1
A deturpação dos fatos
é tão comum entre a gente,
que a corrente de boatos
passou a ser voz corrente!
2
Anote e depois confira,
visando seu próprio bem:
meia-verdade é mentira,
verdade-e-meia também!
3
Ao despedir-me de ti,
sujeito a carências novas,
compenso a paz que eu perdi,
buscando alento nas trovas!
4
Ao homem muito ciumento
há um dilema que aperreia:
ou esquece o casamento,
ou casa com mulher feia!
5
A saudade é uma corrente!
Só agora percebi,
livre de ti, finalmente,
e, afinal, mais preso a ti!...
6
Casamento de verdade,
pouca gente ainda procura:
querem ter a propriedade
sem pagar pela escritura!
7
Como trabalha o rapaz!
Mas não invejo esse estilo:
- na cama, tudo o que faz
é só tirar um cochilo…
8
Da chuva não corro mais!
Não pago esse mico, ó gente:
correr dos pingos de trás
pra me molhar nos da frente?
9
Deixaste a casa vazia,
mas há um retrato na sala;
e é dessa fotografia
que o teu silêncio me fala!
10
Deus construiu, no horizonte,
onde ninguém pode ver,
uma belíssima ponte
que a gente cruza... ao morrer.
11
Dúvida é sempre clareza!
E aqui vai a explicação:
- quem duvida tem certeza
de que está em confusão!
12
Essa azul coloração
das araras a voar
coloriu meu coração
e não sei como apagar!...
13
Há um piano na cabana
que espera, de tampo aberto,
expor, à perícia humana,
seu recital encoberto!
14
Meu consolo, na tristeza,
quando, no peito, a agasalho,
é o pranto da natureza,
nas gotas tristes do orvalho.
15
Minha máscara de austero,
que eu usei com tanto gosto,
sabe o quanto eu não a quero,
mas passou a ser meu rosto!
16
Namorar em rua clara?
Nunca fiz essa loucura!
Quem tem vergonha na cara
só namora em rua escura.
17
Numa euforia tremenda,
além de qualquer limite,
ouvi o riso da agenda
ao registrar teu convite!
18
Nunca consigo a proeza
de uma bola no buraco!
Será defeito da mesa
ou defeito do meu taco?
19
O comilão não se esquenta
na fila pra ver seu peso:
ou diz que a balança aumenta,
ou fica atrás de um obeso...
20
O meu prêmio, ao fim do dia,
é um sorriso na janela
de onde os lábios da alegria
beijam os meus, antes dela!
21
Quando vovó faz faxina,
vovô teme o seu capricho,
pois ela tudo examina:
Não tem uso? Vai pro lixo!
22
Quem entra ali pra jogar
ingressa um tanto cabreiro...
Há uma placa no lugar:
“Buraco? Só a dinheiro!”
23
Se, aos gritos, me manifesto,
já perdi a discussão,
pois quem grita num protesto
já mostra não ter razão!
24
Se há barragens no percurso,
aprende a lição do rio
que, em paz, retoma o seu curso
após saudável desvio!
25
Só agora eu percebi
a ganância do coveiro:
tem buraco por aí
que é uma mina de dinheiro!
26
Sobre as águas refletidos,
nuvens...matas...céu de anil...
tudo evoca aos meus sentidos
a bandeira do Brasil!
27
Sou velho metido a moço
e ainda levo à loucura!
Se me diz: 'morda o pescoço!",
cravo nela a dentadura!
28
Surpreso por teu aceno,
com timidez e apetite,
eu, tolo, me achei pequeno
para aceitar teu convite!
29
Traz a injustiça a discórdia,
mas a justiça me assusta:
À luz da misericórdia,
nunca vi justiça justa!
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