segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Hermoclydes S. Franco (1929 - 2012)



1
A bengala cor da paz,
que o homem cego conduz,
tem um mistério que faz
o som transformar-se em luz!
2
Abraça o tempo que corre,
na rapidez em que avança,
que um bom momento não morre,
acaba sempre em lembrança!
3
A emoção é bailarina,
num palco azul de ilusões...
Se Deus a fez feminina,
tinha lá Suas razões.
4
A fraqueza é um artifício
que leva alguém, sem escalas,
a abrir as portas do vício
e não saber mais fechá-las!...
5
A inspiração é uma fada,
com varinha de condão...
Quando toca a musa, amada,
há poesia em profusão!...
6
Ante a maçã do pecado
na dúvida, vou sofrendo:
- Se como... sou castigado;
se não como... me arrependo!
7
A sereia que amanhece
lá na praia, solitária,
faz lembrar, ao que parece,
nossa musa imaginária!...
8
Às vezes, troféus de glória
e incensos de aduladores
podem fazer da vitória
o ocaso dos vencedores!...
9
A verdade que redime
não viveria de luto
se a mentira fosse crime,
e, enfim, pagasse tributo!…
10
A vida é a fada-madrinha
que, ao ver nosso intenso flerte,
deu-me, em toque de varinha,
o prazer de conhecer-te!
11
A vida é dura batalha
que não aceita um "talvez"
e nem outorga medalha
aos filhos da timidez!
12
"Cantar na Chuva" eu quisera
aquela canção bonita
que em performance sincera
Gene Kelly nos incita!..."
13
Carregado de esperanças
e atropelando a saudade,
lá vai meu “trem de lembranças”
buscando a felicidade!...
14
Cigano de olheiras fundas,
pele morena, crestada,
quantas tristezas profundas
já deixaste pela estrada?
15
Com efeitos especiais,
meus sonhos mostram, em tela,
os teus encantos reais
na mais bonita aquarela!...
16
Com talhadeira e martelo,
finas madeiras entalho...
E esse trabalho é tão belo
que já nem sei se é trabalho!...
17
Das emoções a mais grata,
que vale por um tesouro,
é ver coroada em prata
trajetória escrita em ouro!...
18
Deixaste, pai, um vazio
que nem preciso explicar
pois que foste sempre um rio
correndo para o meu mar!…
19
De Noel Rosa a lembrança
sempre traz grande emoção:
– Saudade que vive mansa,
com “Feitio de Oração”!... 
20
De subidas e descidas
a vida, esse desencontro,
nos faz viver várias vidas
na emoção de cada encontro.
21
Dizem que todo baixinho
tem mania de grandeza...
Por isso é que o meu vizinho
só chama a mulher... de “alteza”!…
22
Em busca do bom Santiago
caminho, enfrento a neblina,
e me sinto, assim, bem pago
em minha fé peregrina!...
23
Em privação de sentidos,
em teus braços perfumados,
donhei sonhos não vividos...
Vivi sonhos não sonhados...
34
Era uma vez... A saudade
da meiga MÃE que ensinava,
na minha infância, a verdade
nas histórias que contava!…
35
Eterno dominador,
eu me curvo ao teu fascínio.
E, em vez de ser teu senhor,
entrego-me ao teu domínio!...
36
Eu, no rumo das gaivotas
no mar rendado de espumas,
dentre centenas de rotas,
busco o roteiro em que rumas…
37
Foi a escolha mais amarga
que entristeceu os meus feitos,
pondo a saudade tão larga
nos meus ombros tão estreitos...
38
Galera envolta em espumas,
navega a lua, no céu,
num mar de nuvens e brumas,
pescando estrelas ao léu!...
39
Lembrando o triste momento
em que, a chorar, foste embora,
Julgo ouvir na voz do vento
minha própria voz que chora...
40
Livro aberto expande a luz...
Quem ama o bom livro, jura
que a leitura é que conduz
aos caminhos da cultura! 
41
Maravilha em resplendor,
onde Deus sempre é louvado,
o RIO guarda o Senhor
no Cristo do Corcovado!
42
Minha MÃE, frases serenas,
seus conselhos e bondades
tornaram bem mais amenas
minhas sofridas saudades!…
43
Minhas mãos, barcos sem velas,
em carinhosos desvelos,
navegam, quais caravelas
na noite dos teus cabelos!
44
Na distância, ao teu aceno,
Quanta tristeza me invade:
- O trem ficando pequeno
E, em mim, crescendo a saudade!...
45
– Na infância risonha e bela,
fui navegante revel,
na fantasia singela 
de um barquinho de papel...
46
Na linda macarronada
que juntos compartilhamos,
houve um "fio-de-meada"
em que, a sorrir, nos beijamos!...
47
Na luta pela conquista
do melhor que a via encerra,
sou um simples pacifista:
“Faço o amor, não faço a guerra”.
48
Não há na História senão
um poder discricionário
que prende quem rouba um pão
e leva um santo ao Calvário!...
49
Não há rosa sem espinhos…
…e na procura da glória,
são as pedras do caminho
que dão valor à vitória.
50
Não há sonho mais bonito
nem mentira mais falaz
do que o amor infinito
que a vida jamais nos traz!
51
Não julgues a alheia sorte
pelo brilho do brasão:
– A luz que brilha mais forte
tem mais curta duração...
52
Não pode haver igualdade,
nem sonhos sobrevividos,
quando morre a liberdade
no grito dos oprimidos...
53
Não pode haver raciocínio
quando a miséria, sem nome, 
invade qualquer domínio
e o domina pela FOME!...
54
Nas mensagens de prazer,
carteiro, nas tarde mansas,
tens o condão de trazer
o renascer de esperanças...
55
Navegantes de Cabral
deram, num sonho febril,
ao pequeno Portugal
a dimensão do Brasil!...
56
Na vida, eterna procura,
buscando a felicidade.
Faltou-me, sempre, em ventura
o que sobrou em saudade! ...
57
Noel, em tarde tranquila,
compondo um samba sutil,
fez o “Feitiço da Vila”
enfeitiçar o Brasil!...
58
No “grande prêmio” da vida,
é vencedor, sem igual,
quem usa o Bem, sem medida,
desde a largada ao final!...
59
No meu sonho, em bela imagem,
neste meu destino incerto,
seu recado foi miragem
e apagou-se em meu deserto!…
60
No pranto em forma de riso,
disfarcei a minha dor...
Mesmo à sombra de um sorriso,
cabe o ocaso de um amor!..
61
Nos meus dias de criança,
nem sempre pude sorrir...
Mas vive, em mim, a esperança
na luz azul do porvir!…
62
Nossas sombras, abraçadas,
sob a luz do luar risonho,
atravessam madrugadas
em busca do mesmo sonho!
63
Nosso romance é um tesouro
de amor, de luz e carinho,
escrito com letras de ouro
em folhas de pergaminho!...  
64
O grau de felicidade
que tenho e me faz risonho,
resulta da minha idade
ter a idade do meu sonho!
65
O meu sonho é folha morta
que a ventania desfaz,
no inverno, que desconforta,
das minhas noites sem paz!...
66
O que dói em meu desgosto,
que me rouba a paz e a calma,
não são as marcas no rosto,
são as cicatrizes na alma!...
67
O tempo é um Deus invisível,
com poderes infinitos,
que ao passar, irreversível,
destrói quimeras e mitos!...
68
Quando as folhagens de outono
atapetam meus caminhos,
o bucolismo dá sono
e eu sonho com teus carinhos!...
69
Quando o horizonte e o infinito
escondem o teu vulto amante,
eu me pergunto num grito:
- Qual dos dois é mais distante?...
70
Quanta gente de talento
passou a vida e não fez
do amor seu grande momento
por causa da timidez...
71
O triste da caminhada,
na longa estrada da vida,
é ver a fome estampada
em tanta gente excluída!
72
Para espantar minha dor,
eu passo a vida a cantar,
sabendo que mal de amor
ninguém consegue espantar...
73
Rendeira, à luz das candeias,
vai vencendo nostalgias,
sentindo que ficam cheias
as suas noites vazias...
74
Respeitados os anéis
quando beijar for proibido
por avisos ou painéis,
o amor estará perdido!...
75
São Paulo, com amizade,
oferece o que preciso,
pois, se estou na Liberdade,
logo ali é o Paraiso!…
76
Sempre acaba a tirania
- entre firmes desagravos –
na força da rebeldia
e na ousadia dos bravos!
77
Sem preconceito ou pudor,
mas de emoções verdadeiras,
grandes momentos de amor
não delimitam fronteiras!...
78

