domingo, 12 de março de 2017

Joao Batista Xavier Oliveira


1
A alegria despertava
quando a porteira se abria.
Hoje aberta... sem a trava...
só transita nostalgia!
2
Alvo de risos e palmas
embutido em seu disfarce,
o palhaço lava as almas
querendo da dor vingar-se!
3
A neve em nossos cabelos
não arrefece a união;
o tempo com seus desvelos
aquece nossa paixão.
4
Anos dourados, orquestras,
rostos colados, penumbra,
voltas em passadas destras...
o meu passado vislumbra!
5
Após a invenção da roda
a pressa, numa rodada,
parece que virou moda
na roda-viva enrolada!
6
Aquele que não respeita
o tempo, na semeadura,
certamente na colheita
não terá fruta madura.
7
Assim como não se para
o tempo, naturalmente,
um grande amor não separa
duas almas no poente!
8
Bem no meio da floresta
a terra respira fundo...
Aproveita o que lhe resta
arejando mais o mundo!
9
Busquei na vida sentido
para compreender meus ais:
um grande orgulho contido
e amor pequeno demais!
10
Como sou tão distraído!
Após você ir embora
notei quem tinha fugido:
eu de mim... somente agora!
11
Comprimido pelo tédio
teu elixir foi meu mal.
És para mim, do remédio,
o efeito colateral!
12
Cultivar rosas consiste
em saber do espinho oculto;
a ilusão dorida existe
na vida envolta num vulto.
13
Das mãos limpas que me valho
são exemplos dos meus pais:
honestidade e trabalho;
ganância... inveja... jamais!
14
Dinheiro não cai do céu
e de pedra não sai leite;
quem espera sempre ao léu
não passa de um vil enfeite.
15
Distância não é medida
se a paixão é verdadeira;
o calor de despedida
não diminui a fogueira.
16
Eu me sinto um fugitivo
sem teu olhar prisioneiro
pois na prisão em que eu vivo
o amor é o meu carcereiro!
17
Felicidade consiste
olhar a vida risonha...
um brilho que não existe
nos olhos de quem não sonha!
18
Na distância dos abrolhos
que abrigam os excluídos,
quanta súplica nos olhos
ao silêncio dos ouvidos...!
19
Não é ilusão dos meus olhos
nem delírio de carência;
são os sinais dos escolhos
desenhando a tua ausência!
20
Não há sorriso que emplaque
na comédia desta vida,
se, na ironia da claque,
qualquer verdade é escondida!
21
Não quero rimar espera
na tua ausência dorida;
ao chegar a primavera
a esperança é colorida!
22
Na praça, o coreto dorme...
despertando a minha infância.
E aquela saudade enorme
encurta mais a distância!
23
Nas noites esperançosas
meu sonho... apenas um vulto...
é um jardineiro entre as rosas
nos seus espinhos oculto!
24
No fim do túnel a luz
sinaliza uma esperança.
Quem a seu brilho conduz
a vitória sempre alcança!
25
No jardim da minha infância
quantas flores eu colhi!
Ainda sorvo a fragrância
toda vez que volto aqui!
26
Novas auroras... quimeras...
esperanças e portais.
Parecem que em primaveras
as flores encantam mais!!
27
O caráter se desfaz...
irmão não é mais irmão...
se a mentira for capaz
de confundir a razão.
28
O dom do perdão desperta
a esperança então contida.
Renascer é a porta aberta
às causas nobres da vida.
29
O ponto de referência
que nos uniu de verdade
foi a esquina da paciência
com as ruas da saudade!
30
O presente desatina
quem cai no conto falaz:
– trocar voto por botina
leva sempre um pé por trás!
31
Parece um sonho e me espanta
nosso amor tanto expandir.
A felicidade é tanta
que receio até dormir!
32
Pelas flores que plantei
entre espinhos... muito fiz
que um grande jardim ganhei:
Minha sina é ser feliz!
33
Pergunto ao tempo até quando
a falsa paixão se esconde.
E ele passando... passando...
sutilmente já responde!
34
Pés na calçada da fama;
mãos abanando fortuna...
porém sua alma reclama
na solidão que importuna!
35
Procurei felicidade
todos momentos da vida.
Encontrei-a na humildade:
estava em mim... escondida!
36
Procurei na vida um jeito
de viver que me incentiva:
– no jardim, amor-perfeito;
– na esperança a sempre-viva!
37
Quando o céu desaparece
o espírito em desarranjos
para encontrar-se na prece
precisa de muitos anjos!
38
Quando se enxerga o inimigo
o embate é menos atroz,
pois ele é maior perigo
estando dentro de nós.
39
Quantas pedras removidas
e quantas por remover.
Provações em nossas vidas,
que só nos fazem crescer!
40
São os cuidados dos pais
que molduram nossa vida.
Laços eternos jamais
se perdem na despedida.
41
Saudade em versos e prosas...
cantiga mais entoada.
Entre os espinhos e as rosas...
é a solidão perfumada!
42
Se a vitória é consequência
dos degraus da falsidade,
os valores da aparência
jamais provam dignidade!
43
Se cuidarmos bem da fonte
a natureza eterniza
os vislumbres do horizonte
com as promessas da brisa!
44
Sinto a brisa descansar
sua ternura em minha alma
quando a luz do teu olhar
a minha tormenta acalma.
45
Teatral! Muito fagueira
a trova não é pequena:
– representa a peça inteira
em uma única cena!
46
Tépidas mãos conduzindo
mãos carentes e cansadas
mostram o mundo mais lindo
com luzes nas caminhadas.
47
Um pequeno gesto basta;
pode mudar uma vida:
– o instante que a mão se afasta
de outra mão na despedida.

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