terça-feira, 6 de outubro de 2020

Lisete Johnson (1950 - 2020)

 
1
Ah, o amor não dividido,
sonho não compartilhado...
Será este cão marido
ou um homem acorrentado?
2
Ao teu lado, não sei bem...
São as ondas em seu vagar
ou se é a rede num vai vem
que me dão o céu e o mar?
3
As amizades bonitas,
correntes de abraço estreito,
levo, gravadas em fitas,
no porta-joia do peito.
4
Às vezes, da terra bruta
e de um par de pés no chão
que vêm o exemplo de luta
e ânsias de superação!
5
Até parece mentira
que, na Rede, ao navegar
nas doces notas da lira,
vou, no teu corpo, aportar!
6
Benditas fotografias,
que contam fatos passados,
retalhos de alegres dias,
pelo tempo, costurados!
7
Céu marinho como tela,
verdes, grises, tom carbono…
são tintas de uma aquarela,
pintando as tardes de outono.
8
Embora este andar cansado,
denuncie minha idade,
a menina do passado
baila com facilidade!
9
Em todas minhas passagens
por terras, águas ou trilhos,
Deus, sempre, adorna as paisagens
de flores, de sóis, de brilhos!
10
Enquanto houver um luar
e um sol cheio de esplendor,
há de se ouvir o cantar
da lira de um trovador!
11
Este mundo gira, gira!
Gira tanto, tão veloz!
Ele gira ou é mentira?
Pois quem gira, somos nós!
12
Eu fui deixando um a um
meus vícios e compulsões…
E feliz, hoje, em jejum
me alimento de emoções.
13
Foi graças a seu gingado,
que a garota, um “avião”,
ganhou do “seu” deputado
“baita” cargo em comissão!
14
Franciscos são pregadores
de lumes e boas novas…
Alguns, da fé, são pastores,
outros, pastoreiam Trovas.
(trova para o Prof. Garcia)
15
Inconstância é estar contigo,
tudo tem duplo valor:
busco o amor, encontro o amigo;
busco o amigo, encontro o amor.
16
Marujos em alto mar,
habituados às baleias...
Nas areias... nem pensar!!!
Só querem fisgar sereias.
17
Meu barquinho de papel,
antes que o dia desponte,
zarpará do mar ao céu,
onde repousa o horizonte!
18
Meu gato, todo assanhado,
pêlo em pé, todo se estufa,
totalmente apaixonado,
e seduz minha pantufa…
19
Meu desejo percorreu
teu corpo, feito compasso,
circulando o que é tão meu
na geometria do abraço!...
20
Muitos sofrem neste mundo,
por falta de pão e teto,
mas o pesar mais profundo,
é ser carente de afeto.
21
Na feira, o “seu” Manuel:
– Não vendo nada... Pois, pois!
Mas se esgoela: - Olha o pastel,
pague três e leve dois! 
22
Não culpe, nunca, o destino
pelas quedas e fracassos.
Não se censura um menino
que cai nos primeiros passos!
23
Não é à força e martelo,
que se esculpe um cidadão!
Constrói-se, até, um castelo,
não caráter, retidão...
24
Não fico mais à mercê
do soar de cada hora,
pois o tempo pôs você
no meu tempo sem demora!
25
Nas nuvens vejo ajoelhada
minha mãe a orar comigo,
sempre que a fé é abalada
e nem rezar eu consigo.
26
No brinquedo “Esconde-esconde”,
eu me escondia tão bem,
que, até hoje, não sei onde,
eu me escondi…E de quem?
27
Nosso amor é, com certeza,
permanente transfusão:
na alma, no leito, na mesa,
ao sugo de um macarrão!!
28
Num arco-íris de cores,
fui descendo de mansinho
sem, se quer, pisar nas flores
que plantaste em meu caminho.
29
Num tropel de evoluções,
a lua, no céu, galopa,
entrelaçando bilhões
de áureas estrelas em tropa!
30
O Jerry, rato travesso,
atazanou tanto o gato,
que virou Tom, ao avesso,
e fez do gato, sapato!
31
Olhando, assim, de relance,
não consigo vislumbrar...
Fora está do meu alcance,
distinguir o céu do mar!
32
Ousada, a Lua assistia
pelas frestas da janela,
nossos corpos, na euforia,
rindo sob os raios dela!
33
"Paloma, blanca paloma",
do nada veio, ao tudo foi,
trouxe a paz, levou a soma
de uma sentença: "Acá estoy!!"
34
Perdão… As ondas pediam
afago às areias do mar,
que, em volúpia, se despiam
com o incessante beijar!
35
Por excesso de vaidade,
de soberba, de altivez,
valores, como a igualdade
estão, hoje, em escassez.
36
Pulsa tanto neste peito,
coração preso e febril,
ao mirar o vago leito
co’a sombra do teu perfil!!
37
Quando criança, eu ficava
olhando o céu, a cismar:
- quem, tão alto, a luz ligava
para acender o luar!
38
Quando me sinto impedida
por problemas iminentes,
o meu Deus me dá guarida
e vai rompendo as correntes!
39
Quando o percurso é distante
e os trilhos correm sem fim,
é bem neste exato instante, 
que Deus alia-se a mim!
40
Que monótono seria,
se não houvesse matizes
de cor, de raça , de etnia,
frutos de várias raízes!
41
Quero um abraço apertado,
real ou até da ficção,
de um personagem letrado,
que afague meu coração!
42
Resgatei o meu passado
e a noite outonal de abril
ao ver no espelho embaçado,
a sombra do teu perfil!
43
Se a droga traz euforia...
Como seria melhor
drogar-se só de alegria,
sem lançar mão do pior!
44
Se a pressa fez-me escolher
atalhos e não caminhos,
por certo, só vou colher
em vez de rosas, espinhos…
45
Se, em vez de paredes, pontes
eu tivesse construído,
talvez outros horizontes
teria então percorrido!...
46
Singrei mares de agonia,
lutei contra vendavais,
para achar a calmaria
que só encontro em teu cais.
47
Sol poente e meu veleiro
diz adeus aos coquerais...
Voa livre, aventureiro,
à procura de outros cais!
48
Tempos de patriotismo,
inspiram até meu olhar:
na paisagem há lirismo
e a bandeira a tremular!
49
Teu beijo, bombom cremoso
de conhaque com anis,
é o manjar mais saboroso
que minha boca já quis!
50
Teu corpo, lânguida estrada,
percorro com meu desejo,
no asfalto da madrugada,
na trilha de cada beijo! 
51
Um coração peregrino 
encontra estabilidade, 
quando Deus ou o destino, 
põem, na trilha, a amizade.
52
Um larápio, bem “pé-frio”,
ao fugir de um cachorrão,
escolheu, logo, o desvio
que acabava na prisão!…
53
Voltem riso e traquinagem
ao lar informatizado!!
A vida pede passagem
para o marasmo instalado!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

José Valdez de Castro Moura (Trovas em Preto & Branco)

  por José Feldman Análise das trovas e relação de suas temáticas com literatos brasileiros e estrangeiros de diversas épocas e suas caracte...