enquanto filosofamos,
ele vive aí, à toa,
e somos nós que voamos.
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Dizem que amas de mentira,
mas gosto de acreditar,
e até que um dia eu confira,
vou-me deixando enganar.
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Em bando sutil, as garças,
pontilhando o lamaçal,
são quais pérolas esparsas,
adornando o pantanal.
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Em cada tarde a cair,
vejo a vida em agonia,
aos poucos se despedir
na morte de mais um dia.
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Eu me faço de blindado.
Amor? Bobagem... Pieguice...
Meu medo é que, apaixonado,
eu me envolva na tolice.
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Guardo os bons tempos da vida,
e os maus procuro esquecer,
mas a memória, atrevida,
teima em roubar-me o prazer.
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Irrequieto, o molecote,
no jeitinho turbulento,
parece um mini-quixote,
perseguindo um catavento.
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Matuto filosofante
vendo filme que arrepia:
“E esse era o ”inferno de Dante...”
“Imagine o de hoje em dia!”
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Meus pobres sonhos, tão fracos,
a vida em escombros fez,
mas, teimosa, eu junto os cacos...
e eis-me sonhando outra vez!
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O amor, ao termo da vida,
deixa na pauta apagada
uma só nota sentida,
canto de cisne... mais nada.
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O cara, dentro do armário,
diz: “Não é o que você pensa...
“Eu já sei”, responde o otário,
“o gajo é o lá da despensa.”
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Ora eloquente, ora mudo,
teu olhar é uma charada:
promessa sutil de tudo,
no fútil revés de um Nada.
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Os erros que fiz na vida
quero apagar sem alarde
mas, a consciência revida
e, aos brados, me diz: é tarde!
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"Para sempre!" Será mesmo?
Não importa a duração
é promessa feita a esmo,
mas aquece o coração.
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Presença eterna do ausente,
perfume em frasco vazado,
saudade é sombra incoerente
num coração apagado.
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Que bela seria a vida
se, acima de ódios mortais,
uma ponte fosse erguida
unindo margens rivais!
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Somos tão bem afinados,
que, em termo gramatical,
podíamos ser chamados
"encontro consonantal"!
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Trem-de-ferro, o teu apito
lembra-me um sino plangente:
tanta mágoa no teu grito,
tanta saudade na gente!"
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Triste e sozinha eu me deito,
mas encontrando um desvão,
a lua invade o meu leito,
e afugenta a solidão.
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