quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Maria Lúcia Daloce



1
Ao clamor da liberdade,
tremem os reis e as nações,
porque a força da verdade
tem mais força que os canhões!
2
À velha, o doutor confessa:
- Um susto ser-lhe-á fatal!
E o genro mais que depressa,
põe fantasmas... no quintal !
3
Com calma, plantai os grãos
e deixai-os florescer,
mesmo sendo, de outras mãos,
a ventura de colher!…
4
Com dois cálices de vinho,
na ilusão de “alguém” comigo,
bebo os dois, mas um restinho
finjo que é seu… e prossigo!
5
Contra as mágoas, a resposta
é que enxugues os teus prantos...
Sempre existe outra proposta
e com ela outros encantos!
6
Correndo de lá pra cá...
salário sempre apertado,
professor, no Paraná,
é “maior” abandonado!!!
7
De ilusões eu fui vivendo...
e a esperança, disfarçada,
via os meus sonhos morrendo,
mas nunca me disse nada!
8
Desconfiado o Godofredo
assim dizia, ouve bem:
- Quem sabe guardar segredo
não conta o seu pra ninguém!
9
De ser adulta, crescer,
quanta pressa eu tinha outrora...
Mas hoje ao envelhecer,
imploro ao tempo: - Demora!
10
Deus é um mistério, porém
os puros de coração,
entendem Deus, muito bem,
no dialeto da oração !
11
Diz o doutor, chateado,
que a pobre sogra morreu.
E o genro, todo animado:
- Muito bem, doutor, valeu!
12
Dos meus pais, da mocidade,
do café no terreirão,
guardo os fardos da saudade
nas tulhas ... do coração!
13
Em meus rascunhos guardados,
não há mistérios… Porque
nos versos que são lavrados
o tema é sempre… você!
14
Em tua ausência, a esperança
põe seus véus na realidade,
mas quem vive de lembrança
morre aos poucos… de saudade!
15
Entre os homens é preciso
plantar sementes de amor...
Para nascer um sorriso,
ao invés de tanta dor…
16
Entre os véus da noite, imerso,     
insone  em meu travesseiro,
escrevo  apenas um verso
e  a saudade... um livro inteiro!
17
Era Natal - eu me lembro!
nosso pinheiro enfeitado...
Hoje a saudade em dezembro,
põe enfeites... no passado!
18
Eu só queria "este emprego"...
e a idéia me entusiasma;
ter o salário e o sossego
de um funcionário... fantasma!
19
Foi numa briga acirrada
que se deu mal o grandão:
não foi na orelha... a dentada,
seu oponente era anão!
20
Foi um susto no velório
quando alguém gritou: - tá viva!
E o genro, em tom vexatório:
- Mas que velha vingativa!
21
Galgar os degraus da vida
requer audácia, demora.
Mas é enfrentando a subida
que o caráter se aprimora!
22
Imortal não sou agora,
mas eu tenho uma alegria:
– Sou poeta e ao “ir-me embora”…
deixo um rastro de poesia!
23
Jovem, se você me ouvisse,
daria aos velhos bom trato...
por entender que a velhice
é o seu futuro retrato!
24
Lá na roça em que eu trabalho,
passarinho um susto evita:
fiz da sogra um espantalho...
e a roça é sempre bonita!
25
Lavrador, por tuas mãos,
que Deus dotou de magia,
faz-se o milagre dos grãos,
dando o pão de cada dia!
26
Lavrador, são tuas mãos
que, em celeiros colossais,
deixam nas pilhas de grãos
as impressões…digitais!
27
Mesmo à distância, em teus braços,
minha saudade tem fim,
porque o amor, vencendo espaços,
faz a viagem... por mim!
28
Meu amor foi a semente,
nas covas de uma ilusão...
E floresceram, somente,
searas de ingratidão!…
29
Meu amor foi rua imensa...
onde o tempo fez, depois,
com a tua indiferença,
um abismo... entre nós dois!
30
Minha sogra é jararaca
e ao fingir que é minha amiga,
desafia e mostra a faca:
"Meu genro não é de briga!”
31
Minha sogra é uma eremita,
mas não sei por que razão
em minha casa é visita
de mala, cuia e colchão!!!
32
Minha vida hoje é um legado
de sonhos, renúncia... enfim,
por eu ter acreditado
mais nos outros... do que em mim!
33
Na altivez deste meu porte,
de rainha em pedestal...
existe a mulher que é forte
e a outra... que é de cristal!
