As lágrimas que hoje choro
hão de secar, meu benzinho,
quando tiver o que imploro:
— O lenço do teu carinho...
- - - - - –
Da roupa e a cara pintada
faz a mulher seus "engodos"...
Mas... é sem roupa, sem nada,
que ela mais agrada a todos...
- - - - - –
Da vida em seu louco afã,
há quem carregue, com calma,
no rosto, a luz da manhã,
lendo a noite dentro da alma.
- - - - - –
De beijar-te não me tolhas…
— Que teus lábios, a rigor,
são duas primeiras folhas
de um doce livro de amor...
- - - - - –
Despedida — adeus dorido
que tanto nos mortifica...
— Sofrimento repartido
entre quem vai e quem fica.
- - - - - –
De você assim tão junto,
conversando os dois, a sós,
eu sinto, por nosso assunto,
quanta distância entre nós...
- - - - - –
Dor mais funda não existe,
mais acerba, mais pungente,
do que a gente viver triste,
com saudade até da gente.
- - - - - –
Esperança — bem que enleva
nossa vida, no presente...
— Um raio de luz na treva
do incerto amanhã da gente.
- - - - - –
É triste quando ela passa,
tão formosa e indiferente,
esbanjando a sua graça,
sem achar graça na gente!
- - - - - –
Existe uma opção na Terra,
em mentes sãs, há mil sóis:
- É melhor nunca haver guerra
do que ser "Berço de Heróis".
- - - - - –
Lágrimas de nós fluindo,
quando enfrentamos abrolhos,
são gotas de dor fugindo
de nossa alma, pelos olhos.
- - - - - –
Luz sublime, que fascina,
desprende-se, em doce brilho,
do olhar, que é força divina,
da mãe que acarinha um filho!
- - - - - –
Mulher bela, indiferente,
como a sorte fugaz:
- Quanto mais foge da gente,
mais a gente corre atrás...
- - - - - –
Muita vez, fingindo calma,
na vida enfrentando escolhos,
a dor eu a escondo na alma,
de riso enfeitando os olhos.
- - - - - –
Na mãe que canta, embalando
um filhinho, até faz gosto
ver-se tanto amor brincando
na ternura de um só rosto!
- - - - - –
Na solidão, triste, assim,
minha dor é tão intensa,
que eu sinto fugir de mim
a minha própria presença...
- - - - - –
Neste mundo de percalço,
mentira existe tão linda
que se troca um amor falso
por amor mais falso ainda...
- - - - - –
Num velório, a vela acesa,
com chama embora aziaga,
não tem tamanha tristeza
como depois que se apaga.
- - - - - –
O alegre que ri de um triste
deve lembrar-se, no entanto,
no exíguo espaço que existe
entre o riso, a dor e o pranto.
- - - - - –
O Criador, na ânsia extrema
de tornar tudo mais lindo,
fez o Amor — esse poema,
que as almas cantam, sorrindo!
- - - - - –
O meu viver, na verdade,
chego a senti-lo risonho...
Que eu gozo a felicidade
onde ela existe — no sonho...
- - - - - –
Os meus olhos buliçosos,
fitando-te, assim risonhos,
são dois pássaros ansiosos,
buscando um ninho de sonhos...
- - - - - –
O tempo enfrento com gosto,
com paciência, amor e calma...
Se a velhice vem-me ao rosto,
não a deixo entrar-me na alma.
- - - - - –
Quando amor você murmura,
meu bem, me beijando assim,
a minha alma, com ternura,
ri feliz, dentro de mim!...
- - - - - –
Quanta angústia nos invade
na despedida inclemente,
quando a sombra da saudade
passa a ser sombra da gente.
- - - - - –
Quando comigo dançou,
tão embebido eu sonhava
que, quando a orquestra parou,
minha alma ainda dançava…
- - - - - –
Quando padeço um tormento,
da trova eu faço meu pranto.
E assim, ante o sofrimento,
em vez de chorar, eu canto.
- - - - - –
Quando passo por diversos
tormentos, buscando calma,
faço trovas, cujos versos
são retalhos de minha alma.
- - - - - –
Quanto Bem não nos seduz
por trazer contradição...
– Que valor teria a luz
não houvesse a escuridão?...
- - - - - –
Quem nunca sentiu saudade,
com sua angústia e negror,
jamais sentiu, na verdade,
em sua alma, a luz do amor.
- - - - - –
Saudade... rosa envolvente,
de inebriante fragrância,
perfumando a alma da gente,
da roseira da distância...
- - - - - –
Se no tempo eu me mergulho,
com minhas cãs tenho zelos,
chegando a sentir orgulho
da alvura dos meus cabelos.
- - - - - –
Se vendesses teu carinho,
teu carinho que é tão doce,
comprá-lo-ia, inteirinho,
por qualquer preço que fosse...
- - - - - –
Um clarão há que retalha
e enegrece os corações:
— É o que irrompe na batalha,
ao ribombar dos canhões.
_____________________________________
Geraldo Pimenta de Moraes, que eventualmente usava o pseudônimo Gerpimoré, nasceu na cidade de São Sebastião do Paraíso/MG, em 19 de setembro de 1913. Filho de Francisco Pimenta de Moraes e Antonieta Cosmina de Moraes. Vitorioso em diversos concursos de trovas e poesias. Além dos diplomas e medalhas que possui, conquistados em concursos de tremas e poesias — principalmente de trovas. Têm inúmeros trabalhos publicados em jornais e revistas, coletâneas, e através dos concursos já referidos. Pertenceu à Arcádia de Pouso Alegre e à União Brasileira de Trovadores. Militar inativo, capitão do Exército, onde prestou serviços durante 25 anos, conquistando, nesse tempo: Medalha de Bronze (10 anos de bons serviços); Medalha de Prata (20 anos de bons serviços); Medalha de Guerra e Medalha do Pacificador (por haver tomado parte na última Grande Guerra). Residia em São Paulo.
Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.
Nenhum comentário:
Postar um comentário