domingo, 16 de maio de 2021

Álvares de Azevedo (1831 - 1852)


Acorda, minha donzela!
Foi-se a lua — eis a manhã.
E nos céus da primavera
a aurora é tua irmã!
- - - - - –

Acorda, minha donzela,
soltemos da infância o véu...
Se nós morrermos num beijo,
acordaremos no céu!
- - - - - –

Amemos! Quero de amor
viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
que desmaia de paixão!
- - - - - –

Amo a voz da tempestade
porque agita o coração,
e o espírito inflamado
abre as asas no trovão!
- - - - - –

Dá-me um beijo — abre teus olhos,
por entre esse úmido véu:
Se na terra és minha amante,
és a minha alma no céu!
- - - - - –

Descansar nesses teus braços
fora angélica ventura:
Fora morrer — nos teus lábios,
aspirar alma tão pura!
- - - - - –

É doce amar como os anjos
da ventura no himeneu;
minha noiva ou minha amante,
vem dormir no peito meu!
- - - - - –

Entre os suspiros do vento,
da noite ao mole frescor,
quero viver um momento,
morrer contigo de amor!
- - - - - –

Quero viver de esperança,
quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança,
quero sonhar e dormir!...
- - - - - –

Tenho músicas ardentes,
ais do meu amor insano,
que palpitam mais dormentes
do que os sons do teu piano!


Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Trovadores do Brasil. 2. Volume. RJ: Ed. Minerva,

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