quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Milton Souza



1
A gorducha Dona Benta
quando senta esparramada
deixa a cadeira onde senta
quase um mês descadeirada.
2
Amor, barriga crescida,
passa o tempo, espera tanta...
chega o milagre da vida
que faz a mãe virar santa.
3
Ao vencedor, toda a glória!
Mas festeje com cuidados:
que a euforia da vitória
nunca humilhe os derrotados.
4
A vida é feita de escolhas:
os acertos, festejamos...
O duro é virar as folhas
nas tantas vezes que erramos...
5
Brinquedos lindos aqueles...
Mas a criança, sofrida,
trocaria qualquer deles
por um prato de comida…
6
Com flores ou cicatrizes,
horas duras e horas boas,
a infância forma as raízes
da educação das pessoas.
7
Como gato na água fria
quando vê careca perto,
porco-espinho se arrepia:
pensa no escalpo, por certo.
8
Contigo sempre reparto
este amor que não termina:
é na penumbra do quarto
que o nosso amor se ilumina!
9
Craque que chuta bastante,
seu lugar no time encontra
mas um “chute” de estudante
é, quase sempre, gol contra...
10
De tanto passar calote,
o “salafra” se deu mal:
foi com muita sede ao pote
ao lograr um policial…
11
Dizer adeus foi tolice,
mas este orgulho maldito
só deixou que eu descobrisse
depois que eu já tinha dito!...
12
Enseadas sem saída,
abismos dentro das almas:
no revolto mar da vida
não existem praias calmas.
13
Eu sou frango... e só me ralo:
se escapo de ser canjinha,
quando estou virando galo
sou morto e viro galinha.
14
Foi dura a separação...
E eu sigo nessa ressaca:
no cais do meu coração
somente a saudade atraca…
15
Gatos miam no telhado,
mas ela nunca reclama:
o som abafa o “miado”
do “gato” da sua cama…
16
Grita o galo no terreiro,
demonstrando muita zanga:
"Não sobe no meu poleiro
o frango que solta a franga."
17
Leitor viciado e indefeso:
- sempre um livro em frente a face...
eu seria um grande obeso,
caso a leitura engordasse...
18
Licor de Deus, sem mistura,
sem cores artificiais,
segue a água a brotar pura
para dar vida aos mortais.
19
Mais fortes... mais apagadas...
ora sumindo ou voltando,
as lembranças são pegadas
que o destino vai deixando.
20
Meu caminho é o teu caminho!
Se a morte nos separar,
quem chegar no céu sozinho,
chora até o outro chegar.
21
Meu sofrido coração
não guarda mágoa ou rancor:
é uma usina de perdão
que opera a todo vapor.
22
Meus sonhos não são modelos;
alguns me fazem chorar...
Mas não tenho pesadelos:
pesadelo é não sonhar!...
23
Morreu de tanto fumar,
e pra limpar seu pulmão
tiveram que colocar
três chaminés no caixão!
24
Não se queixa o pobre Zé,
ganha a vida sem mutreta:
limpador de chaminé,
só ri vendo a coisa preta.
25
No amor, deixe o leme solto:
o vento indica aonde vais...
No amor – sempre – o mar revolto
é mais seguro que o cais…
26
Num fogo constrangedor,
ele brinca com a desgraça:
“Garçom, me passa o extintor...
e empina a nova cachaça…
27
O amante, quando flagrado
pelo marido, extasia:
fica mais arrepiado
do que gato na água fria.
28
O amor que nos impulsiona
torna fácil o impossível:
nenhuma usina funciona
quando falta combustível!
29
O farol do amor é o marco
que orienta a alma perdida:
Cristo é o cais que acolhe o barco
que vaga no mar da vida.
30
O mar da vida não muda,
pouco adianta lamentar:
quando o vento não te ajuda,
usa as mãos para remar.
31
O marujo, em alto mar,
faz motim, reclama e xinga:
“Comida pode faltar,
mas não pode faltar pinga!!!”
32
O pai é sempre o primeiro
se o filho está precisando.
Quem tem um pai verdadeiro,
tem sempre exemplos sobrando.
33
Os netinhos são fregueses
de amores ilimitados:
avós são pais duas vezes,
porém, mais açucarados...
34
O velho cais destruído
pelo mar aterrador
ficou muito parecido
com nosso sonho de amor...
35
O vovô namorador
não aguenta a menininha:
- Eu tenho sede de amor,
mas a fonte está sequinha…
36
Para quem faz o que pode,
busca o rumo, insiste e tenta,
a felicidade explode
e até corrente rebenta...
37
Passa o tempo, passa a vida,
mas fica, em qualquer idade,
uma criança escondida
dentro de cada saudade...
38
Por mais que a gente se zangue,
mande embora sem escolta,
mulher chata é bumerangue:
faz a curva e sempre volta...
39
Qual licor adocicado
que embriaga devagar,
teu beijo me tem deixado
tonto e louco por te amar.
40
Quando qualquer luz se acende
faz a vida ressurgir.
A própria sombra depende
de uma luz para existir.
41
Quando a nuvem da má sorte
cobre de sombras teu mar,
a esperança é o vento forte
que faz o tempo mudar.
42
Quando no embalo do amor
almas inventam desejos,
duas taças de licor
dão novo sabor aos beijos.
43
Quando nosso amor espelha
o que o desejo revela,
a lua fica vermelha
só de espiar na janela...
44
Quando o altar vira mercado
que busca lucros ou votos,
sempre há um Deus falsificado
para enganar os devotos.
45
Quando o mar da vida, escuro,
sufoca a esperança viva,
Deus é sempre o cais seguro
para quem vive à deriva.
46
Quando qualquer luz se acende
faz a vida ressurgir.
A própria sombra depende
de uma luz para existir.
47
Quando um filho perde a trilha
perseguindo falsos brilhos,
toda a vida da família,
geralmente, sai dos trilhos.
48
Quem faz guerra soma os custos
e um dado sempre atrapalha:
quem paga o sangue dos justos
mortos em cada batalha?
49
Sempre que trepida o amor,
brotam gemidos sem fim.
Se gemido fosse flor
motel seria jardim.
50
Se não fosse a fantasia
que o sonho pinta na mente,
muita gente morreria
sem nem saber que foi gente...
51
Se nem sei se circo existe,
se chorar é o que mais faço,
por que é que o destino insiste
em me fazer de palhaço?
52
Tem tanto fogo a menina
que seu mergulho estupendo
deixa a água da piscina
completamente fervendo.
53
Todas as fontes secaram:
deserto em volta de mim...
Meus sonhos todos murcharam,
vivo na espera do fim...

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