* Na época não era obrigatório rimar o 1. com o 3. verso, somente foi normalizada esta obrigatoriedade com a fundação da União Brasileira de Trovadores, em 1966.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = A minha alma está. vazia,
alegre e gentil Princesa!
— Vem casar tua alegria
à minha grande tristeza!…
= = = = = = = = = = =
As vidas têm — mesmo aquelas
mais felizes e serenas —
ondas de tédio tão grandes,
e alegrias tão pequenas!...
= = = = = = = = = = =
Até a dor eu bendigo!
E declaro, francamente:
— Foi tanto afeto de amigo
que valeu ficar doente!
= = = = = = = = = = =
Carregando só desgosto,
tristeza e desilusão,
o meu Natal tem o gosto
de uma noite de Paixão...
= = = = = = = = = = =
Deves ter uma só alma,
em qualquer ocasião…
Sê sincero, embora sofras!
Traze puro o coração!
= = = = = = = = = = =
É bem cruel esta dor
que me acabrunha., espezinha.
— saber que é meu teu amor,
mas, que nunca serás minha…
= = = = = = = = = = =
E chegam depressa os anos!
E passam assim os dias:
— Milhares de desenganos
e bem poucas alegrias...
= = = = = = = = = = =
... E há no mundo quem reclame
e que sinta a alma vazia,
tendo na vida quem o ame,
tendo o pão de cada dia!...
= = = = = = = = = = =
... E os amigos fui perdendo...
Alguns, repentinamente...
Coração, triste, sofrendo,
levando a Vida pra frente...
= = = = = = = = = = =
Eu, hoje, olhei-me no espelho,
e tive cruel desengano...
— Quantos anos fiquei velho,
no período de um só ano!
= = = = = = = = = = =
Hoje, saudoso, relembro
nosso Passado tão doce...
Foi no Natal... em dezembro.
que o Papai Noel te trouxe…
= = = = = = = = = = =
Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
— Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos...
= = = = = = = = = = =
Não paras quase ao meu lado...
E em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida…
= = = = = = = = = = =
Olhando o mar, penso em Deus.
E também, não sei porque,
no céu pondo os olhos meus,
eu me lembro de você...
= = = = = = = = = = =
Os dias dos namorados
são singelos e risonhos!
Os dedos entrelaçados
e entrelaçados os sonhos!...
= = = = = = = = = = =
Para o triste, Deus concede
— na sua grande clemência —
o consolo da Saudade
— Nossa Senhora da Ausência…
= = = = = = = = = = =
"Perder tempo" — contingência
que o Homem traz aturdido,
sem saber que na existência
o melhor tempo é o perdido...
= = = = = = = = = = =
Primeiro amor… doce encanto.
— Feliz página da vida
que, raramente, entretanto,
pode um dia ser relida...
= = = = = = = = = = =
Se aos filhos tu podes dar
tua vida como exemplo,
não terás somente um lar,
mas, sim, um sagrado templo!
= = = = = = = = = = =
Saudade... Quando partiste,
nunca pensei que assim fosse!
— Não há tristeza mais triste,
nem há palavra mais doce!...
= = = = = = = = = = =
Teríamos a alma em paz,
lembrando a todo momento,
que, às vezes, sofremos mais
na espera do sofrimento!...
= = = = = = = = = = =
Tu ficaste bem zangada!
Não sei a razão, contudo...
Tudo, talvez, por um nada...
E às vezes, um nada é tudo...
= = = = = = = = = = =
Um dia é que eu percebi
o que há muito aconteceu;
o maior bem, que eu perdi,
foi a fé que já morreu!
= = = = = = = = = = =
Um mês assim tão risonho,
eu juro: nunca vivi!
— Uns dias cheios de sonho..
Uns sonhos cheios de ti...
Fonte:
Luiz Otávio. Cantigas dos sonhos perdidos. Coleção Trovas e Trovadores, organizada por Aparício Fernandes e Zalkind Piatigorky. RJ: Livraria Freitas Bastos, 1964.
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