1
A amizade não quer palmas
por ajudar seus irmãos.
Deus olha o fundo das almas
e nunca a palma das mãos.
2
Abro a janela bem cedo
e ouço músicas bizarras...
- São as vozes do arvoredo,
no coro de mil cigarras...
3
Ah! Quantos vão pelo mundo,
sem calor, de alma abatida,
fugindo a cada segundo
da própria sombra da vida!
4
Amigos só de lorota,
há na terra em profusão!
- Mas os bons a gente nota
num só aperto de mão...
5
Andei as trancos na vida
como humilde peregrino:
– Cheguei ao fim da subida
sem chegar ao meu destino!
6
A própria infância também,
é do Passado uma voz:
- Saudade, às vezes, de alguém
que vive dentro de nós…
7
A trova simples, sonora,
parece flor do sertão!
A gente fácil decora,
mas quem sente é o coração.
8
Cabelos brancos ao vento.
Saudade feita de neve!
Mil fibras de sentimento
dizendo a tudo: – Até breve!…
9
Carro de bois do sertão,
acordando as madrugadas,
a ouvir-te a triste canção,
ouço o choro das estradas...
10
Carta de afeto relida,
de quem nos quis muito bem,
traz um pedaço de vida,
na saudade que contém.
11
Castro Alves o teu vulto
já pertende à Eternidade:
- A Justiça foi teu culto!
- Foi teu Credo a LIBERDADE!
12
Com seu azul tão profundo
O céu de beleza imensa,
Parece mostrar ao mundo
De Deus a eterna presença.
13
Dá a todos teu abraço,
e não viverás à toa!
– Cada amigo é um pedaço
da nossa própria pessoa!
14
Definir foi sempre em vão,
da saudade o seu por quê…
Mas, se vem do coração,
saudade, enfim, é você…
15
Do sonho sou vagabundo,
trilhando rumos diversos…
Não tendo nada no mundo,
o mundo abraço nos versos.
16
Duas almas bem unidas
ninguém separa jamais.
Às vezes, são duas vidas,
que a vida já fez iguais!
17
Em qualquer templo que seja,
sorri a noiva em seu véu...
- De flores, cobre-se a igreja!
- De sonhos, veste-se o Céu!
18
Fui pela vida cantando
cantigas de alacridade...
- Agora, vejo, chorando,
que a própria vida é saudade!
19
Há sempre um dia cinzento
vivendo dentro de nós...
- Reticências de um lamento...
- Tristeza que não tem voz!
20
Mesmo com truques velados,
tinha a mocinha de outrora
mais tolerantes pecados
e menos pernas de fora...
21
Muita lágrima sentida,
em silêncio sei que enxugas…
São reticências da vida
pelos caminhos das rugas.
22
Não choro, na solidão,
a vida que vai passando,
choro, apenas, com razão,
o que a vida vai matando!...
23
Não te julgues o primeiro,
nem que sejas um portento:
quanto mais alto o coqueiro,
mais fácil se verga ao vento!
24
Na vida o nosso papel
é tal qual o pirulito:
- Quando a língua chega ao mel,
o dente trinca o palito...
25
Nesta cabana esquecida,
e sem você, quem sou eu?…
Um resto, talvez, de vida
que a própria vida esqueceu!…
26
Ninguém altera jamais,
nossos caminhos terrenos:
- Alguns têm tudo demais!
- Outros têm tudo de menos!
27
Ninguém por certo é perfeito
numa total plenitude.
- Quem conhece o seu defeito
já tem alguma virtude.
28
O lar é viga, cimento,
a modelar gerações!
- Cartilha do sentimento,
feita de mil corações!
29
Palhaço, visão querida,
dos meus tempos de criança...
velha saudade escondida,
no meu baú de lembrança!
30
Quando alguém foge à virtude
e pisa as rosas do Amor,
passa a ser espinho rude,
já que não soube ser flor!
31
Quem sonha é sempre criança,
na vida não tem idade…
Vive tecendo esperança!
Vive juntando saudade!
32
Tal qual arisca serpente,
a mulata, quando passa,
mexe com tudo da gente,
belisca o sangue da raça...
33
Um grande amor não se esquece!
Nada no mundo o destrói!...
Quanto mais longe, mais cresce!
Quanto mais perto, mais dói!
34
Velho mar, soturno e rude,
entre nós – que afinidade:
gemendo a mesma inquietude,
chorando a mesma saudade...
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