Sigo a vida, noite e dia,
sem rumo... desencontrado...
Eis que a minha biografia
parece letra de fado!...
79
Sofro tanto a tua ausência
e é tão grande o meu cansaço
que o sonho em minha existência
tem vida e não tem espaço...
80
Sou como um velho veleiro,
velas rotas, mastro torto,
que um destino aventureiro
não deixa parar no porto!...
81
Tenho o meu coração preso,
em gaiola singular:
Teus braços onde, surpreso,
aprendi o verbo amar!
82
Tenho um cão chamado THÉO,
grande amigo, inseparável...
Ao meu lado, está no céu
e eu me sinto invulnerável!
83
Terminado o encantamento,
só restou a indiferença
de um calado sofrimento
marcando sempre presença!
84
Teu amor é o suave açoite
que eu desejo, em calmaria:
– Como o dia busca a noite...
Como a noite busca o dia!
85
Trago tantas emoções
nas minhas canções serenas
que, quando canto as canções,
vivo de emoções, apenas!...
86
Tu foste, na minha vida,
tempestade que passou...
Neblina descolorida
que alguma nuvem deixou!...
87
Vacila o meu coração,
na dúvida mais intensa,
entre seguir a razão
ou fazer o que ele pensa...
88
“Vai ver se estou lá na esquina!”
E o gajo diz “é pra já”...
Vai e volta e, então opina:
- Não estás lá... estás cá!...        
89
Versejando à luz difusa,
se o sentimento me inspira,
eu te elejo a doce musa
que há de tanger minha lira!...
90
ALCATRA: Carne de boi;
boa de panela ou tacho.
ALCATRÃO: Se não é, foi
o conhaque do borracho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

José Valdez de Castro Moura (Trovas em Preto & Branco)

  por José Feldman Análise das trovas e relação de suas temáticas com literatos brasileiros e estrangeiros de diversas épocas e suas caracte...