sexta-feira, 28 de maio de 2021

Sady Maurente (1928 - 2004)


Adoeci... e nos teus olhos
grande dor eu pude ver.
Para ver a tua dor,
valeu a pena adoecer…

A fortuna sempre traça
este conceito, isto exprime:
sendo folgada, embaraça;
sendo estreita, nos oprime.

Ao ler as trovas bem feitas
tu sempre algumas me aprontas,
é que as trovas são perfeitas
estrelas de quatro pontas.

Ao notar o bisturi
na mão do médico, o doente
saiu correndo dali
e... salvou-se, finalmente...

As mulheres são fingidas,
são falsas, são tagarelas,
mas triste seria a vida
sem esses defeitos delas.

Às vezes fico a pensar
e não posso compreender:
antes de ter teu carinho,
como é que pude viver?

Às vezes fico bem triste,
pensando em lados contrários,
que a felicidade existe
somente nos dicionários.

Casamento, na verdade,
só por ter um documento
não transmite propriedade,
nem garante sentimento.

Casamento por amor,
mas por amor verdadeiro,
eu defendo com ardor,
se é por amor...ao dinheiro.

Do amor de mãe me socorro
pra dar-te ideia de um fato:
pela minha mãe eu morro,
por ti, minha amada, eu mato.

Este epitáfio curioso,
eu li um dia, entrementes:
“era um médico zeloso,
foi juntar-se aos seus clientes”...

Eu não posso compreender
essa gente de alma fria,
ter coragem de dizer
que não gosta de poesia!

Eu te amava tanto, tanto...
Foste ingrata, injusta, errada!
E agora me causa espanto,
te vejo, não sinto nada.

Fazes que não me conheces
e esse esforço se adivinha:
Não esqueço, nem esqueces,
de que um dia foste minha.

Gostaria de ser forte,
na força do meu talento,
para que ao sumir na morte,
não suma no esquecimento.

Muitos conceitos supremos
em simples quadrinhas cabem,
muitas coisas aprendemos
com aqueles que nada sabem.

Não há no mundo delícia
que se compare com a minha,
quando, com calma e perícia,
eu componho uma quadrinha.

Nas mulheres certas coisas
são das sortes inconstantes:
umas nascem para esposas,
outras nascem para amantes.

O que Catulo dizia
eu torno aqui a dizer:
- Sem o ideal da Poesia
como é triste envelhecer.

O teu amor, reconheço,
vale tanto para mim,
que teve um breve começo
mas jamais terá um fim.

Qual o fogo que consome
o papel, e as cinzas deixa,
deste amor ficou teu nome
como a derradeira queixa!

Qual o poeta de verdade?
É fácil tirar a prova,
é o que põe felicidade
nos quatro versos da trova.

Que ando de amores contigo
dizem aí na cidade;
e eu guardo a mágoa comigo
de não ser isso verdade…

Quero ser crucificado
bem como morreu Jesus,
seja amor o meu pecado,
sejam teus braços a cruz.

Se a lei punisse a pessoa
que com má fé a outra logra,
puniria, com certeza,
a quem nos desse uma...sogra!...

Tenha em mente isto primeiro,
antes de dares teu préstimo:
não te cases por dinheiro,
custa menos um empréstimo...

Tenho visto vícios feios
mas, dos piores na vida,
é aquele que se resume
na garrafa de bebida.

Tua foto com recato,
conservo-a e com devoção,
pois ela é o mesmo retrato
que tenho no coração.

HOMENAGEM AOS MESTRES TROVADORES:

Se é JOSE e se é GUILHERME,
se é ARAÚJO e se é JORGE,
eu digo sem exceder-me,
que é mestre em tudo o que forge!

R. ESTRELA, que é na trova,
um mestre na arte serena,
é professor, eis a prova;
é o FRANCISCO JURUENA.

Por mais que o meu estro cave-o,
me sai um verso infantil:
eis o grande LUIZ OTÁVIO,
Rei da trova, no Brasil.

CAROLINA, por teus versos,
na homenagem verdadeira,
deponho aos teus pés, dispersos
estes RAMOS DE OLIVEIRA!

Fontes:
União Brasileira de Trovadores – Seção Porto Alegre. Olga Maria Dias Ferreira e Sady Maurente. Coleção Terra e Céu vol. XCII. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2016.

Aparício Fernandes. Trovadores do Brasil, vol.3. RJ: Minerva, 1969.

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