sexta-feira, 16 de julho de 2021

Professor Garcia (Jardim de Trovas) - 1 -

 

Amor! Quem no amor se esmera
faz da existência sofrida,
um riso de primavera
e esquece as mágoas da vida!
= = = = = = = = = = =
 
Ante os seus atos incertos,
Pilatos, viu ante a cruz...
Jesus, de braços abertos,
enchendo o mundo de luz!
= = = = = = = = = = =
 
Ao longe, escuto o cicio
de um canto triste e plangente;
é a voz cansada de um rio
chorando as dores que sente!
= = = = = = = = = = =
 
A saudade se resume
no sisudo ritual,
desse silêncio sem lume
da solidão outonal!
= = = = = = = = = = =
 
De volta à igrejinha antiga,
vi minha infância tão bela...
Cantando a ancestral cantiga
no altar da mesma capela!
= = = = = = = = = = =
 
Dou meu conselho ao mais velho
num breve e simples resumo:
Segue a estrela do evangelho
que a luz da treva é sem rumo!
= = = = = = = = = = =
 
Enquanto a lua se arruma
abre a janela e se alteia...
A onda escreve de espuma
hieróglifos na areia!
= = = = = = = = = = =
 
Eu começo a perceber
que a saudade se completa,
nas horas do entardecer
do coração de um poeta!
= = = = = = = = = = =
 
Eu guardo os sons e os afetos,
com os quais, mamãe me embalava;
e hoje, eu embalo os meus netos
com as canções que ela cantava!
= = = = = = = = = = =
 
Mãe! O amor com que me aqueces,
e acende a luz que me guia,
se eu fosse pagá-lo em preces
seriam cem mil por dia!
= = = = = = = = = = =
 
Mãe - três letrinhas, só três,
e em qualquer outro alfabeto,
gênio nenhum, nunca fez
palavra com tanto afeto!
= = = = = = = = = = =
 
Meus versos, entre os aflitos,
se escondem da lua cheia;
porque versos mais bonitos
a espuma escreve na areia!
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Na infância, a gente nem sente,
quanto o tempo nos desgasta;
mas como desgasta a gente,
depois que a infância se afasta!
= = = = = = = = = = =
 
Na infância, essa tez bonita!
Na velhice, não há fuga;
nem se escondendo, se evita
a mão da primeira ruga!
= = = = = = = = = = =
 
Não precisa pressa alguma,
para a vida mais ditosa;
o sol, sem pressa nenhuma,
pinta a tarde cor de rosa!
= = = = = = = = = = =
 
Num ranchinho abandonado,
no insensível desengano,
vive um sonho do passado
na bonequinha de pano!
= = = = = = = = = = =
 
O rio, arrastando o entulho,
sem reclamar do que sente,
mostra a violência do orgulho
que entulha o peito da gente!
= = = = = = = = = = =
 
Ó, sonho de amor de outrora,
te procuro tanto em vão,
que nem sei mais por quem chora
esse velho coração!
= = = = = = = = = = =
 
Parte a jangada!... E, ante a bruma,
entrega os sonhos plebeus,
aos braços do mar de espuma
e aos remos das mãos de Deus!
= = = = = = = = = = =
 
Por mais que não me respondas,
te pergunto, ó velho mar:
– Se não pões almas nas ondas,
quem faz a onda chorar?
= = = = = = = = = = =
 
Prendi meus olhos, naqueles
olhos verdes, tão risonhos;
nem pensei que o riso deles
fosse a prisão dos meus sonhos!
= = = = = = = = = = =
 
Quando a jangada se lança
aos sopros dos vendavais,
enfrenta o mar, na esperança,
de sempre voltar ao cais!
= = = = = = = = = = =
 
Quem luta e crê não se cansa,
por mais que a vida se oponha;
que a crença, é a própria esperança
da paciência de quem sonha!
= = = = = = = = = = =
 
Se a velhice nos impede
dos sonhos da mocidade...
Essa distância se mede
pelos passos da saudade!
= = = = = = = = = = =
 
Sinto em velhas madrugadas,
que entre nós dois sempre a sós,
conversamos de mãos dadas
e há solidão entre nós!
= = = = = = = = = = =
 
Só depois que o sol desmaia,
deixando o céu mais aflito,
a orquestra da tarde ensaia
seus arranjos no infinito!
= = = = = = = = = = =
 
Tempo, por que me envelheces,..
Não vês que a melancolia
é a mais sofrida das preces
que se reza ao fim do dia?!...
= = = = = = = = = = =
 
Velhos sonhos andarilhos!...
Hoje, cercados de afetos...
Vivem presos aos meus filhos
e aos carinhos de meus netos!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

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