34
Não fui covarde, lutei,
e o tempo deu-me as respostas:
- não fui eu que fracassei,
foi quem me virou as costas!
35
Não pares, se um vendaval
insiste em seguir teus passos;
quem faz sucesso é um cristal
que a inveja quer... em pedaços!
36
Não sendo o corpo imortal,
que não morra a boa ação:
Doar um órgão vital,
mais que amor... é salvação!
37
- Não tem cura a minha sogra?
Diz o genro a fazer planos...
E o doutor, zombando, logra:
- Ela aguenta mais cem anos!
38
Na pesca do Pantanal,
minha sogra foi também...
No escuro e não foi por mal,
aos jacarés fiz um bem!
39
Naquela mesa de bar,
nem nos tocamos, por medo...
Mas o amor em nosso olhar
era maior... que o segredo!
40
Nas mais árduas empreitadas,
sou feita de luz e raça;
porque à fúria das pedradas,
não temo em ser a vidraça!
41
Nesta viagem que é a vida,
o destino é o timoneiro,
mas a ilusão nos convida
a traçar outro roteiro!
42
No bilhete premiado
minha sorte deu azar:
- Vi meu prêmio confirmado,
mas me esqueci de jogar!!!
43
No meu velho travesseiro,
com as nossas iniciais,
teu amor breve e fagueiro
bordou lembranças... demais!
44
No ocaso da natureza,
com raridades infindas,
dos casulos sem beleza…
voam borboletas lindas!
45
Num sufoco, a seleção
prova a união do brasileiro:
se um deles tem convulsão,
treme e baba o time inteiro!
46
O doutor que faz serão
à noite e a semana inteira...
deve estar vendo a pressão
nos braços... é da enfermeira!
47
Olhar no espelho é magia
quando o rosto, envelhecido,
reflete com alegria
um jovem ... nele escondido!
48
O pau d’água não deu sorte
ao pedir “as saideiras’...
O garçom, um homem forte,
saiu com ele às carreiras!
49
Os meus natais de criança,
hoje eu sei, tinham magia.
Tios, pais, avós, festança...
tinham tudo e eu não sabia!
50
Quando há inverno maltratando
braços nus, sem cobertores,
peço a Deus um frio brando,
primavera, sol e flores!
51
Quem repara e só fuxica
certamente se esqueceu
de arrancar a "tiririca",
que na lingua floresceu…
52
Quem sofre uma desventura
não pode deixar de crer
que, após uma noite escura,
brilha a luz do alvorecer!
53
Saudade, esperança morta,
que ao coração não dá trelas...
Se a gente lhe fecha a porta,
ela arrebenta as janelas!
54
Se estou no rol dos profanos,
que muitos chamam de ateus,
a culpa é dos desenganos
profanando os sonhos meus!
55
Sem carícias, fui vivendo,
achando que estava certo.
E soa poucos fui percebendo,
a solidão bem de perto.
56
Sem os teus beijos e abraços,
sob a luz da solidão...
a saudade faz os traços
da tua sombra... em meu chão!
57
Sempre é triste a despedida
não importa em que linguagem,
mas bem pior que a partida
é não voltar... da viagem!
58
Sem presente e muito pobre,
a criança defendeu:
- Papai Noel é tão nobre...
Não foi desprezo, esqueceu!
59
Sempre voltas... E eu, magoada,
querendo dizer-te não,
enfeito a porta da entrada
com as flores... do perdão!
60
Sem teu amor e carinho,
brindo à ausência da ilusão…
neste cálice de vinho
com sabor… de solidão!
61
Se perder no jogo é azar,
sorte no amor é mancada...
Ao agarrar o meu par,
minha “dama’ era uma “espada’
62
Sogra invejosa é notório,
mas a do Zé não perdoa:
- Por pirraça, no velório
da “amiga”, foi de coroa!
63
Somando as horas de espera,
à falta dos teus agrados,
meus dias de primavera
são invernos ... prolongados!
64
Tiririca - erva danada,
que se espalha rapidinho ...
igual fofoca malvada,
espalhada em segredinho …
65
"Tiririca" é uma gentalha
que não tem o que fazer.
E praguejando se espalha
pra tentar aparecer.
66
Triste… a criança dizia
ao colega do orfanato:
– uma família eu queria;
nem que fosse… no retrato!
67
Um menininho de rua,
que uma família queria,
me pediu: - Me empresta a sua?
Nem que seja por um dia!

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