sábado, 2 de setembro de 2017

Antonio Cabral Filho


1
Anos Dourados, Maria,
são nossos gritados ais,
nenhuma fotografia,
sequer nunca nem jamais.
2
Aqueles que seguem sonhos,
não encontram obstáculos,
nem temem sustos medonhos,
pois já previnem seus cálculos.
3
Como turista quis ser:
Viver sem construir laços;
mas eu só sinto prazer
após cair em seus braços.
4
Elis Regina quer casas,
mas a criança quer campo,
pois a pipa lhe dá asas
para os voos que eu encampo.
5
Esqueça das horas mortas,
que o futuro se anuncia,
pois tudo que mais importa
é termos um novo dia.
6
Essa tarde e esse mar,
nossa infância assim sem medo,
nossa rede a nos ninar
fazem qualquer um aedo.
7
Esse céu de puro anil,
o nosso mar e as araras
pintam de azul meu Brasil,
a terra das jóias raras!
8
Felicidade é encanto
que se vive por um triz,
mas celebro, por enquanto,
apenas o que Deus quis.
9
Foi de Maria Fumaça,
a gente ali, lado a lado,
e você esbaldando graça
no meu peito acorrentado.
10
Formiga não acha feio
mostrar seu fardo no templo;
mas quem come o pão alheio
foge dela pelo exemplo.
11
Fugir é partir a esmo,
mas isso eu jamais cometo,
pois aprendi por mim mesmo
que fujão finda no gueto.
12
Imagem e semelhança,
Deus fez todos filhos seus;
será que alguém afiança
qual é a raça de Deus?
13
Já fui João de Maria,
trafegando em corda bamba:
Naveguei na calmaria
embalado pelo samba.
14
Meus horizontes azuis,
cheios de mar, sol e ventos,
só se alegram com seus uis
ao fogo dos sentimentos.
15
Meus passos à beira mar,
vão construindo caminhos,
sob o clarão do luar
entre beijos e carinhos.
16
Nosso céu, sempre tão lindo,
passa dia, cruza Era,
faz o verão que vem vindo
nos cobrir de primavera.
17
O poeta não tem quadrante,
por ser ele universal,
um tremendo viandante,
inclusive virtual.
18
Paixão, doação, entrega,
cada um sabe da sua;
ninguém vê como se apega,
mas vai pro mundo da lua.
19
Quem escreve não se rende,
nem a Brutus nem ao Demo;
pois a pena não se vende
nem atende a Polifemo.
20
Quem quiser ser um artista,
tem que seguir as canções,
passar a vida na pista
para abalar corações.
21
Sempre vivi por aí,
sem as razões nem as fontes,
mas o sol, depois que eu vi,
faz-me cruzar quaisquer pontes.
22
Terra, mãe nas mãos dos filhos,
gesto por demais bonito;
mas se andássemos nos trilhos,
se ouviriam menos grito...
23
Todos cantam sua terra,
como fez Gonçalves Dias;
mas só Cazuza descera
os véus das hipocrisias.
24
Uma vez que o tema é copa,
e tens a bola no pé,
sou do tipo que não topa,
jamais, levar um olé.
25
Um raio de sol me guia
por onde o amor impera,
mostrando-me mais um dia
nos reinos da primavera.
26
Vai sem olhar para trás,
quem acha que sempre acerta,
sem saber que a vida faz
estoque de porta aberta.

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