sábado, 19 de dezembro de 2020

QUEM FOI O TROVADOR LUIZ OTÁVIO?


 
por Carolina Ramos

O POETA

Gilson de Castro nasceu a 18 de julho de 1916, no Rio de Janeiro. Luiz Otávio foi o pseudônimo que ele adotou para assinar suas trovas, poesias e outras manifestações de seu talento literário. Era cirurgião-dentista, profissão que exerceu no Rio de Janeiro, onde se formou e mais tarde se transferindo para Santos no final de sua vida.

Começou a enviar seus versos para os jornais e revistas lá por 1938, ainda timidamente, oculto sob pseudônimo. Não pretendia misturar a vida literária com a profissional. As principais revistas e jornais da época começaram a divulgar poesias e principalmente trovas de Luiz Otávio, que podiam ser encontradas no "Correio da Manhã", "Vida Doméstica", "Fon-Fon", "O Malho", "Jornal das Moças", revistas que, como "O Cruzeiro", eram as mais lidas dos anos 1939, 40 e 41, etc. A revista "Alterosa" de Belo Horizonte, também o divulgou. Pouco a pouco, a Trova tomou conta do coração do poeta, assumindo Literalmente papel de Liderança na sua vida. E ele confessa:

A Trova tomou-me inteiro,
tão amada e repetida,
que agora traça o roteiro
das horas da minha vida!...

Para a ascensão da Trova na vida de Luiz Otávio, muito contribuiu sua amizade com Adelmar Tavares. Quem os aproximou foi o consagrado poeta A. J Pereira da Silva. Recuperava-se Luiz Otávio na Fazenda Manga Larga em Pati de Alferes, quando teve oportunidade de conhecer esse renomado poeta, da Academia Brasileira de Letras, com quem iniciou amizade edificante, solidificada pela Poesia; amizade que se estendeu até os derradeiros dias de A. J. Pereira da Silva que, naquele tempo, já passava dos sessenta, enquanto Luiz Otávio não galgara ainda o vigésimo segundo degrau de sua sofrida existência. Isto não perturbou as horas deliciosas de conversa amena e espiritualizada, em que a fina sensibilidade de ambos fazia desaparecer a diferença de idade, provando que um coração capaz de vibrar "de amor" e pulsar em ritmo de poesia, simplesmente não tem idade.

A viúva do acadêmico Antônio Joaquim Pereira da Silva, doaria posteriormente, a preciosa Biblioteca do poeta ao seu particular amigo, Luiz Otávio, que, por sua vez, ao transferir residência para Santos, em 1973, doou parte desse valioso acervo, juntamente com livros de sua própria estante - num total de mil exemplares devidamente catalogados - à Academia Santista de Letras, que só então teve formada sua Biblioteca. Na época, a A.S.L. era presidida pelo Dr. Raul Ribeiro Florido que se responsabilizou pelo transporte Rio-Santos. Com esta doação, Luiz Otávio não pretendia nada para si, como deixou bem claro em carta, (era de conhecimento geral sua quase aversão às Academias, em virtude do próprio temperamento). Mas pediu, por uma questão de justiça, que numa das estantes fosse colocada uma placa que levasse o nome de A. J Pereira da Silva. Luiz Otávio recebeu um carinhoso oficio de agradecimento do então Presidente da Academia. O atual Presidente, Dr. Nilo Entholzer. Ferreira, trovador de méritos, comprometeu-se a cumprir essa cláusula. Como já dito, A. J. Pereira da Silva foi quem levou Luiz Otávio até Adelmar Tavares, também da Academia Brasileira de Letras, em visita à sua casa, em Copacabana. Corria o ano de 1939. Adelmar Tavares sentia a idade pesar-lhe nos ombros, e, mais uma vez, um jovem poeta e um velho e consagrado mestre da Poesia uniam-se por laços afetivos dos mais duradouros. A principal responsável por essa união foi a Trova, que Adelmar Tavares cultivava e da qual Dr. Gilson de Castro já era profundo apaixonado, trazendo-a para o público sob o Pseudônimo, agora definitivamente adotado.

Luiz Otávio. Luiz, por ser bonito, melodioso, e combinar com Octávio, o nome do Pai, a quem, homenageava. Para atualizar o nome, o c foi cortado em acordo às regras ortográficas vigentes. A Poesia de Luiz Otávio ganhava espaço. Jornais de outros estados o acolhiam em suas páginas, tinha ao seu dispor colunas literárias de crítica poética, onde comentava livros, publicava trovas, poesias e arrebanhava fãs e admiradores de todas as idades. Daí ai constituir-se Líder de um Movimento Trovadoresco, era questão de um passo, muito embora isto viesse acontecer sem procura. Idealista, lírico, por excelência, com um profundo senso de organização, Luiz Otávio acumulava ainda outras qualidades indispensáveis ao "verdadeiro Líder", seja lá do que for. Era simples, honesto, e sabia convencer sem forçar. Embora convicto e determinado, sabia humildemente ceder, se preciso fosse. Se persuadido da necessidade de uma renúncia, cedia, sim, porém, não facilmente, mesmo porque antes de propor algo, o fazia convicto de que aquilo era o certo, respondendo de antemão a todos os possíveis apartes - o que de certo modo desarmava, a priori, o opositor. Era bom, afável e acima de tudo, profundamente carismático. Um verdadeiro Príncipe!

O TROVADOR

Era, portanto, o campo fecundo onde a semente da Trova encontrou chão propício para deitar raízes, expandindo sua opulência por todo território nacional. O ritmo da Trova que embalava seus ouvidos desde os tempos de escoteiro, cresceu com ele, ganhando melodia ao som do violão de Glauco Vianna, mais tarde pertencente ao "Bando dos Tangarás", seu colega de faculdade e de noitadas de seresta.

FINAL
Luiz Otávio sempre gostou de cantar e compor embora não conhecesse música. Aloysio de Oliveira, outro companheiro, também possuidor de um bom timbre vocálico, iria pertencer, no futuro, ao Bando da Lua, que tanto sucesso fez na terra de Tio Sam ao lado de Carmen Miranda. A influência destes dois amigos foi grande na iniciação poética de Luiz Otávio. Glauco tocava, Aloysio cantava e Luiz Otávio não apenas cantava como também compunha letras e músicas de canções, sambas, fox-trotes, valsas, etc. e continuou cantando e compondo até o final dos seus dias. Nascia o "Trovador" - assim carinhosamente chamado, já naquele tempo, antes mesmo do seu ingresso definitivo no Mundo da Trova.

Cada quadrinha que faço
em hora calma ou incalma,
é pequenino pedaço
que eu mesmo furto a minha alma.

Ó trovas – simples quadrinhas
que tem sempre um que de novo...
- Como podem quatro linhas
trazer toda a alma de um povo?!

Uma trova pequenina,
tão modesta, tão sem glória,
bem pouca gente imagina,
que também tem sua história.

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